Oposição israelense prepara acordo para afastar Netanyahu do poder
O centrista Lapid e o conservador Bennett decidem selar pacto para uma ampla coalizão
A oposição israelense está disposta a fechar um acordo para formar um Governo de ampla coalizão com o objetivo de afastar do poder o atual primeiro-ministro interino, o direitista Benjamin Netanyahu, de 71 anos, que ocupa o cargo desde 2009. O dirigente opositor Naftali Bennet, um nacionalista conservador, anunciou neste domingo no Knesset (Parlamento) que formará um “Gabinete de unidade nacional” com o líder centrista Yair Lapid, que recebeu o mandato após as eleições de março passado. Para isso, ambos devem selar um pacto entre sete partidos opositores, que vão da direita nacionalista à esquerda pacifista, além de contar com o apoio externo de duas forças políticas árabes.
Se o Gabinete finalmente concretizar o novo Governo de unidade, numa decisão que deve ser adotada antes da meia-noite de quarta-feira, e conseguir pôr fim à era de Netanyahu no comando de Israel, deverá também lidar com a fraqueza intrínseca à sua própria diversidade. A presença de forças até agora abertamente antagônicas, com ideologias antitéticas, obrigará o novo Executivo a desenvolver um programa pragmático e de consenso, centrado na recuperação econômica após a pandemia e na consolidação do cessar-fogo que interrompeu, há apenas 10 dias, a escalada bélica na Faixa de Gaza dos último sete anos.
Para os analistas políticos da imprensa israelense, o acordo não terá longa duração. As questões mais sensíveis, como as negociações de paz com os palestinos e as polêmicas imposições das autoridades religiosas judaicas que pesam sobre a sociedade civil laica, deverão ser forçosamente postergadas.
Ambos rejeitaram categoricamente a oferta de última hora. Gideon Saar, que rompeu há um ano com a disciplina do partido do primeiro-ministro, disse de forma contundente: “Nossa posição não mudou. Vamos pôr fim aos mandatos de Netanyahu”. Bennet, de 49 anos, convocou seu grupo parlamentar antes de confirmar o apoio de todos os deputados, que se encaminhava “para um Governo de mudança”, como se denomina em Israel a coalizão alternativa de quase toda a oposição, como única alternativa à convocação de novas eleições gerais.
A assumir há três semanas o desafio de formar o Governo em Israel, após Netanyahu fracassar numa primeira tentativa, Lapid deu preferência para ocupar o cargo de primeiro-ministro a Bennet (mesmo tendo duas vezes mais cadeiras no Knesset), com a intenção de pôr fim a mais de dois anos de bloqueio político em que houve quatro eleições legislativas.
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Clique aquiLapid é um radical laico que defende a solução dos dois Estados para o conflito com os palestinos. No entanto, Bennet é um direitista religioso, partidário da anexação por Israel de grande parte da Cisjordânia, e historicamente fez parte do bloco de Netanyahu juntamente com os ortodoxos e a extrema-direita. Para convencê-lo a se juntar a um coalizão com a esquerda e apoiada por partidos árabes, o líder centrista precisou lhe ceder a direção do Governo em primeiro lugar, enquanto reservava para si a pasta de Relações Exteriores. Em 2023, na metade da legislatura, ambos teriam que se alternar nos cargos, se o acordo finalmente for fechado.
Consenso e moderação
Após seis anos de uma estratégia de oposição extrema a Netanyahu, Lapid oferece agora um perfil de consenso e moderação. Abandonou o Executivo do líder do Likud ― no qual exerceu como ministro das Finanças entre 2013 e 2015 ― e o desafiou cinco vezes nas urnas.
O chefe das fileiras do partido Yesh Atid (Há Futuro) tem atrás de si seu próprio partido, três formações conservadoras dissidentes do Likud (incluindo a de Bennet), o Partido Trabalhista, o Meretz (esquerda pacifista) e os deputados da Lista Conjunta e do Maan (coalizões árabes que representam a principal minoria israelense, com 20% da população). Antes de quarta-feira, quando vence o prazo para a formação do Governo, ele deverá confirmar o presidente do Estado de Israel, Reuven Rivlin, que se candidata ao cargo com possibilidades de sucesso. Caso contrário, o cronômetro começará a correr para a convocação de novas eleições no outono.
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