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Biden anuncia força-tarefa para controlar covid-19 já na segunda-feira

“Serei a primeira mulher neste cargo, mas não a última”, disse a vice Kamala Harris em seu pronunciamento

População de Nova York celebra a vitória de Biden e Harris nas eleições dos EUA, neste sábado.
População de Nova York celebra a vitória de Biden e Harris nas eleições dos EUA, neste sábado.JEENAH MOON (Reuters)
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Uma mensagem de unidade para levar adiante um país fraturado em duas metades e mergulhado na pior crise socioeconômica em um século. O presidente-eleito dos EUA, Joe Biden, dirigiu-se na noite desta sexta à nação para proclamar finalmente a sua vitória, após quatro dias de uma enervante apuração, e oferecer uma mão estendida a seus adversários (“são oponentes, não inimigos”), inclusive através de uma cooperação bipartidária no Congresso, para enfrentar a tarefa mais peremptória de seu futuro mandato, a crise da covid-19. “É o momento de curar os Estados Unidos”, reiterou, um propósito que soou ainda mais ambicioso, pois ia além da pandemia, referindo-se diretamente a estancar a fratura provocada pelo exercício do poder de Donald Trump, e agora sua recusa em aceitar o resultado. “É hora de derrotar a desesperança”, disse, convocando seus concidadãos a se unirem a ele e decidirem se querem cooperar em vez de brigar. “O mandato popular que recebemos é o da cooperação entre partidos”, recordou, ao mesmo tempo em que recordava ter tido 74 milhões de votos, maior apoio já dado nas urnas a um presidente na história dos EUA.

A gestão da pandemia, disse, passará pela criação, já na próxima segunda-feira, de uma célula de crise “composta por cientistas e especialistas importantes”, que começará a operar em 20 de janeiro, data da posse do democrata como 46º presidente dos Estados Unidos. “Nosso trabalho começa pondo a covid-19 sob controle, não vamos poupar nenhum esforço para isso”, salientou. Recordando os mais de 236.000 norte-americanos que já morreram por causa da doença, manifestou empatia com os familiares dessas vítimas ―ele que sabe bem o que é perder um filho, pois já enterrou dois―, fazendo uma recordação especial ao seu amado filho Beau, que morreu em 2015 e já havia sido mencionado pela futura vice-presidenta Kamala Harris em seu discurso de apresentação de Biden.

Enfrentar os desafios da mudança climática e da desigualdade socioeconômica provocada pelo “racismo sistêmico” foi outra promessa de seu discurso, com uma menção especial ao apoio dado pela comunidade afro-americana, especialmente na localidade onde reside e com a qual mantém estreitos laços. Não por acaso, como recordou Harris, Biden escolheu a primeira candidata a vice não branca da história, depois de ter trabalhado durante oito anos com o único presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama.

O veterano político democrata ―o segundo mandatário católico do país, 15º a assumir o cargo depois de passar pela vice-presidência― repetiu grande parte do conteúdo das mensagens de concórdia e reconciliação dos últimos dias. Insistiu, por exemplo, em que não governará para um só partido, “e sim para todos os norte-americanos”. “Vou trabalhar tão arduamente por aqueles que não votaram em mim como pelos que votaram, porque é hora de pôr fim a demonização [dos opostos], as pessoas querem que democratas e republicanos unam forças”. Seu discurso é uma mão estendida a Donald Trump para facilitar a transição de poder, e um aceno aos eleitores do republicano, cujo mal-estar disse entender.

Esperança, verdade, unidade, empatia, ciência: algumas quantas palavras muito simples que marcam uma clara linha divisória com relação ao seu predecessor. Também foram os conceitos mais repetidos no discurso introdução da vice-presidenta-eleita, que discursou antes de Biden vestida de branco, como uma sufragista, e citando para começar o recém-falecido líder dos direitos civis John Lewis: “A democracia não é um estado, é um ato”. “Não podemos dá-la por garantida, é preciso lutar por ela, exige esforço e luta”, afirmou. “Serei a primeira mulher neste cargo, mas não a última. Muitas meninas verão hoje que é possível, que esta é a terra das possibilidades se você sonhar com ambição e se liderar com convicção”, afirmou Harris, mais enérgica e carismática que seu chefe, para quem pretende ser “como foi Joe para Obama, uma colaboradora leal, uma trabalhadora forte e esforçada”. “O caminho não será fácil, mas a América está preparada, assim como estamos Joe e eu.”

Prejudicada pelo formato escolhido para o pronunciamento, diante de uma plateia de centenas de pessoas dentro de seus carros, em um desolado estacionamento de Wilmington, a apresentação oficial de Biden como presidente-eleito foi marcada por um forte esquema de segurança, que isolou os acessos ao local várias horas antes do evento. Muitos simpatizantes ficaram de fora, como Said, um corretor imobiliário que percorreu os cerca de 50 quilômetros que separam Filadélfia de Wilmington expressamente para comemorar a vitória de Biden. “Nestes quatro anos com Trump me senti em perigo, só porque sou de origem imigrante e meus pais nasceram em outro país. Mas eu sou daqui, como ele, embora para ele eu fosse um cidadão de segunda classe. Estou aqui porque Biden é uma pessoa, um ser humano que me vê como um igual e que realmente vai regenerar o país.”

Apesar da enxurrada de decibéis emanada pelo palco onde Biden e Harris falavam ao mundo, Said só conseguiu acompanhar os discursos pelo rádio. Depois, entre as tradicionais cenas familiares que a dupla Biden-Harris apresentou sobre o palanque, com a incorporação de seus respectivos parentes, o estrondo dos rojões, entre eles um diorama que marcava o número 46 da nova presidência, pôs fim a uma noite crucial para a recuperação dos Estados Unidos.

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