_
_
_
_

A fórmula do 10-3-2-1-0 e outras dicas para dormir bem

Falamos com especialistas médicos para saber quais medidas podemos tomar para passar de ter um sono superficial e pouco reparador a ter um profundo e curador

A qualidade do sono pode estar diretamente relacionada como que fazemos horas antes de nos deitar.
A qualidade do sono pode estar diretamente relacionada como que fazemos horas antes de nos deitar.

Poucas coisas são tão desesperadoras como deitar na cama e não conseguir dormir. Você tenta não pensar nisso, faz esforços para não olhar o relógio, fecha os olhos com força e até conta ovelhinhas (ou o que for). Mas há dias em que nem isso adianta: o sono resiste a chegar. Antes de utilizar remédios, revise seus hábitos, porque talvez esteja aí a causa do problema.

Membro da Sociedade Espanhola do Sono, a doutora Rybel Wyx, especialista em Neurofisiologia Clínica e Medicina do Sono na Unidade do Sono do Hospital HM Sanchinaro e HM Puerta del Sur, frisa que “o mecanismo do sono não funciona com um interruptor de ligar e desligar. Uma pessoa saudável demora de 15 a 30 minutos para adormecer. É o tempo que precisa para realizar o relaxamento progressivo, que é como denominamos esse processo em que o corpo reduz sua temperatura e o cérebro e o corpo vão relaxando pouco a pouco. Não é instantâneo. Acima desse tempo você está demorando para conciliar e pode ser que exista um problema de insônia”.

Quando seu cérebro te sabota

O relaxamento progressivo funciona em pessoas saudáveis e em circunstâncias sem estresse. “Nas pessoas com problemas de insônia é o próprio cérebro que dificulta, por assim dizer, ficar em branco para que o sono chegue. Acontece porque o sistema límbico, que é o regulador das emoções, está excepcionalmente ativo e não permite que o córtex frontal relaxe”, diz a doutora Wyx. Essas pessoas são muito sensíveis a qualquer estímulo. “Um ruído que para outra pessoa que dorme bem será neutro, o paciente com insônia o magnifica. Por isso, mesmo fazendo exercícios de relaxamento, vai demorar para que consiga adormecer”.

A técnica infalível para conciliar o sono é a respiração 4-7-8 ou “respiração relaxante”: inspirar durante 4 segundos, prender a respiração durante 7 segundos e exalar de modo lento e profundo durante 8 segundos. Com esta técnica se reduz a produção de cortisol, o hormônio do estresse, e é mais fácil relaxar. Outra estratégia que funciona é dedicar alguns minutos à meditação antes de deitar no travesseiro. “Os monges budistas o fazem há séculos. Há evidência científica de que a ioga e a meditação podem fazer com que o córtex órbito-frontal fique insensível ao sistema límbico”.

O método das sete Ds

Não pregar o olho uma noite te deixa acabado no restante do dia. Se a coisa se prolonga, a saúde se ressente. A Sociedade Mundial do Sono estima que os problemas do sono ameaçam a saúde e a qualidade de vida de até 45% da população mundial. Jana Fernández é especialista em comunicação e master em Fisiologia do Sono. Acaba de publicar Aprenda a Descansar, um livro onde coloca seus conhecimentos sobre o sono e como dormir mal pode dinamitar tudo o que pretendemos fazer durante o dia. “Não importa o quão saudável e ecológico você se alimenta e como seu treinamento está planejado. Se não permite que seu corpo se restaure, se regenere, se recupere e se reinicie todos os dias, você está perdido”, diz.

Ela apresenta uma estratégia em sete etapas, o “método dos 7 D”: decisão, disciplina, dieta e desporto, dormir, desacelerar, desconectar e desfrutar. “Vivemos na ditadura da pressa, de colocar tudo na agenda para, na sequência, nos queixar de que não temos tempo para nada. É preciso repensar suas prioridades, eliminar as coisas que roubam o tempo (por exemplo, as horas mortas que passamos nas redes sociais) e fixar rotinas diárias. Como diz o doutor Javier Albares, especialista do Centro Médico Teknon de Barcelona, a qualidade de suas noites depende da qualidade de seus dias”, explica Fernández.

