O opositor russo Navalni foi envenenado com a mesma substância que o ex-espião Skripal

Governo alemão anuncia que existem “provas inequívocas” da presença de novichok no corpo de Navalni, internado em Berlim

Alexei Navalni durante uma manifestação em 2019.Europa Press

As suspeitas mais tenebrosas acabaram se confirmando. O opositor russo Alexei Navalni foi envenenado com um agente nervoso do grupo do novichok, anunciou nesta quarta-feira o Governo alemão. Berlim garantiu ter “provas inequívocas” do envenenamento, segundo os exames médicos a que foi submetido o arqui-inimigo do Kremlin, que permanece em coma em um hospital da capital alemã. A chanceler (chefe de Governo) da Alemanha, Angela Merkel, exigiu que a Rússia responda às “difíceis questões” levantadas pelo caso. “O mundo espera uma resposta”, insistiu.

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A série de reações internacionais não demorou para ocorrer, poucas horas depois do anúncio do resultado dos exames. A presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considerou o envenenamento um “ato covarde e desprezível” e pediu que os responsáveis sejam levados à Justiça. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que é “escandaloso que tenha sido usada uma arma química” e também pediu explicações à Rússia. Washington considerou o envenenamento um ato “totalmente censurável”.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que as alegações da Alemanha não são sustentadas por evidências, de acordo com a agência RIA citada pela Reuters. Enquanto a Interfax citou o porta-voz do Kremlin, que solicitou uma troca completa de informações sobre o caso entre Moscou e Berlim.

Novichok é um grupo de agentes nervosos letais que o Exército da União Soviética desenvolveu nas décadas de 1970 e 1980. Trata-se de uma substância da mesma família da que foi usada para envenenar em 2018, no Reino Unido, o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha Yulia, que foram tratados e sobreviveram.

Em 22 de agosto, Navalni foi transferido de um hospital da região russa da Sibéria para a Alemanha em uma ambulância aérea. Ele havia sido internado na Sibéria depois de desmaiar durante um voo, após ter tomado um chá no aeroporto de origem. O destacado opositor de 44 anos permanece internado, em coma induzido, no hospital universitário Charité, na capital alemã.

O Charité divulgou nesta quarta-feira um comunicado informando que o estado de Navalni ainda é grave, mas vem registrando certa melhora à medida que a intensidade do veneno diminui. Ele permanece com respiração artificial na UTI. “A recuperação deve ser longa”, assinalou o hospital berlinense, acrescentando que ainda é cedo para saber os efeitos a longo prazo do envenenamento. Novichok é um grupo de agentes nervosos letais que o Exército da União Soviética desenvolveu nas décadas de 1970 e 1980.

Merkel convocou a imprensa às 17h30 em Berlim (12h30 de Brasília) para informar sobre “a tentativa de assassinato de um líder da oposição” russa com o objetivo de “silenciá-lo”. A declaração foi breve, mas em um tom mais duro e direto que o habitual. Ela confirmou que os exames do laboratório médico militar deram um resultado claro, atestando a utilização de um agente nervoso da família do novichok. O envenenamento, disse a chanceler, levanta questões que “só a Rússia pode responder”.

Merkel adiantou que a Alemanha discutirá com seus parceiros europeus e da OTAN uma resposta comum “adequada” a esse “crime” contra “valores e direitos fundamentais”. Após o envenenamento de Skripal em Salisbury, dezenas de diplomatas russos foram expulsos de forma coordenada de países europeus. O Governo alemão assinalou que também informou à Organização para a Proibição de Armas Químicas os resultados dos exames.

Tensão entre Berlim e Moscou

Navalni foi transferido para Berlim há uma semana e meia por “motivos humanitários”, lembrou Merkel. Ele chegou à Alemanha em um avião fretado pela ONG alemã Cinema for Peace, depois que o entorno do ativista anticorrupção denunciou um possível envenenamento e de intensas negociações para que ele pudesse sair da Rússia. Os médicos russos do centro hospitalar onde Navalni foi tratado na cidade de Omsk afirmaram não ter encontrado nenhuma substância tóxica no corpo do opositor. Pouco depois da internação de Navalni em Berlim, os médicos alemães disseram que os exames preliminares haviam detectado uma substância pertencente ao grupo dos inibidores da colinesterase, o que “indicava um envenenamento”.

O caso Navalni ocorre em um momento de grande tensão nas relações entre Berlim e Moscou, marcadas pela suposta espionagem cibernética russa do Bundestag em 2015 e pelo assassinato de um rebelde checheno em plena luz do dia em um parque berlinense. Merkel culpou recentemente a Rússia pelo “escandaloso” ciberataque ao Bundestag, depois que investigadores alemães concluíram haver “provas contundentes” do envolvimento de Moscou. A Promotoria alemã também acusa a Rússia pelo assassinado do rebelde checheno, ocorrido em agosto de 2019. A tensão diplomática também coincide com a instalação da Alemanha na presidência rotativa da União Europeia para este semestre e com a crise em Belarus.

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