_
_
_
_
_

China amplia a quarentena pelo coronavírus e deixa 41 milhões de pessoas isoladas

Governo anuncia a construção de um hospital a toque de caixa para atender casos da doença, que já deixou 26 mortos e 894 infectados

Agentes verificam temperatura de viajantes procedentes de Wuhan na estação de Hangzhou (China).
Agentes verificam temperatura de viajantes procedentes de Wuhan na estação de Hangzhou (China).AP

A China ampliou o fechamento de cidades para controlar a transmissão do novo coronavírus. Após a abrupta quarentena imposta a Wuhan, cidade de 11 milhões de habitantes que é o foco da infecção, as autoridades ordenaram o isolamento de dezenas de localidades próximas, incluindo Huanggang, com 7,5 milhões de habitantes.

Mais informações
Guangzhou (China), 22/01/2020.- A passenger shows an illustration of the coronavirus on his mobile phone at Guangzhou airport in Guangzhou, Guangdong Province, China, 23 January 2020. The outbreak of coronavirus has so far claimed 17 lives and infected more than 550 others, according to media reports. Authorities in Wuhan announced on 23 January, a complete travel ban on residents of Wuhan in an effort to contain the spread of the virus. EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI
Cronologia e perguntas e respostas sobre o coronavírus chinês
WUHAN, CHINA - JANUARY 22: People wear face masks as they wait at Hankou Railway Station on January 22, 2020 in Wuhan, China. A new infectious coronavirus known as "2019-nCoV" was discovered in Wuhan last week. Health officials stepped up efforts to contain the spread of the pneumonia-like disease which medical experts confirmed can be passed from human to human. Cases have been reported in other countries including the United States,Thailand, Japan, Taiwan, and South Korea. It is reported that Wuhan will suspend all public transportation at 10 AM on January 23, 2020.  (Photo by Xiaolu Chu/Getty Images)
Wuhan, uma cidade de 11 milhões de pessoas em quarentena

Além do bloqueio das cidades, medida que afeta mais de 41 milhões de pessoas, o Governo planeja construir a toque de caixa um novo hospital em Wuhan que centralizará o tratamento desses pacientes. Conforme noticiado pela TV estatal CCTV, a unidade será construída na periferia ocidental da cidade, próximo ao que antes era um complexo de descanso para os trabalhadores. As obras começaram nesta quinta-feira e devem ser concluídas na segunda-feira, 3 de fevereiro.

A ideia de montar um hospital recém-construído e encaminhar os infectados com o coronavírus para lá reproduz o que foi feito em 2003 durante a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que deixou mais de 700 mortos. Na época, Pequim ordenou a construção de uma clínica especializada, a de Xiaotangshang, nos arredores ao norte da capital. Cerca de 7.000 trabalhadores levaram apenas uma semana para construir a unidade.

Em outras grandes cidades chinesas, os governos locais anunciaram o cancelamento das celebrações públicas do Ano-Novo lunar, a partir deste sábado, para evitar o contágio. A Prefeitura de Pequim anunciou o cancelamento de grandes eventos: não serão realizadas as populares feiras do templo, que reúnem milhares de pessoas em alguns dos parques e templos mais frequentados da capital, com oferta de espetáculos tradicionais e jogos, uma medida à qual aderiu também Wuhan, a região autônoma de Macau e a província costeira de Zhejiang.

Nessa província, a cidade de Hangzhou, com 9,8 milhões de habitantes, anunciou que suspenderá shows e passeios em barcos de maior tamanho no Lago do Oeste, sua principal atração turística. Museus e outros pontos onde os visitantes tendem a se reunir também serão fechados.

Os dados mais recentes sobre o coronavírus conhecido como Wuhan 2019-nCoV indicam 26 mortos e 894 infectados. O patógeno já chegou a 16 países, incluindo Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Na quinta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) descartou nesta a declaração de um alerta internacional, embora tenha afirmado que poderá se reunir novamente por esse motivo nos próximos dias. Por enquanto, a OMS avisa: “a comunidade global deve estar preparada”.

As autoridades chinesas rastrearam a origem da infecção e chegaram ao mercado de Huanan, em Wuhan. Embora seu nome oficial o descreva como um ponto de venda de frutos do mar e peixes, são vendidas muitas espécies de animais selvagens, desde filhotes de lobo a morcegos. A Comissão Nacional de Saúde admitiu que o vírus foi transmitido de um animal para o ser humano, embora não tenha especificado qual teria sido a espécie.

Um primeiro estudo publicado na terça-feira na revista Science China Life Sciences, da Academia Chinesa de Ciências, analisou a relação entre o novo coronavírus e similares. Entre suas conclusões constatou que o patógeno estava intimamente relacionado a uma cepa que infecta morcegos. Mas também indicou a probabilidade de a infecção ter ocorrido por um animal intermediário. O trabalho dos cinco cientistas chineses publicado pela revista Journal of Medical Virology sugere que este animal é provavelmente uma cobra.

"O 2019-nCoV parece ser um vírus recombinante entre o coronavírus dos morcegos e outro coronavírus de origem desconhecida", explicam os especialistas. "Nossa pesquisa conclui que a cobra é o animal selvagem mais provável."

O estudo, que lembra que as cobras estavam entre as espécies vendidas no mercado de Wuhan, especifica que no sudeste da China, a área onde a cidade está localizada, duas espécies são endêmicas, a cobra chinesa ou Naja Atra e a Bulgarus Multicinctus. As cobras “também eram vendidas no mercado de Huanan, onde muitos dos pacientes trabalhavam ou tinham histórico de exposição a animais selvagens ou de fazendas”, explicam eles.

Embora o consumo não seja habitual, a carne de cobra é apreciada na tradição chinesa por suas supostas propriedades afrodisíacas, para proporcionar calor no inverno e dar uma aparência mais saudável à pele.

A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que em 2003 deixou quase 700 mortos na China e em outros países, estava vinculada ao consumo de carne de civeta, um felino selvagem originário do Sul e Sudeste Asiático.


Cronologia do caso

31 de dezembro de 2019. A China informa sobre um caso de pneumonia de origem desconhecida detectado na cidade de Wuhan.

3 de janeiro. Notificados os primeiros 44 casos de uma misteriosa pneumonia.

7 de janeiro. As autoridades chinesas identificam um novo tipo de coronavírus.

11 de janeiro. Primeira morte confirmada pela nova pneumonia.

11 e 12 de janeiro. A Comissão Nacional de Saúde da China informa que o surto está associado ao contato com frutos do mar em um mercado na cidade de Wuhan.

12 de janeiro. A China compartilha o sequenciamento genético do novo coronavírus para que os demais países possam estudá-lo e desenvolver ferramentas específicas de diagnóstico.

13 de janeiro. A Tailândia notifica o primeiro caso importado do novo coronavírus (2019-nCoV) de Wuhan, confirmado por laboratório.

15 de janeiro. O Japão relata um caso importado do coronavírus.

20 de janeiro. A Coreia do Sul relata um caso confirmado. A cifra oficial de contaminados sobe a 198.

21 de janeiro. Os Estados Unidos notificam o primeiro caso confirmado fora da Ásia.


Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_