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Trump vai retirar tropas do Afeganistão e do Iraque antes de deixar a Casa Branca

Presidente dos EUA também sondou seus assessores sobre um possível ataque ao Irã, apesar de estar nos últimos dias de seu mandato

Trump ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyah, do vice-presidente Mike Pence e do secretário de Estado Mike Pompeo durante conferência na Casa Branca, em Washington.
Trump ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyah, do vice-presidente Mike Pence e do secretário de Estado Mike Pompeo durante conferência na Casa Branca, em Washington.KEVIN LAMARQUE (Reuters)

No momento em que deveria estar consciente que seus dias na Casa Branca estão contados após sua derrota eleitoral, o presidente Donald Trump estuda medidas com repercussões importantes para a segurança e a defesa dos Estados Unidos. O republicano sondou na semana passada a possibilidade de atacar o Irã devido ao programa de enriquecimento de urânio do país, mas foi dissuadido por seus assessores, segundo revelou o jornal New York Times. Ao mesmo tempo, em um novo movimento de efeito, fontes militares disseram à CNN nesta terça-feira que o ainda presidente anunciará no dia 15 de janeiro a redução pela metade das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão, cinco dias antes dele deixar a presidência.

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Número dois da Al Qaeda é assassinado no Irã

Quase uma semana depois de demitir o secretário de Defesa, Mark Esper, seu substituto Christopher Miller anunciou hoje a retirada parcial das tropas. Miller observou que a decisão não significa uma mudança na política e que era consistente com os objetivos estratégicos dos Estados Unidos. No entanto, o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, falou imediatamente contra uma saída precipitada, que descreveu como um “erro”.

Foram as divergências sobre a retirada das tropas do Iraque e do Afeganistão ―uma das promessas eleitorais de Trump à qual os militares e Esper se opuseram― algumas das razões para o expurgo no comando do Pentágono. Por sua vez, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, alertou Washington sobre o “alto custo” de deixar o Afeganistão muito cedo ou de maneira descoordenada. “Estamos no Afeganistão, lado a lado, há quase 20 anos, e nenhum aliado quer ficar mais tempo do que o necessário”, garantiu, deixando claro que em sua opinião a decisão do líder dos EUA seria um grave erro.

Período confuso

Os últimos dias de Trump na Casa Branca prometem ser confusos. Segundo o New York Times, Trump tratou do ataque ao Irã em reunião realizada na última quinta-feira no Salão Oval, na qual estiveram presentes o vice-presidente Mike Pence, o secretário de Estado, Mike Pompeo, o chefe interino do Pentágono, Christopher Miller, e o chefe do Estado-Maior, General Mark Milley. Todos rejeitaram a ideia e alertaram o presidente que uma ofensiva militar contra as instalações iranianas poderia “facilmente escalar para um conflito mais amplo” nas últimas semanas de sua presidência e em um momento de incerteza política nos Estados Unidos.

O encontro ocorreu dias depois que a Organização das Nações Unidas, por meio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), anunciou que havia detectado um aumento nas reservas de urânio enriquecido pelo regime iraniano. O ataque militar, segundo o NYT, poderia ser realizado com mísseis, mas também poderia ser cibernético. E o alvo presumível seriam as instalações nucleares iranianas em Natanz, onde os inspetores da AIEA detectaram reservas de urânio enriquecido de 2.449 quilos, bem acima do máximo de 300 quilos estabelecido no pacto nuclear com as grandes potências.

Tanto Pompeo como o general Milley deixaram a reunião depois de serem muito explícitos sobre o risco potencial de escalada militar e convencidos de que a agressão não era mais uma opção para o presidente, o que foi confirmado ao jornal por várias fontes que pediram o anonimato. No entanto, o presidente ainda pode estar procurando uma forma de atacar os interesses iranianos e de seus aliados, incluindo as milícias com base no Iraque. O Departamento de Estado e funcionários da Segurança Nacional expressaram em particular a preocupação de que o presidente inicie operações, de forma aberta ou encoberta, contra o Irã ou outros adversários, como despedida da Casa Branca.

Retórica anti-iraniana

A reação de Teerã aos possíveis planos bélicos da Casa Branca não demorou. “Qualquer ação contra o povo iraniano enfrentará uma resposta esmagadora”, disse Ali Rabei, porta-voz do Governo do Irã. Rabei, um reformista com duas décadas de experiência política, qualificou o vazamento como “guerra psicológica” e disse considerar improvável que os Estados Unidos “queiram causar insegurança na região e no mundo”.

A presidência de Trump foi marcada por uma retórica anti-iraniana. Apenas um ano depois de chegar à Casa Branca, ele retirou os EUA do acordo nuclear negociado por seu antecessor, Barack Obama, em 2015, apesar de não haver provas de descumprimento do Irã. Desde então, submeteu o país asiático a uma série sem precedentes de sanções econômicas, esteve prestes a bombardeá-lo há um ano e assassinou Qasem Soleimani, seu general mais carismático, em janeiro passado.

Nunca ficou claro se o objetivo era renegociar o acordo ou provocar protestos que acabariam com o regime islâmico. A resposta do regime de Teerã foi voltar a produzir urânio de maior pureza no ano passado ―violando o acordo nuclear após a retirada de Washington, embora sem atingir os limites que lhe permitiriam fazer uma bomba atômica― e pressionar os parceiros europeus. Ao mesmo tempo, o Irã insiste na natureza pacífica de seu programa nuclear.

No entanto, o simples fato de o presidente norte-americano ter mais uma vez contemplado um ataque ao Irã dá asas aos rivais desse país. “Se eu fosse iraniano, não estaria tranquilo”, declarou o ministro de Energia israelense, Yuval Steinitz. Depois de ressalvar que não estava a par das deliberações a esse respeito, jogou com a ambiguidade, dando a entender que, se o enriquecimento de urânio por parte do Irã se aproximar do grau militar, “é provável que enfrente o poderio militar dos Estados Unidos e também, talvez, de outros países”.

A referência não é abstrata. Na semana passada surgiu a informação de que agentes israelenses haviam assassinado o número 2 da Al Qaeda em Teerã, aparentemente por encomenda de Washington. Embora Israel não tenha reconhecido o ataque, não é a primeira vez que o país é associado a assassinatos ou sabotagem dentro da República Islâmica. A linha dura do Governo de Benjamin Netanyahu em relação ao Irã tem sido, sem dúvida, um elemento importante na aproximação das monarquias do Golfo Pérsico de Israel.

Após a vitória eleitoral de Joe Biden, os vizinhos do Irã intensificaram suas advertências. O rei Salman, da Arábia Saudita, pediu à comunidade internacional que adote “uma atitude decisiva contra o Irã e seus esforços para obter armas de destruição em massa e desenvolver um programa de mísseis balísticos”.

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