Ela reconhece que não há uma “dieta milagrosa” para dormir bem, além de se alimentar saudavelmente e com horários regulares. O esporte, especialmente do tipo aeróbico “faz com que o cérebro secrete endorfinas que relaxam o corpo e aliviam estados anímicos negativos”, diz Fernández. Os especialistas em sono concordam: o esporte moderado ajuda a regularizar o sono por essa torrente hormonal de satisfação e porque obriga o corpo a lançar o sinal de “estou cansado, você precisa dormir para poder me reparar”. Só há uma limitação: não deve ser praticado nas horas prévias a ir se deitar ou o aumento do ânimo pós treinamento dificultará que você concilie o sono.

Para que a D de dormir se cumpra temos que fazer nossa parte. “É melhor fazê-lo de modo regular, procurar se deitar sempre na mesma hora e reservar as horas que nosso corpo precisa (7-9 em média em um adulto) e em condições específicas (ambiente fresco, escuridão, ausência de ruídos, etc.)”, acrescenta Fernández. O que fazemos durante o dia também repercutirá no sono. “Não podemos lotar nossa agenda de coisas a fazer, e devemos fazer um uso controlado e com propósito das tecnologias. Aqui estariam o D de Desconectar e o D de Desacelerar. E como nem tudo serão restrições, nos resta o D de Desfrutar os pequenos momentos da vida cotidiana. Viver o presente é o melhor antídoto contra o estresse e não há melhor medicamento para tudo do que a “fun-formina”.

A fórmula 10-3-2-1-0

Além do método dos 7 Ds, há muita literatura sobre outras estratégias para conciliar o sono naturalmente. A médica e instagramer Jess Andrade fala do “Método 10-3-2-1-0″. Um método baseado no senso comum: 10 horas antes de dormir, nada de cafeína; três horas antes, sem comer e beber álcool; 2 horas antes, parar de trabalhar; 1 hora antes, desligar o celular, e 0 o número de vezes que você precisará postergar o alarme na manhã seguinte, porque se sentirá novo e pronto para saltar da cama. Fernández concorda em criar rituais, mas alerta sobre o perigo de ficarmos autoexigentes. “Se uma noite janto uma hora antes de me deitar pelo motivo que for e isso me gera um estresse que me impede de adormecer, é um problema”.

As técnicas dos soldados

No livro Relax and Win: Championship Performance se menciona outra técnica ensinada no exército norte-americano para que os soldados consigam dormir em 120 segundos, mesmo que estejam no campo de batalha. Basicamente é deixar o cérebro em branco e ir desconectando progressivamente pescoço, peito e extremidades. Se fizerem direito nesses dois minutos, devem adormecer profundamente. A doutora Wyx reconhece que é possível consegui-lo, desde que se tenha um bom domínio das ferramentas de relaxamento. Fernández matiza: “Se adormecer em 120 segundos se transformar em um estresse para nós, o método não vai funcionar”.

Além de quebrar a cabeça e treinar técnicas para conciliar o sono, o que melhor funciona é destreinar esses hábitos que interferem no mecanismo do sono e incorporar rotinas que o melhorem. “A capacidade de adormecer é algo inato, nascemos sabendo dormir. Precisamos trabalhar em nossa higiene do sono para que o corpo faça o que já sabe fazer”, acrescenta Fernández. Os conselhos são os mesmos que qualquer mãe nos daria: repetir sempre o mesmo ritual de janta, pijama e leitura e alguma atividade relaxante, nada de celular na cama... E, fundamental, entrar dentro dos lençóis somente quando o sono vier, nunca antes.

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_