Trump indulta seu ex-estrategista Steve Bannon horas antes de deixar a Casa Branca
Lista de beneficiados pela clemência no último dia de mandato do presidente dos EUA inclui 143 nomes. Republicano também quebra sigilo de documentos que investigavam a suposta influência da Rússia sobre as eleições 2016
O presidente Donald Trump indultou seu ex-assessor Steve Bannon na terça-feira, a poucas horas de encerrar seu mandato e trocar a Casa Branca pela mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. Perdões presidenciais no final das administrações são comuns nos EUA, e desta vez o republicano anunciou 73 indultos e 70 comutações de pena, segundo o comunicado oficial. A lista de beneficiados pela clemência, uma competência reservada ao mandatário do país, contém nomes de alguns criminosos financeiros e até de dois rappers.
Bannon já era um nome que aparecia com mais chances nas especulações prévias à divulgação da lista de favores. Ex-assessor de Trump, ideólogo de movimentos populistas de ultradireita em todo o mundo ―inclusive no Brasil do Governo Jair Bolsonaro―, Bannon foi detido em meados de 2020 por fraudar doadores de uma campanha para construir um muro na fronteira com o México. Também recebeu o perdão presidencial Elliott Broidy, ex-doador de sua campanha, que se declarou culpado de conspirar para violar a lei que regula a atividade dos lobbies estrangeiros.
Bannon foi indultado a título preventivo, ou seja, com um perdão que elimina as acusações caso ele venha a ser condenado. O próprio Trump e seu ex-colaborador conversaram por telefone nesta terça. Trump não se autoindultou preventivamente, como tinha deixado entrever nas últimas semanas, no que seria uma manobra para evitar os processos que enfrentará a partir desta quarta, quando volta a ser um cidadão comum, depois da posse de Joe Biden e Kamala Harris. A graça tampouco alcançou outros membros de sua família e seu advogado pessoal, Rudy Giuliani.
Além de Bannon, aparecem entre os perdoados os rappers Lil Wayne ―condenado por posse de armas e munição, algo que lhe estava vedado por causa de delitos anteriores― e Kodak Black. Este último, sentenciado a 46 meses de prisão por falsificar o formulário de um documento federal, teve a pena comutada, assim como o ex-prefeito de Detroit Kwame Kilpatrick, que em 2008 se declarou culpado de obstrução da Justiça como parte de um acordo com a promotoria numa investigação sobre subornos que ele e seu pai teriam aceitado em troca de contratos públicos. Outro dos nomes destacados é o do ex-engenheiro do Google Anthony Levandowski, condenado por roubo de informação sobre carros autônomos antes de pedir demissão da empresa e ser contratado pelo Uber.
Segundo o The New York Times, a expectativa em torno dos perdões presidenciais gerou um negócio de milhares de dólares por parte de lobistas e advogados dos condenados, que procuravam influir no círculo mais próximo a Trump para assegurar o indulto aos seus representados.
Além de divulgar a lista, Trump determinou, em seu último dia como presidente, a quebra do sigilo sobre parte dos documentos que serviram como provas ao FBI no caso da trama russa, a qual gerou uma prolongada investigação sobre o papel do Kremlin na campanha eleitoral de Trump em 2016. O republicano, que sempre atribuiu sua implicação no caso a uma armadilha dos democratas para tirá-lo do poder, disse em um memorando interno que alguns dos documentos foram editados para poderem ser divulgados.
Por último, o magnata nova-iorquino interrompeu a expulsão de alguns venezuelanos que estejam em situação irregular nos EUA, pelo prazo de 18 meses, dadas as circunstâncias políticas do país latino-americano. “As condições de deterioração no interior da Venezuela, que representam uma ameaça nacional à segurança e o bem-estar do povo, aconselham a interromper a expulsão dos nacionais venezuelanos que atualmente se encontram nos Estados Unidos”, determinou Trump em um memorando a seus secretários de Estado e Segurança Doméstica. Cidadãos venezuelanos que tiverem cometido crimes estão excluídos dessa medida.