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Kanye West, o candidato intruso que pode tirar votos de Trump e Biden em 12 Estados

Rapper pode levar votos cruciais em alguns territórios. Entre julho e agosto gastou quase sete milhões de dólares de seu bolso na candidatura independente para a presidência dos EUA

Kanye West em seu primeiro ato de campanha em Charleston, Carolina do Sul.
Kanye West em seu primeiro ato de campanha em Charleston, Carolina do Sul.Lauren Petracca Ipetracca (AP)
Antonia Laborde

É matematicamente impossível que Kanye West chegue à Casa Branca. O polêmico rapper, que se postula à presidência como candidato independente nas eleições de 3 de novembro, não cumpriu os requisitos para que seu nome esteja nas cédulas de vários Estados fundamentais, o que lhe impede de ter os votos necessários para se transformar no 46° mandatário dos Estados Unidos. Mas competirá em uma dúzia de Estados nos quais conseguiu se inscrever a tempo, apesar de sua decisão tardia, anunciada em 4 de julho. Não é competitivo em nenhum deles, mas pode prejudicar o presidente Donald Trump e o democrata Joe Biden na disputa em que a margem de distância entre os dois é muito pequena. E em eleições tão polarizadas, cada voto conta.

Concretamente, West será formalmente candidato em Idaho, Minnesota, Tennessee, Iowa, Arkansas, Colorado, Oklahoma, Vermont, Mississippi, Louisiana, Utah e Kentucky. Trump lidera as pesquisas por mais de 10 pontos na maioria desses Estados, de modo que sua participação não é uma ameaça. Mas onde a diferença entre o republicano e o democrata é de 2% a favor do primeiro, de acordo com a plataforma FiveThirtyEight, a figura de Kanye West pode incidir nos resultados. “Mesmo que tenha uma porcentagem muito baixa [nos Estados mais disputados], é possível que possa fazer diferença”, diz Christopher Devine, professor de Ciências Políticas na Universidade Dayton (Ohio).

Não está claro a qual dos principais candidatos West poderia prejudicar. A percepção generalizada é que o rapper, que já se declarou grande admirador de Trump, tiraria votos de Biden. Consultado pela Forbes em uma entrevista em julho sobre essa teoria, West respondeu: “Não nego”. Devine defende que a tendência é pensar que um candidato pequeno sempre tira votos dos grandes, mas que não precisa ser necessariamente assim. “Os que votam querem fazer uma declaração de frustração e raiva. Acho difícil acreditar que se West não estivesse na cédula, votariam por Biden”, acrescenta.

O poder de arrasto de West não é importante em nenhum grupo étnico. Em uma das poucas pesquisas em que seu nome aparece, publicada pelo Politico-Morning Consult em 12 de agosto, o candidato independente conseguiu 2% de apoio nacionalmente, 4% entre os hispânicos e 2% entre os afro-americanos. Sua maior área de influência (6%) se registrou entre os eleitores da Geração Z, os nascidos entre os anos 1994 e 2000.

Lakeyta M. Bonnette-Bailey, professora de Estudos Afro-americanos da Universidade da Geórgia e autora de Pulse of the people: Political rap music and black politics, acha que já é tarde para que ele seja levado a sério e descarta que o apoio da comunidade negra e dos jovens seja suficiente para que tenha relevância em algum resultado. “Ele ser popular não significa que seja visto como um potencial candidato. Os jovens são conscientes de que o sistema é praticamente bipartidário e não querem desperdiçar seu voto em alguém que não vai ganhar”, coloca.

Caso fosse uma ameaça para algum dos concorrentes principais, Bonnette-Bailey acha que West afetaria mais Trump, pois suas propostas se aproximam em maior medida às bases conservadoras do que às de esquerda. Mas frisa que na verdade “não tem uma plataforma de campanha, somente seu nome em algumas cédulas”. No site da campanha, o músico enumera 10 de seus objetivos, como reduzir a dívida estudantil e reformar o sistema judicial, mas não esclarece como o faria.

Fundos de seu bolso

A Comissão Federal Eleitoral informou na semana passada que West gastou entre 15 de julho e 31 de agosto quase sete milhões de dólares (37 milhões de reais) de seu bolso à campanha. Nesse mesmo prazo arrecadou somente 11.472 dólares (61.000 reais) em contribuições individuais. Enquanto isso, continua falando com frequência com Jared Kushner, genro e assessor de Trump na Casa Branca, com quem também fez reuniões presenciais duas vezes. Dias atrás, West disse no podcast de Nick Cannon, Cannon´s Class, que havia solicitado um encontro com o ex-candidato presidencial Bernie Sanders, mas que o veterano socialista recusou.

A polêmica lhe acompanha o tempo todo. Para que seu nome figurasse nas cédulas da Virgínia, o candidato deveria reunir 5.000 pedidos e 13 assinaturas de apoio entre os eleitores. Um juiz do tribunal de Richmond determinou na quinta-feira que Kanye West não poderá aparecer no voto eleitoral porque usou táticas impróprias para cumprir os requisitos. Das 13 assinaturas entregues, 11 foram obtidas por “meios inapropriados, fraudulentos e enganosos”, de acordo com o juiz Joi Taylor.

A campanha presidencial de um dos músicos mais importantes do século XXI é o fechamento de uma das disputas à Casa Branca mais anômalas da história recente. O coronavírus afetou todos os âmbitos dessa corrida praticamente virtual entre um veterano da política, um showman e um rapper. O comportamento errático do artista nos últimos meses, entretanto, reabriu o debate sobre sua participação nas eleições a seu estado mental. West foi diagnosticado com transtorno bipolar em 2016 e sua esposa, Kim Kardashian, pediu a seus seguidores e à imprensa que fossem compassivos com ele após publicar em julho uma série de mensagens sobre sua vida pessoal que depois apagou.

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