_
_
_
_

Percurso visual: Trump rompe com 150 anos de tradição democrática

O presidente não comparecerá à posse de Biden e quebra assim um costume, mantido por todos os seus antecessores desde 1877, que representa o respeito à democracia, ao processo eleitoral e à unidade do país.

promo - grafico inauguracion
Mais informações
A woman wearing a protective face mask walks down an escalator, amid the coronavirus disease (COVID-19) pandemic, at Newark Liberty International Airport in Newark, New Jersey, U.S., September 8, 2020.   REUTERS/Shannon Stapleton
Trump suspende restrição a passageiros de Brasil e Europa, mas Biden reverterá decisão
Militares estadounidenses en Nínive (Irak), en marzo.
Trump deixa um campo minado na política externa dos EUA como herança para Biden
FILE PHOTO: Jacob Anthony Chansley, also known as Jake Angeli, of Arizona, poses with his face painted in the colors of the U.S. flag as supporters of U.S. President Donald Trump gather in Washington, U.S. January 6, 2021. REUTERS/Stephanie Keith/File Photo
Trump “sem dúvida” causou invasão do Capitólio, diz advogado do ‘xamã do QAnon’

A ausência de Donald Trump nesta quarta-feira na posse de Joe Biden como presidente rompe uma tradição democrática que nenhum outro mandatário dos Estados Unidos havia quebrado, exceto por morte ou renúncia durante o mandato, desde que em 1869 Andrew Johnson não compareceu à posse de Ulysses Grant. Com sua decisão, Trump, que afirmou que sua derrota é resultado de uma fraude eleitoral, tenta turvar uma cerimônia que representa o respeito ao processo eleitoral norte-americano e à unidade do país acima das divergências políticas.

O republicano Ronald Reagan, em palavras dirigidas ao seu antecessor, o democrata Jimmy Carter, explicou com eloquência em sua própria cerimônia de posse (1981) a importância desse costume: “Por meio de sua amável cooperação no processo de transição, mostrou a um mundo expectante que somos um povo unido, comprometido com a manutenção de um sistema político que garante a liberdade individual em um grau que nenhum outro faz”. E acrescentou: “Aos olhos de muitos no mundo, esta cerimônia é um milagre”. E embora nem sempre com tanta harmonia, já que em 1877 o republicano Ulysess Grant substituiu o também republicano Rutherford Hayes, todos os presidentes cessantes vivos ―com exceção de Nixon, que renunciou encurralado pelo caso Watergate― não faltaram à posse do seus sucessores.

2017: Presidente Donald Trump e Barack Obama
A surpresa da primeira-dama pelo presente que sua sucessora lhe deu, algo que o protocolo não previa, marcou a saudação entre os Obamas e os Trump. Posteriormente, foi revelado que era um porta-retratos da joalheria Tiffany.

2009: Presidente Barack Obama e George W. Bush
Os Obama deram uma despedida calorosa aos Bush: eles os abraçaram aos pés do ‘Marine One' e continuaram a cumprimentá-los enquanto o helicóptero decolava para levá-los a seu rancho no Texas.

2001: Presidente George W. Bush e Bill Clinton
As saudações foram tensas e os olhares esquivos entre Clinton e George W. Bush, que vencera a eleição após uma polêmica recontagem na Flórida.

1993: Presidente Bill Clinton e George W. H. Bush
Clinton se agachou diante de Bush para acariciar sua cachorra Millie, que seu dono havia dito na campanha eleitoral que sabia mais sobre política externa do que o futuro presidente eleito.

1989: Presidente George W. H. Bush e Ronald Reagan
Bush exibiu sua cumplicidade com Reagan, de quem havia sido vice-presidente. Foi a última transferência de poderes entre presidentes de um mesmo partido.

1981: Presidente Ronald Reagan e Jimmy Carter
Reagan elogiou Carter por seu papel na transferência de poderes, processo que ele definiu, em plena Guerra Fria, como um baluarte do sistema político que garantia “maior liberdade individual”.

1977: Presidente Jimmy Carter e Gerald Ford
Carter agradeceu a Ford o que havia feito durante seu curto mandato, enquanto o ex-presidente, visivelmente comovido e aplaudido pelos 15.000 participantes, sorria da tribuna instalada ao lado da escadaria do Capitólio.

