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Lukashenko responde aos protestos em Belarus: “Até que me matem, não haverá outra eleição”

Vaiado durante sua visita a uma fábrica, o mandatário do país continua entrincheirado no poder. A líder opositora se oferece para guiar a transição

Lukashenko fala aos trabalhadores da fábrica de tratores de Minsk e outras empresas estatais, nesta segunda-feira.
Lukashenko fala aos trabalhadores da fábrica de tratores de Minsk e outras empresas estatais, nesta segunda-feira.BelTA (Reuters)
María R. Sahuquillo
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Belarus opposition supporters attend a rally in central Minsk on August 16, 2020. - The Belarusian strongman, who has ruled his ex-Soviet country with an iron grip since 1994, is under increasing pressure from the streets and abroad over his claim to have won re-election on August 9, with 80 percent of the vote. (Photo by Sergei GAPON / AFP)
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Aleksandr Lukashenko se entrincheirou no poder. Numa tentativa de se aproximar daqueles que foram a base do seu eleitorado, o presidente da Belarus visitou nesta segunda-feira uma histórica fábrica de tratores de Minsk. “Até que me matem, não haverá outra eleição”, afirmou. O gesto não deu certo. Dezenas de trabalhadores de várias fábricas, que haviam comparecido para escutar o mandatário, começaram a vaiá-lo. No nono dia consecutivo de grandes protestos contra o regime, as mobilizações deram início a greves em grandes fábricas estatais. No entanto, um dia depois da maior manifestação da história do país, na qual dezenas de milhares de pessoas exigiram sua saída, Lukashenko estendeu sua agonia política afirmando que estaria disposto a um “referendo” sobre a Constituição e a uma revisão de poderes, mas só quando os protestos terminarem.

Enquanto isso, a líder opositora Svetlana Tijanovskaya deu um passo à frente e, do seu exílio na Lituânia, disse que está disposta a guiar Belarus durante um processo de transição. “Até o país se acalmar”, disse Tijanovskaya aos seus seguidores, numa mensagem de vídeo difundida nesta segunda.

“Estou pronta para assumir a responsabilidade e agir neste período como líder nacional” até a realização de novas eleições presidenciais, afirmou Tijanovskaya num vídeo publicado no YouTube, em que pediu a unidade do país. “Eleições transparentes e honestas que, sem dúvida, serão reconhecidas pela comunidade internacional”, declarou ela da Lituânia, para onde fugiu na última terça-feira ao sentir que sua família estava ameaçada. O marido de Tijanovskaya, o blogueiro Serguéi Tijanovski, continua preso no país. A oposição e grande parte da população não aceitam os resultados oficiais das eleições presidenciais de 9 de agosto, que deram 80% dos votos a Lukashenko e apenas 10% a Tijanovskaya.

Enquanto isso, e apesar das ameaças de demissão, vários milhares de trabalhadores das principais fábricas estatais —que formam a coluna vertebral da economia do país— voltaram a fazer greve nesta segunda para exigir novas eleições e a libertação dos presos políticos e das pessoas detidas durante os protestos contra a fraude eleitoral. Funcionários das principais empresas públicas e até mesmo da TV estatal, a principal maquinaria de propaganda do regime, juntaram-se aos protestos, embora a transmissão do canal não tenha sido totalmente suspensa.

Na popular e histórica fábrica de tratores de Minsk (MZKT), centenas de empregados entraram em greve. Ali, diante dos trabalhadores, Lukashenko, que chegou de helicóptero, manteve seu discurso e defendeu os resultados do último pleito, com os quais iniciaria seu sexto mandato. “Vocês estão dizendo que as eleições foram injustas e querem justas? Aqui têm a resposta: tivemos uma eleição. No haverá mais eleições até que me matem”, bradou, insistindo que as eleições foram realizadas de “maneira civilizada”. “Vá embora, vergonha!”, vaiavam muitos operários, segundo o vídeo da reunião difundido pelo canal independente tut.by. Uma situação insólita para Lukashenko, que se considera o “pai da nação.”

Dezenas de pessoas se manifestam em frente à sede da TV pública, nesta segunda-feira, em Minsk.
Dezenas de pessoas se manifestam em frente à sede da TV pública, nesta segunda-feira, em Minsk.TATYANA ZENKOVICH (EFE)

Ante os trabalhadores da MZKT e de outras fábricas que haviam chegado para escutá-lo, o presidente, segundo o qual as manifestações são organizadas do exterior e tudo é uma manobra para derrubá-lo, abriu uma pequena porta: disse que não se opõe à revisão da Constituição, à redistribuição dos poderes e ao “compartilhamento” de sua autoridade, mas não nas ruas e tampouco sob pressão. “Trabalhemos a Constituição. Nós a submeteremos a um referendo, aceitaremos a Constituição e eu lhes entregarei meus poderes constitucionais. Mas não sob pressão, e não nas ruas. Não se pode entregar esta Constituição a alguém que não conhece [o assunto]. Porque haverá problemas”, disse. “Não somos ovelhas, somos pessoas!” e “Greve!”, clamaram muitos trabalhadores.

Os protestos que atingiram o ápice neste domingo, não parecem diminuir na república da antiga União Soviética de 9,4 milhões de habitantes, onde os cidadãos estão indignados não só pelo suposta fraude eleitoral, mas também pela brutal repressão das forças de segurança contra os manifestantes pacíficos. Pelo menos duas pessoas morreram nas mobilizações. “Somente a renúncia do ex-presidente [assim se referiu a Lukashenko] tranquilizará a nação”, afirmou Maria Kolesnikova, a principal aliada de Tijanovskaya e a única do trio de mulheres opositoras que ainda permanece no país.

A oposição do país convocou uma greve geral para esta segunda-feira, a fim de manter a pressão contra Lukashenko. Espera-se que a medida se estenda das fábricas automotivas para outros importantes setores do país, como as refinarias de petróleo e as usinas de fertilizantes. O golpe para a economia, já muito afetada, pode ser enorme —e obrigaria Lukashenko ou seu entorno a reagir.

Os protestos, de magnitude e força sem precedentes num país onde se reprime com pulso firme a oposição e as vozes críticas, deixaram Lukashenko numa situação delicada, lutando por sua sobrevivência política. O presidente pediu socorro à Rússia, com quem mantém tratados de defesa e comércio. O Kremlin prometeu ajuda, mas não deixou claro em que formato apoiará um aliado tão problemático e debilitado. E muito vai depender da atuação de Moscou.

O líder de Belarus perdeu o apoio das ruas, mas parece que conserva o do Exército e das forças de segurança —que o sustentam no poder há 26 anos. Tijanovskaya também se dirigiu a esses setores em sua mensagem, pedindo que ajudassem a pavimentar o caminho para a transição de poder. “Nossos cidadãos são pessoas justas e generosas, que não aceitam a violência”, declarou. “Se você decide não obedecer às ordens penais e ficar do lado da população, te perdoarão, te apoiarão e não dirão uma palavra contra você no futuro”, completou.

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