Agência de saúde dos EUA causa confusão ao publicar informação errada sobre forma de contágio da covid-19

Orientações indicavam que partículas suspensas no ar seriam a principal forma de propagação do vírus, mas órgão volta atrás e diz que uma versão preliminar do texto foi publicada por engano

Clientes em um restaurante de Hong Kong, em 13 de setembro.Europa Press
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O principal órgão de saúde pública norte-americano, os Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), incluiu de forma errônea uma atualização de seus manuais de prevenção em que apontava a via aérea, através de partículas suspensas, como a principal forma de contágio do coronavírus. A conclusão está de acordo com diversas evidências científicas nesse sentido, mas a agência voltou atrás e retirou a orientação, que havia sido publicada na noite de domingo, e declarou que o texto “não reflete o atual estado de conhecimento” de seus pesquisadores.

“Uma versão preliminar das alterações propostas a essas recomendações foi postada por engano no site oficial da agência”, explicou o CDC em nota nesta segunda-feira. “O CDC está atualizando suas recomendações com relação à transmissão aérea do SARS-CoV-2 (o vírus que causa o COVID-19). Assim que este processo for concluído, a atualização será publicada." A conclusão equivocada do órgão foi difundida por veículos de imprensa de todo o mundo.

Com o engano, continua válida a versão do manual publicada em 16 de junho e agora retomada no site. O texto já apontava a necessidade de insistir na ventilação exaustiva dos espaços interiores e citava como uma das formas de contágio a “inalação de gotículas respiratórias que são produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra, canta, fala ou respira”. A diferença é que, na atualização publicada por erro, o órgão mencionava também a inalação de partículas microscópicas contagiosas, os chamados aerossóis —que permanecem suspensos no ar depois de saírem da boca ou nariz do contagiado— como a principal forma de propagação do vírus”.

Além disso, o órgão acrescentava que a doença se propaga “facilmente” de uma pessoa para outra, um detalhe que aparecia pela primeira vez. Os especialistas advertiam, porém, que o fato de haver contágio pelo ar não transforma o coronavírus em algo tão contagioso como o sarampo, outra doença propagada por via aérea, mas com uma capacidade de infectar muitíssimo maior e capaz de permanecer horas ativa em um cômodo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu em julho a existência desta via aérea de contágio, que até então era desprezada, embora só como uma possibilidade que necessitava de mais evidências. Poucas semanas depois surgiu a “bala de prata”: um estudo mostrava partículas do vírus capazes de contagiar a cinco metros de distância. Do começo da pandemia até aquele momento, se considerava que o modo de contágio mais habitual eram as gotículas expelidas por um doente ao tossir ou falar, que acabavam nas mucosas de outra pessoa, como boca, olhos e nariz. Esta via continua vigente, daí a necessidade de distância de segurança de dois metros e do uso de máscaras.

O tempo que estas partículas permanecem flutuando, com risco de se acumularem e contagiarem alguém, depende sobretudo da ventilação. Por este motivo, os especialistas insistem na necessidade de realizar externamente todas as atividades possíveis, já que se observou que em ambientes internos o risco de contágio é quase 20 vezes que ao ar livre, justamente porque as partículas contagiosas se diluem imediatamente com a ventilação. “Em ambientes internos, a ventilação deve ser permanente, janelas abertas sempre, não pode deixar que se acumule. Mas o mais eficaz é fazer tudo fora”, recorda o cientista José Luis Jiménez, da Universidade do Colorado, em constante discussão com a OMS para conseguir que aceitem a importância dos aerossóis.

Muitos dos grandes eventos supercontagiantes ocorrem em circunstâncias nas quais os aerossóis poderiam ser um fator determinante. Foi o que aconteceu em um dos marcos desta pandemia: o ensaio do coro Skagit, em Washington, em 10 de março. “As pessoas que participaram aderiram às recomendações de evitar a transmissão por contato próximo”, salientava a especialista Lidia Morawska. Não se cumprimentaram com beijos, abraços ou apertos de mão, usaram álcool-gel, procuraram não manipular objetos. Obviamente, pode ter ocorrido alguma falha em suas precauções. Do mesmo modo, um restaurante chinês onde os comensais foram contagiados em mesas contíguas, alguns a mais de quatro metros, mostrou que a falta de ventilação com o exterior foi o único motivo do contágio. “O maior risco se dá nos espaços fechados e abarrotados, a não ser que a ventilação seja eficiente”, concluiu Morawska, autora principal da carta que convenceu a OMS.

No Brasil, um evento que merece investigação é cerimônia de posse do ministro Luiz Fux como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), em 10 de setembro. Após a solenidade, ao menos oito autoridades declararam ter sido diagnosticadas com a covid-19, incluindo o próprio Fux, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o procurador-geral da República, Augusto Aras. Em nota, o Supremo informou que adotou todos os protocolos preconizados pelo Ministério da Saúde e pela OMS. “De qualquer forma, ainda que esteja segura quanto às medidas de precaução adotadas dentro de suas instalações, a Corte Suprema brasileira estuda novos procedimentos para tornar ainda mais segura a presença de servidores e visitantes do STF”, disse.

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