Dois acidentes simultâneos em motores de aviões da Boeing põem em xeque de novo a gigante aeronáutica

No sábado, aeronaves da empresa tiveram que pousar com urgência nos EUA e na Bélgica

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Dois Boeings 777 da Japan Airlines, no aeroporto Haneda, de Tóquio, em 2014.FRANCK ROBICHON (EFE)
María Antonia Sánchez-Vallejo
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A Boeing não para de ter sobressaltos. Abalada pelo impacto da pandemia, a gigante da aeronáutica encadeia acidentes que questionam a segurança de seus aviões e mancham ainda mais sua reputação corporativa, após dois episódios fatais registrados nos últimos anos. Os mais recentes foram no último sábado: a queda de partes da fuselagem de um voo comercial em Denver (EUA) e a perda das pás da turbina de um cargueiro em Maastricht (Holanda), após falhas individuais em seus motores. Embora nenhum dos eventos tenha causado ferimentos graves, o fabricante anunciou a imobilização dos 128 aparelhos do modelo 777 com motor Pratt & Whitney (PW) —o avariado em Denver—, enquanto as autoridades holandesas investigam o que aconteceu com o cargueiro 747-400 (Jumbo), que após o incêndio de um de seus motores, também PW, espalhou pequenos pedaços de metal sobre as cidades de Meerssen e Maastricht. Duas pessoas ficaram levemente feridas.

Os incidentes, de causa ainda desconhecida, são mais um revés para uma empresa que, como todo o setor, sofre com o colapso das operações por causa da pandemia e a grave crise de reputação que se seguiu a dois acidentes fatais em 2018 e 2019, na Indonésia e na Etiópia, respectivamente.

Até os acidentes de sábado, nos dois lados do Atlântico a Boeing mal havia conseguido desfrutar alguns meses de alguma normalidade depois de receber, no final de novembro, autorização para retomar os voos de seu modelo 737 MAX, que estava em solo havia quase dois anos em consequência dos episódios fatais, com 346 mortos.

As ações da Boeing caíram quase 4% na abertura do pregão em Wall Street nesta segunda-feira, se estabilizando depois. As da Raytheon Technologies Corporation, proprietária dos motores Pratt & Whitney, também caíram, cerca de 2% nos estágios iniciais de comercialização na bolsa.

As 128 aeronaves Boeing 777, equipadas com o modelo de motor envolvido no acidente do avião que decolou do Colorado, o P&W 4000-112, foram imobilizadas em solo, confirmou nesta segunda-feira um porta-voz da empresa, seguindo a “recomendação” de suspender os voos adotada na véspera. A companhia aérea norte-americana United Airlines, protagonista do acidente; as duas maiores empresas japonesas, ANA e JAL, e a sul-coreana Asiana Airlines já haviam anunciado entre domingo e esta segunda-feira a imobilização desse tipo de avião em suas frotas. São praticamente todas as companhias aéreas que operam com este modelo. De acordo com a Agência Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA), apenas companhias aéreas dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul usam o 777 P&W 4000.

O Ministério dos Transportes do Japão indicou nesta segunda-feira que já havia ordenado inspeções mais rígidas depois que um 777 que fazia a rota de Tóquio a Naha, na ilha de Okinawa, sofreu problemas com “um motor da mesma família” em dezembro. O tipo PW4000 é usado apenas nos B777s, embora a maioria dos aparelhos desta série esteja equipada com motores GE Aviation.

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O Reino Unido também anunciou a proibição temporária de entrada em seu espaço aéreo do modelo acidentado em Denver, enquanto a Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA, na sigla em inglês) solicitou mais informações sobre esses motores, mas descartou a possibilidade de que os dois incidentes estejam relacionados. Por sua vez, a PW, que pertence à Raytheon —uma das mais importantes subcontratadas do setor de defesa dos Estados Unidos—, comunicou que está coordenando com os órgãos reguladores aéreos uma revisão dos protocolos de inspeção. De acordo com a primeira estimativa da FAA, a falha do avião de Denver parece ter ocorrido por causa das “pás ocas do ventilador que são exclusivas deste modelo de motor, usado apenas nos Boeing 777s”, disse Steve Dickson, administrador da FAA, em um comunicado.

Dickson explicou que, após consultar sua equipe de especialistas, ordenou que eles emitissem “uma diretriz de aeronavegabilidade de emergência que exigirá inspeções imediatas ou intensificadas das aeronaves Boeing 777 equipadas com determinados motores Pratt & Whitney PW4000”.

Ambos os aviões avariados se viram forçados a fazer pousos de emergência logo após a decolagem. O que saiu de Maastricht para Nova York, com um carregamento de produtos farmacêuticos, o fez em Liège (Bélgica). O de Denver, com 241 pessoas a bordo, voltou para o mesmo aeroporto, mas deixou a cidade suburbana de Broomfield repleta de resíduos perigosos, tendo um pedaço da fuselagem caído na porta de uma casa.

Das 128 aeronaves imobilizadas, 69 estão em operação e 59 em depósitos. Durante os quase dois anos de imobilização dos modelos acidentados na Indonésia e na Etiópia, o 737 MAX, a empresa perdeu cerca de 20 bilhões de dólares (109 bilhões de reais, incluindo indenizações às vítimas), além de 1.000 encomendas e um corte de funcionários de quase 19% somente em 2020.

A crise salpicou na FAA, acusada no passado de dar tratamento preferencial à Boeing e cujos procedimentos foram reformados em novembro por um comitê do Senado dos Estados Unidos. As dúvidas sobre o escrutínio na certificação dos aparelhos abalaram a tradicional liderança do órgão regulador, cujas diretrizes foram assumidas sem questionamento durante décadas pelos demais países, ao mesmo tempo que revalorizaram o papel dos reguladores mundiais.

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