Fracassa a primeira tentativa de retorno de um campeonato sul-americano
Dezenas de contágios por covid-19 em três equipes paraguaias obrigam as autoridades a adiar a partida de retomada. Equador, Peru e Brasil se preparam para a volta ao campo
Como a América do Sul sem futebol soa como um paradoxo, um oceano sem água, na sexta-feira, dia 17, foi feita uma tentativa de reabrir o fluxo das partidas, nos arredores de Assunção. O experimento foi um fracasso. No que deveria ser o primeiro ensaio de retomada das competições nacionais após a suspensão imposta pelo coronavírus, o campeonato paraguaio tropeçou na confusão, na pressa e nos perigos de contágios que rodeiam o regresso desse esporte: dezenas de casos positivos em três clubes forçaram a associação de futebol local a adiar a data, programada para este fim de semana.
As próximas semanas serão decisivas para determinar se a América do Sul está caminhando para o retorno do futebol ou para uma ameaça à saúde de jogadores, treinadores, médicos e auxiliares de seus clubes. Além da tentativa de restaurar a normalidade no Paraguai, que em princípio adiou seu retorno para a próxima quarta-feira, dia 22, outros países já têm datas confirmadas, embora sempre na dependência da evolução da pandemia: a bola rolará de novo no Equador em 29 de julho, o calendário no Peru será retomado em 7 de agosto, e Uruguai e Brasil marcaram partidas para o dia 8 do próximo mês.
O reinício da Copa Libertadores, previsto para 15 de setembro, serviu para pressionar equipes dos demais países a retornarem aos treinos nos últimos dias. Alguns clubes da Colômbia e Venezuela voltaram a treinar na semana passada, os do Chile começaram nesta sexta-feira e os da Argentina e Bolívia se unirão a eles no início de agosto. A América Latina poderá manter as fronteiras fechadas para seus cidadãos, mas não para seus jogadores de futebol.
Fragilidade
No entanto, a situação é tão frágil que a retomada do torneio Abertura do Paraguai foi suspensa na manhã do mesmo dia em que deveria acontecer. Logo no início da sexta-feira, a associação local anunciou que 52 pessoas de três times ― San Lorenzo, 12 de Octubre e Guarani ―, haviam testado positivo na noite de quinta-feira. Na grande maioria, os afetados não são jogadores, mas membros da equipe técnica dos clubes. Os testes feitos por três árbitros foram inconclusivos. As autoridades decidiram realizar novos protocolos de controle e acreditam que o torneio possa ser retomado no meio desta semana.
O que é emblemático neste caso é que as ligas nacionais da América do Sul deveriam voltar a campo na sexta-feira com dois jogos: o General Díaz-San Lorenzo e o Sportivo Luqueño-Olímpia, que iriam ser disputados em Luque, nos arredores da capital Assunção, e também sede da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Do prédio comandado por Alejandro Domínguez basta andar 800 metros para chegar ao estádio do General Díaz e mais três quilômetros até o estádio do Sportivo Luqueño. Quem caminhar, claro, terá de usar máscaras e respeitar o distanciamento social. Embora Paraguai e Uruguai sejam os dois países da América do Sul com o menor número de casos de coronavírus, Luque foi declarada em emergência de saúde na semana passada por causa de um surto: 40 funcionários de um supermercado na cidade-sede da Conmebol testaram positivo.
Em contraste com a propagação da pandemia na América, mas em sintonia com os desejos dos proprietários de direitos televisivos, a própria Conmebol confirmou na sexta-feira passada que as competições internacionais voltarão em breve: a Copa Libertadores 2020, interrompida em 11 de março, retornará em 15 de setembro. “Definiram uma data um tanto arbitrária”, reclamou o ministro da Saúde da Argentina, Ginés González García.
Como o cronograma original da competição está mantido, várias equipes deverão visitar o Brasil, o país com o segundo maior número de mortes no mundo, e receber os brasileiros nos estádios de suas respectivas cidades. Ainda não está claro se o retorno da Copa Libertadores será realidade dentro de algumas semanas ou continuará como um desejo da Conmebol.
Enquanto isso, à espera de que o Paraguai reinicie seu campeonato nesta quarta-feira, na segunda competição a ser retomada ― ao menos, é o que se supõe ― também paira a dúvida. Embora a Federação do Equador mantenha a quarta-feira, 29, como data do regresso, o forte avanço do vírus em Quito já alterou parte do cronograma. Dos dois amistosos programados para a próxima semana como simulacro para aplicar o protocolo ― um em Guayaquil e outro em Quito ―, o da capital equatoriana foi adiado e será redefinido. As autoridades equatorianas farão a avaliação final após os dois ensaios.
Peru, Brasil e Uruguai
Nada parece impedir a volta do futebol no Peru, o quinto país do mundo com mais casos de coronavírus. O Torneio Abertura será retomado na sexta-feira, 7 de agosto, em formato de emergência: todos os jogos serão disputados em seis estádios em Lima, sem condição de mandante nem visitantes e, logicamente, sem público. As 20 equipes da Primeira, incluindo as 13 do interior do país, já treinam na capital peruana e permanecem alojadas em hotéis, sob protocolo: mais de 30 jogadores deram positivo.
No dia seguinte, sábado, 8 de agosto, está programado o retorno no Uruguai e no Brasil. As equipes uruguaias treinam há várias semanas, dias atrás começaram a jogar amistosos e o reinício incluirá o clássico do país: Nacional e Peñarol no domingo, 9, em Montevidéu. Seguindo o descontrole na saúde que afeta o Brasil, o futebol no país é uma grande confusão: alguns torneios estaduais, como o Campeonato Carioca, já terminaram, enquanto o de São Paulo será retomado nesta quarta-feira, 22, com outro clássico, Corinthians x Palmeiras. O início do Campeonato Brasileiro está marcado para daqui a três semanas, embora nem todas as equipes tenham começado a treinar. Sem data marcada, no Chile o futebol deve retornar também em meados de agosto. Argentina e Colômbia retomariam as atividades em meados de setembro ou início de outubro, ou seja, com a Copa Libertadores já em andamento. O futebol sul-americano começou as disputas também contra a pandemia.
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