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A poeta Amanda Gorman resgata o poder da palavra na posse de Joe Biden

A autora, de 22 anos, declama uma obra de sua autoria cheia de esperança para o país que encara a Nova Administração

Amanda Gorman recita seu poema durante a cerimônia de posse de Biden e Harris. No vídeo, o poema completo. Vídeo: Patrick Semansky / AP | Reuters
Luis Pablo Beauregard
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Amanda Gorman proporcionou um dos momentos mais marcantes da posse do presidente Joe Biden com seu texto The Hill We Climb (A Colina que Subimos). Aos 22 anos, ela se tornou a poeta mais jovem a declamar em uma cerimônia de posse de Governo. A autora relembrou a força da palavra após quatro anos de incendiárias proclamações gritadas a plenos pulmões na era Donald Trump. Originária da vibrante e diversa Los Angeles, Califórnia, Gorman se torna o rosto de uma comunidade para a qual a Administração de Biden busca dar voz e esperança. Ou em suas palavras: “Criar um país comprometido com todas as culturas, cores e personalidades do homem”.

“Sempre há luz se formos suficientemente corajosos para vê-la. Se ao menos fôssemos suficientemente corajosos para sê-la”, disse Gorman, vestida de amarelo brilhante e uma tiara vermelha que se destacou na cinzenta Washington. Sua declamação arrancou aplausos daqueles que a rodeavam no cenário do Capitólio. A poetisa afirmou que começou a escrever o texto minutos depois de receber o convite da equipe de transição de Biden. Leu Winston Churchill para ajudar a entender a retórica do poder. Walt Whitman pela inspiração e o ativista abolicionista Frederick Douglas para falar sobre o país com que sonha.

Mais importante foi o horror que a fez terminá-lo. Em 6 de janeiro, depois que milhares de simpatizantes de Trump invadiram o Congresso, ela pôde pôr ponto final. “Foi como se alguém tivesse apertado um botão no meu cérebro. Terminei no mesmo dia à noite”, Gorman contou à rede CNN.

O poema de Gorman cativou o público em uma manhã de formalidades. The Hill We Climb descreve com eloquência o país cheio de escuridão que Biden herda e o medo de milhões de norte-americanos com a ascensão dos movimentos extremistas incentivados por Trump. “Quando chega o dia nos perguntamos, onde podemos encontrar luz nessa sombra que nunca acaba?”, começou Gorman questionando.

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Vencedora do prêmio para jovens poetas de 2017, Gorman encheu sua poesia com valores e ideais políticos como a mudança climática e desigualdade econômica. Há alguns anos, ela se lembrava de suas origens: filha de mãe solteira que é professora do sexto ano no bairro de Watts, ao sul da cidade californiana. “Ele me dotou com o valor da educação. Não só para mim, mas para os outros... Isso me ajudou a levar minha educação para outro nível”, afirma.

Falou de justiça e esperança, duas palavras que foram repetidas por vários dos oradores, mas nenhum com a força da jovem afro-americana. “A democracia pode se atrasar periodicamente, mas nunca será derrotada para sempre. Nesta verdade, nesta fé em que confiamos, temos os olhos postos no futuro. A história está de olho em nós. Esta é a era da justa redenção”, continuou. “Não voltaremos ao que foi, mas vamos nos transportar ao que será um país ferido, íntegro, benevolente, mas ousado, feroz e livre”.

Gorman se junta a um punhado de poetas que embelezaram com palavras formas rudes de poder. Em 1961, Robert Frost mudou os planos para John F. Kennedy, o primeiro católico a chegar à Casa Branca (Biden é o segundo). Frost recitou de cor uma obra de sua autoria obrigado pelos fortes ventos que o impediram de ler do palanque o texto que escreveu para a ocasião. A jovem californiana também segue os passos de Maya Angelou, que em 1993 declamou No Pulso de uma Manhã há exatamente 27 anos, durante a posse de Bill Clinton. Gorman também leu textos de Richard Blanco e Elizabeth Alexander nas cerimônias da era Obama.

Ao contrário dos que a antecederam, Gorman está diante de um país dividido como nunca e fraturado em questões raciais. Isso também esteve presente em sua obra, que, como boa parte de seus textos, abre um caminho à esperança no futuro: “De alguma forma resistimos e testemunhamos uma nação que não está quebrada, mas simplesmente inacabada. Nós, os sucessores de um país e de uma época em que uma negra magra, descendente de escravos e criada por uma mãe solteira, podemos sonhar em nos tornar presidente somente para recitar a alguém.”

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