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Tensão entre Washington e Pequim aumenta com novas restrições dos EUA à Huawei

Os dois países, também em confronto sobre o status de Taiwan e a origem do coronavírus, terão uma reunião na segunda-feira em uma complicada Assembleia da Organização Mundial da Saúde.

Nesta foto de arquivo, tirada em 22 de abril, pessoas passam diante de uma loja da Huawei em Pequim.
Nesta foto de arquivo, tirada em 22 de abril, pessoas passam diante de uma loja da Huawei em Pequim.NICOLAS ASFOURI (AFP)
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A escalada da tensão entre os Estados Unidos e a China sobe um novo degrau, embora em uma frente já conhecida: o embate tecnológico entre as duas potências. O Governo Donald Trump anunciou nesta sexta-feira novas restrições à chinesa Huawei, desta vez, limitações à capacidade da empresa de empregar tecnologia e software norte-americanos na fabricação e design de seus semicondutores no exterior. Na prática, isso significa impedir que a segunda maior fabricante de celulares do mundo receba remessas de fabricantes de mundiais de chips. Mesmo assim, renovou por mais 90 dias, até 13 de agosto, as licenças de empresas que já negociam com a Huawei.

O Departamento de Comércio justificou as restrições aos semicondutores pela necessidade de “proteger a segurança nacional” e pelas tentativas da empresa asiática de “minar os controles de exportação” nos Estados Unidos, apesar da trégua no restante, um jogo explicado por razões econômicas e de equilíbrio político em meio à maior crise econômica desde a Grande Depressão, como consequência do coronavírus.

O anúncio ocorre em um momento turbulento nas relações entre Washington e Pequim em decorrência da brutal pandemia pela qual os Estados Unidos responsabilizam em boa parte a gestão do regime chinês. Na noite de quinta-feira, em uma entrevista à rede de televisão Fox, Trump sugeriu a possibilidade de “romper todas as relações” com o gigante asiático. “Há muitas coisas que poderíamos fazer”, disse, e acrescentou: “Poderíamos romper todas as relações.”

Os Estados Unidos acusam a Huawei de espionar para a ditadura chinesa por meio de seus dispositivos e, por isso, submeteram a empresa a diferentes medidas de veto que afetaram suas finanças. O fabricante alcançou um lucro líquido de 62,7 bilhões de iuanes (cerca de 50 bilhões de reais) em 2019, o que é uma boa fatia e um aumento de 5,6%, mas está longe dos 25% de expansão obtidos em 2018.

De acordo com o jornal Global Times, de propriedade do Partido Comunista da China, que cita uma fonte anônima próxima ao Governo, as autoridades chinesas estão dispostas a responder com uma série de medidas, como a colocação de empresas norte-americanas em sua própria lista negra de entidades que prejudicam os interesses chineses, uma iniciativa que já havia ameaçado adotar no ano passado, quando o Departamento de Comércio anunciou as primeiras restrições contra a Huawei, sua joia da coroa tecnológica.

As represálias também incluiriam a abertura de investigações e a imposição de restrições contra gigantes da tecnologia como Apple, Cisco e Qualcomm, bem como a suspensão da compra de aviões fabricadas pela aeronáutica Boeing, acrescenta o jornal. "A China tomará medidas contundentes para proteger seus interesses legítimos" se os Estados Unidos seguirem com os planos anunciados, disse a fonte, segundo o jornal oficial chinês.

O novo atrito ocorre quando os dois países já estão imersos em uma amarga disputa sobre as origens da pandemia da covid-19, que cristalizou toda a tensão e desconfiança que ambos acumulam há anos. Os Estados Unidos exigem uma investigação sobre o início da crise e Trump acredita que o vírus saiu de um laboratório na cidade chinesa de Wuhan, enquanto a China rejeita essa acusação e afirma que não há nada claro. A disputa ameaça se estender para a Assembleia mundial de ministros da Saúde da OMS na próxima segunda e terça-feira, com Taiwan e pesquisas sobre as origens da epidemia como catalisadores.

Taiwan, que a China considera uma parte inalienável de seu território, pediu permissão para participar como observadora na reunião de dois dias. Deu como argumento a necessidade de saber em primeira mão o que será tratado sobre a pandemia. A ilha manteve esse status entre 2009 e 2016, mas a pressão de Pequim fez com que fosse retirada, após a vitória eleitoral da presidenta Tsai Ing-wen, que o Governo de Xi Jinping considera independentista, e a deterioração dos laços entre os dois lados do estreito. Desta vez, as pressões de Taiwan receberam o respaldo dos Estados Unidos e de países aliados, incluindo Japão, Austrália, Reino Unido e várias nações europeias. Entre seus argumentos, o de que o mundo se beneficiaria por conhecer em profundidade o modelo taiwanês de resposta à pandemia, que deixou apenas 440 infectados e sete mortos na ilha.

A China se moveu com rapidez e contundência para evitar o que seria um forte revés diplomático e garantir o apoio de outros países diante da pressão dos EUA na OMS. Nos últimos dias, o Ministério das Relações Exteriores da China multiplicou seus telefonemas para outros ministérios das Relações Exteriores para discutir a resposta à pandemia e à Assembleia. O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, entrou em contato com colegas de países europeus. Seu vice-ministro Zheng Zeguang manteve teleconferências com países do Pacífico e do Caribe.

Segundo a agência de notícias Xinhua, pelo menos o ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjanto, expressou o apoio de seu país ao “princípio de uma só China” ―a doutrina de Pequim que considera Taiwan apenas uma província de seu território― e a recusa da Hungria em permitir que a ilha participe da assembleia.

A OMS alega que não lhe compete decidir sobre a situação de Taiwan, mas aos países membros. A China defende que é a representante da ilha, enquanto Taiwan sustenta que somente seu Governo, eleito democraticamente, pode representar os 23 milhões que habitam seu território.

Embora Taiwan não tenha recebido um convite para participar da Assembleia, seu ministro da Saúde, Chen Shih-chung, garantiu que a ilha prosseguirá com seus esforços para participar.

Em um comunicado divulgado na sede da OMS em Genebra, a representação diplomática dos EUA reiterou que saber mais sobre a gestão da pandemia em Taiwan beneficiaria o restante do mundo, mas a China "preferiria que esse sucesso não seja compartilhado, certamente para evitar comparações incômodas”.

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