Buenos Aires endurece o confinamento para conter a escalada de casos da covid-19

Restrições na Argentina se concentram na capital argentina e sua área metropolitana, onde se registram nove de cada dez positivos de coronavírus

Homem com máscara passa de bicicleta em frente a mural com imagem de Carlos Gardel, em Buenos Aires, em 4 de maio de 2020.JUAN MABROMATA (AFP)
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Buenos Aires volta à fase mais dura da quarentena. O presidente Alberto Fernández anunciou na sexta-feira que combaterá com mais confinamento a escalada de casos de covid-19 na capital argentina e sua área metropolitana, onde estão concentrados 93,5% de todos os novos positivos. Após quase cem dias de confinamento, o Governo pediu “outro esforço” à população para “achatar a curva” de contágios. “A partir de segunda-feira o transporte será reduzido ao uso de 24 atividades essenciais. Na quarta, daremos mais um passo: pediremos a todos que voltem a se isolar em suas casas e saiam somente para comprar provisões à vida cotidiana. Será assim até 17 de julho”, disse Fernández em um anúncio gravado. O interior do país vive outro cenário, onde quase não se registram casos positivos e as restrições de movimento são mínimas.

A estratégia argentina contra a doença é cada vez menos nacional e mais AMBA, como se chama o conjunto integrado pela cidade de Buenos Aires e os distritos provinciais que a cercam. Nele vivem 16 milhões de pessoas, equivalentes a 35% da população do país, em 1% do território. A concentração de gente complicou o controle da pandemia, apesar das medidas de isolamento. Enquanto os casos de coronavírus pouco crescem no restante da Argentina, no grande conglomerado urbano a curva sobe há duas semanas sem interrupção. Dos 2.606 positivos registrados na quinta-feira, 2.424 foram detectados em Buenos Aires. O temor das autoridades é que se fase mais rígida da quarentena não voltar bastarão três semanas para que o sistema de saúde da área, que hoje está com 54% de sua capacidade, colapse. “O AMBA está infectando o restante do país e é preciso isolá-lo”, disse Fernández.

A Argentina tem 52.457 positivos de coronavírus e 1.167 mortos. São números muito baixos comparados a vizinhos como o Brasil (quase 1,3 milhão de contágios emais de 55.000 mortos) e o Chile (260.000 casos e 7.000 mortos). As autoridades atribuem o controle da pandemia à quarentena vigente desde 20 de março, mas temem agora que um relaxamento dispare os casos em Buenos Aires. “Nos últimos 20 dias, os casos aumentaram 147%, os mortos em 95%. Isso era algo que sabíamos que poderia ocorrer e estávamos preparados para combater”, disse Fernández. O sucesso da estratégia dependerá no nível de obediência da população, cansada após cem dias de confinamento e uma economia em queda livre.

Pela primeira vez desde o começo da quarentena, o anúncio da extensão, a quinta desde 20 de março, foi gravado. O cenário, entretanto, foi o mesmo das outras ocasiões: o presidente Fernández estava acompanhado pelo prefeito de Buenos Aires, o oposicionista Horacio Rodríguez Larreta, e o governador da província de Buenos Aires, o situacionista Axel Kicillof. A pandemia jogou para o futuro as diferenças políticas, obrigando Rodríguez Larreta e Kicillof, dois dirigentes que estão em lados opostos politicamente, a se entender.

Crescimento da pobreza

A prolongada quarentena agravou a pobreza e as desigualdades sociais na Argentina, admite o ministro de Desenvolvimento Social, Daniel Arroyo. “A emergência alimentar afetava oito milhões de pessoas, hoje passamos a onze”, disse Arroyo ao EL PAÍS. Um em cada quatro argentinos tem rendimentos insuficientes para comprar alimentos, o que obrigou o Governo a aumentar as ajudas sociais, que hoje significam 3% do PIB argentino.

Ainda que Buenos Aires e sua área metropolitana se aproximem do pico da pandemia, o horizonte previsto para o final do ano é devastador, especialmente às crianças. De acordo com as Nações Unidas, quase 60% das crianças e adolescentes do país habitará lares pobres.

Arroyo acha que para sair da crise atual a Argentina deve encarar “mudanças estruturais” em sua reconstrução. Entre elas está a urbanização das aproximadamente 4.000 favelas em que moram mais de 4 milhões de pessoas e que se transformaram em um dos pontos mais vulneráveis da pandemia pela lotação das moradias e os problemas de abastecimento de água.

O Governo de Fernández também pretende colocar em andamento planos de trabalho e quer criar uma renda básica semelhante à aprovada na Espanha para substituir a atual Renda Familiar de Emergência.

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