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Encapuzados à paisana sequestram líder opositora em Belarus

Maria Kolesnikova, única a permanecer no país entre as três mulheres que enfrentaram Lukashenko, participa da coordenação do movimento que exige novas eleições

Kolesnikova fala a trabalhadores de uma fábrica de tratores de Minsk durante uma greve, em 17 de agosto.
Kolesnikova fala a trabalhadores de uma fábrica de tratores de Minsk durante uma greve, em 17 de agosto.TATYANA ZENKOVICH (EFE)
María R. Sahuquillo
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TOPSHOT - Belarus opposition supporters attend a rally to protest against the disputed August 9 presidential elections results in Minsk on September 6, 2020. - Tens of thousands of Belarusians staged a peaceful new march on September 6, keeping the pressure on strongman Alexander Lukashenko who has refused to quit after his disputed re-election and turned to Russia for help to stay in power. (Photo by - / TUT.BY / AFP)
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Indivíduos encapuzados e à paisana sequestraram a destacada líder oposicionista Maria Kolesnikova nesta segunda-feira em Minsk. Das três mulheres que confrontaram o autocrata Aleksandr Lukashenko, ela é a única que permanece em Belarus. Kolesnikova, gestora cultural e chefe de campanha do ex-candidato presidencial e ex-banqueiro Viktor Babariko, preso desde junho, caminhava pelo centro da capital bielorrusa quando pessoas não identificadas se aproximaram dela e a colocaram em uma caminhonete também civil, segundo relato de uma testemunha ao site independente Tut.by. Seu celular não está disponível, e sua equipe tampouco conseguiu localizá-la. Acreditam que Kolesnikova, integrante destacada do perseguido movimento que exige novas eleições, foi detida pelas forças de segurança do Lukashenko. O Ministério do Interior declarou que não tem notícia de que isso tenha ocorrido. Outras duas pessoas do comitê de coordenação da oposição também estão desaparecidas.

“Escutei o som de um celular caindo no asfalto, uma espécie de pisão, e quando virei vi pessoas à paisana e com máscaras que empurravam Maria [Kolesnikova] para uma minivan”, relatou uma testemunha ao Tut.by. O veículo escuro tinha um letreiro com a palavra “comunicação”. O desaparecimento de Kolesnikova, um dos rostos mais conhecidos da oposição e uma das cabeças do conselho de coordenação, é outro sintoma de que Lukashenko está endurecendo o cerco contra os opositores e qualquer voz crítica. O líder autoritário acusa o comitê, que busca uma transição pacífica e a libertação dos presos políticos, de querer “tomar o poder”. Quatro das sete pessoas que formam sua cúpula ― da qual participa a escritora Svetlana Alexievich, prêmio Nobel de Literatura ― foram detidas, e outra delas, o ex-ministro de Cultura Pavel Latushko, saiu do país “por causa das pressões das autoridades”, conforme revelou nesta segunda-feira. “Foi um ultimato da KGB [os serviços de segurança bielorrusos]”, afirmou Latushko à emissora Belstat.

No último sábado, a advogada Olga Kovalkova, outra das líderes do movimento, foi levada à fronteira com a Polônia depois de cumprir 10 dias de detenção. Foi forçada a sair do país sob ameaça de que, do contrário, as detenções seriam “infinitas”, como contou em uma entrevista coletiva. Em outro sinal de que Lukashenko voltou à política de repressão aberta e pulso firme, 633 pessoas foram detidas nas concorridas manifestações deste domingo.

O alto representante da União Europeia (UE) para a política externa, Josep Borrell, qualificou como “inaceitáveis” as “prisões arbitrárias e sequestros por motivos políticos” em Belarus, incluindo o de Kolesnikova. “As autoridades estaduais devem parar de intimidar os cidadãos e de violar suas próprias leis e obrigações internacionais”, escreveu Borrell em seu perfil na rede social Twitter. Borrell também condenou as “ações brutais” que ocorreram nesta segunda-feira contra dois membros da equipe da oposição Andrei Yahorau e Irina Sukihiy.

Kolesnikova, que viveu 12 anos na Alemanha antes de voltar à sua Minsk natal para se ocupar de um projeto cultural financiado por Viktor Babariko, e que terminou por encabeçar sua campanha eleitoral, foi quem teve a ideia de unir as candidaturas do ex-banqueiro e do opositor Valery Tsepkalo, exilado, à de Svetlana Tikhanovskaya, que conseguiu se registrar como candidata. A união deu lugar ao trio de mulheres opositoras que inspirou a oposição e dezenas de milhares de pessoas.

Em uma entrevista ao EL PAÍS dias atrás, Kolesnikova contava que estava consciente dos riscos, num país onde opositores habitualmente são presos e ameaçados e onde há inúmeras denúncias de violência policial. “Não tenho medo de caminhar pelas ruas, nem de dizer o que penso, sinto-me totalmente apoiada pela população bielorrussa; somos a voz da maioria”, comentava a mulher, de 38 anos, que se recusava a andar com guarda-costas. Há poucos dias, ela anunciou a criação de um novo partido político, o Vmeste (Juntos), com a equipe de Babariko. Belarus não vê o surgimento de uma nova formação política há 20 anos, e os analistas duvidam de que o Vmeste consiga sua inscrição.

Kolesnikova foi sequestrada no centro do Minsk por volta das 10h (4h em Brasília), segundo testemunhas. Pouco depois, o conselho de coordenação da oposição também perdeu o contato com outros dois de seus membros: Anton Rodnenkov e Ivan Kravtsov. A candidata presidencial Svetlana Tikhanovskaya, que teve que se exilar na Lituânia depois das eleições, por sentir que sua família estava ameaçada, disse nesta segunda-feira que o desaparecimento de Kolesnikova, Rodnenkov e Kravtsov é uma tentativa de intimidar a oposição e impedir o trabalho do conselho de coordenação. “As autoridades estão envolvidas com o terror, não há outro nome para isso”, declarou Tikhanovskaya, a mulher que unificou a oposição contra Lukashenko.

Enquanto isso, o autoritário líder prepara uma visita à Rússia “nos próximos dias” para, segundo sua equipe, se reunir com o presidente Vladimir Putin.

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