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Regina Duarte deixa a Secretaria da Cultura para assumir a Cinemateca em São Paulo

Bolsonaro nega “fritura” da atriz e anuncia a mudança na pasta em um vídeo no Twitter. Ela agora assume órgão mergulhado em crise financeira e ocupado por militares e políticos da extrema direita

A atriz Regina Duarte, no Palácio do Planalto, em 29 de janeiro.
A atriz Regina Duarte, no Palácio do Planalto, em 29 de janeiro.ADRIANO MACHADO (Reuters)

A atriz Regina Duarte deixou na manhã desta quarta-feira a Secretaria da Cultura do Governo de Jair Bolsonaro. Ela, que havia assumido a pasta há pouco mais de dois meses, será transferida para o comando da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, onde mora, alegando saudades da família. A informação foi confirmada em vídeo publicado na conta oficial de Bolsonaro no Twitter, onde Regina aparece bem-humorada e agradecendo ao presidente. A permanência de Duarte no Governo Bolsonaro já vinha sendo colocada em xeque havia algumas semanas, mas no anúncio o presidente negou ter “fritado” a atriz, a despeito de ter desidratado o poder da agora ex-secretária no comando da cultura do país.

No vídeo, Regina Duarte questiona, em tom de brincadeira, se Bolsonaro a estava “fritando” enquanto secretária da Cultura. “Toda semana, tem um ou dois ministros que estão sendo fritados para a imprensa. O objetivo é sempre desestabilizar a gente e jogar o Governo no chão. Não vão conseguir. Jamais iria fritar você”, respondeu entre risadas o presidente. A atriz agradece a Bolsonaro e chama de “sonho” e “presente” ser nomeada para comandar a Cinemateca, além de confirmar a “saudade dos netos” como motivo para deixar Brasília e voltar a São Paulo.

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Regina Duarte assumiu a pasta no dia 4 de março de 2020, após uma novela de quase dois meses que se seguiu depois da demissão do antecessor Roberto Alvim, que usou trechos de um discurso nazista em um de seus pronunciamentos. O noivado entre Bolsonaro e a atriz foi mais marcante do que o breve período em que a intérprete efetivamente ocupou a pasta de Cultura. Sem implementar políticas para o setor, principalmente no momento em que a pandemia do novo coronavírus prejudica financeiramente artistas de todo o país, Duarte demorou dois meses apenas para nomear seu número 2. Pedro Horta, que era seu chefe de gabinete, assumiu como secretário especial adjunto.

Alvo de críticas da ala olavista do Governo mesmo antes de assumir a secretaria, Duarte enfrentou dificuldades até o último momento para fechar sua equipe. O pesquisador Aquiles Brayner, por exemplo, indicado para a diretoria do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas, foi demitido três dias após sua nomeação, devido à pressão de perfis bolsonaristas nas redes sociais. Depois, Brayner afirmou que tais grupos formam um “grande complô para derrubar qualquer ação legítima no âmbito da cultura”.

Os momentos mais marcantes da breve passagem da atriz pela pasta foram seu silêncio perante as mortes de pilares da cultura brasileira, como o cantor e compositor Moraes Moreira, o escritor Rubem Fonseca e o compositor Aldir Blanc. Cobrada por profissionais do setor e pela imprensa, Duarte afirmou, em entrevista à CNN, no dia 7 de maio, que preferiu prestar suas condolências diretamente às famílias dos mortos —informação depois negada pelos familiares dos artistas.

A entrevista à CNN foi, quiçá, o adeus inicial à Secretaria Especial de Cultura. Durante a conversa, ela minimizou as mortes ocorridas durante a ditadura militar brasileira, chegando a rir sobre o assunto enquanto cantava a marchinha Pra Frente Brasil, símbolo da época. A entrevista acabou tornando-se um bate-boca entre a então secretária da Cultura e os apresentadores, e Duarte encerrou a conversa ao vivo, recusando-se a responder mais perguntas.

Ida para a Cinemateca

A atriz assume agora a Cinemateca em São Paulo, instituição federal com mais de 70 anos que se dedica a preservar a produção audiovisual brasileira. O mais cotado para substituí-la na Secretaria é o ator Mário Frias, que se encontrou ontem com Bolsonaro em um almoço, que também contou com as presenças dos presidentes de Vasco e Flamengo, para discutir a volta dos jogos de futebol no país.

O que Duarte considera um “presente” mais parece um presente de grego. A Cinemateca Brasileira está mergulhada em uma crise financeira e passou a ser ocupada por militares e políticos contrários aos que dizem ser o “marxismo cultural”. A Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), entidade que gere a Cinemateca, parou de receber os devidos recursos federais desde o vencimento do contrato de gestão em dezembro de 2019, e afirma que a Cinemateca —responsável pela gestão de mais de 250.000 rolos de filmes, além de além de um milhão de documentos que contam a História do cinema brasileiro— está sendo mantida com o dinheiro de caixa da instituição. A Acerp também afirma que os salários dos funcionários estão atrasados, situação agravada pela pandemia.

Além disso, desde setembro do ano passado, conforme noticiou o jornal Folha de S. Paulo, militares e políticos com agenda conservadora têm ocupado a Cinemateca e realizado reuniões para discutir eventos e a programação cultural da instituição. Em outubro, foi realizada uma mostra de filmes militares.

Na Cinemateca, Regina Duarte terá de conviver com Rodrigo Morais, assessor especial da Acerp e responsável por projetos. Ex-secretário-geral do PSL em São Paulo e próximo a Eduardo Bolsonaro, Morais também é admirador com as ideias de Olavo de Carvalho, principalmente a tese de que a direita deve combater a hegemonia cultural de esquerda.

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