1974: Presidente Gerald Ford e Richard Nixon
Ford foi empossado na Casa Branca um dia depois que Nixon a deixou. Ele renunciou encurralado por um impeachment como resultado do ‘caso Watergate’.

1969: Presidente Richard Nixon e Lyndon B. Johnson
Nixon elogiou a cerimônia de transição em seu discurso, mas não falou sobre seu antecessor, Johnson.

1961: Presidente John F. Kennedy e Dwight D. Eisenhower
Kennedy não se referiu a Eisenhower em seu discurso, mas, em um momento marcado por tensões com a URSS, disse que não estavam "ante a vitória de um partido, mas ante a celebração da liberdade”.

1953: Presidente Dwight D. Eisenhower e Harry S. Truman
Eisenhower cumprimentou Truman efusivamente após ser juramentado e enfatizou em seu discurso que a mudança política nos Estados Unidos não implica "turbulência, levante ou desordem”.

1945: Presidente Harry S. Truman e Franklin D. Roosevelt
Truman foi empossado na Casa Branca no mesmo dia em que Roosevelt faleceu.

1933: Presidente Franklin D. Roosevelt e Herbert Hoover
Roosevelt sucedeu Hoover no pior momento da Grande Depressão e enfatizou perante seu predecessor a capacidade da Constituição de resistir a tensões internas e externas.

1929: Presidente Herbert Hoover e Calvin Coolidge
Coolidge e Hoover deixaram a Casa Branca juntos e foram até o Capitólio no mesmo carro.

1921 Presidente Warren Harding e Woodrow Wilson
Pela primeira vez, o presidente cessante e o eleito foram de carro da Casa Branca ao Capitólio. Embora Wilson, afetado por um ataque recente, não tenha comparecido à cerimônia de Harding.

1913: Presidente Woodrow Wilson e William Howard Taft
Taft e Wilson foram em uma carruagem puxada por cavalos para a cerimônia de investidura do segundo.

Com Trump, são quatro os mandatários que quebraram a tradição de comparecer à posse de um novo Governo desde que George Washington foi empossado como o primeiro presidente dos Estados Unidos em 1789. Além de Andrew Johnson, também não compareceram à posse de seus sucessores o segundo presidente norte-americano, John Adams, que em 1801 não participou da posse de Thomas Jefferson, e seu filho, Quincy Adams, presidente entre 1825 e 1829.

O próprio Donald Trump, em seu discurso de posse, reconheceu a importância da “transferência ordeira e pacífica de poder” entre as diferentes Administrações quando declarou literalmente que estava “grato ao presidente Obama e à primeira-dama Michelle Obama por sua amável ajuda”. “Eles foram magníficos”, enfatizou. E suas palavras não foram uma anomalia entre presidentes de diferentes formações políticas: Obama agradeceu a George W. Bush por “seu serviço à nação e pela generosidade e cooperação que demonstrou na transição” (2009); Carter reconheceu os serviços que Ford havia prestado à nação (1977); e Eisenhower destacou em seu discurso diante de Truman que a mudança política nos EUA não implica “turbulências, agitação nem desordem” (1953).

Lyndon B. Johnson prestou juramento poucas horas depois do assassinato de Kennedy, ao lado da viúva do presidente.
Lyndon B. Johnson prestou juramento poucas horas depois do assassinato de Kennedy, ao lado da viúva do presidente. UniversalImagesGroup (Getty Images)

Mesmo em substituições dramáticas, como a de John F. Kennedy, assassinado em Dallas em 22 de novembro de 1963, a importância de enfatizar a continuidade democrática esteve presente: a viúva de Kennedy, Jacqueline Kennedy, acompanhou Lyndon B. Johnson no juramento, a bordo do Air Force One, poucas horas depois de seu marido ter sido assassinado.

Fontes: Fotografias: Cordon Press, Getty, The Granger Collection e Bettmann Archive. Vídeos: Getty, Reuters e The Joint Congressional Committee on Inaugural Ceremonies.

Edição de fotografia: Gabriel Bravo.


Mais informações

Arquivado Em

_
_