“Não há dados que apoiem a terceira dose da vacina para a população em geral”

Especialistas da OMS e da agência de medicamentos dos Estados Unidos não encontraram evidências de que uma terceira aplicação seja necessária para reforçar a imunidade de pessoas saudáveis e já vacinadas contra a covid-19

Uma enfermeira prepara a vacina contra a covid-19.MIKE BLAKE (Reuters)
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Um grupo de especialistas da agência de medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, e da Organização Mundial da Saúde (OMS) acaba de concluir que não há evidências sólidas de que uma terceira dose da vacina seja necessária para a população em geral.

Os pesquisadores realizaram uma revisão abrangente dos ensaios clínicos sobre a eficácia das vacinas e análises observacionais de seu desempenho em diferentes países. O trabalho, publicado nesta segunda-feira na revista médica The Lancet, mostra que a eficácia desses fármacos continua muito alta contra todas as variantes do coronavírus, incluindo a delta. “O conjunto de evidências acumuladas até agora parece mostrar que não há necessidade de uma terceira dose na população em geral, pois sua proteção contra a doença grave ainda é alta”, escrevem os autores.

Estudos observacionais mostram que as injeções são em média 95% eficazes contra a covid-19 grave e 80% contra a infecção, independentemente da gravidade. E esses dados, lembram os especialistas, são válidos para todas as variantes conhecidas. É verdade, acrescentam, que a eficácia das vacinas é maior contra a covid-19 grave do que contra os quadros mais brandos.

“Os estudos publicados até agora não fornecem evidências dignas de crédito de que a proteção contra covid-19 grave, que é o principal objetivo das vacinas, esteja diminuindo”, destacam os autores da análise, liderada pela chefa de Pesquisa da OMS, Ana María Henao. “Dado o número limitado de vacinas disponíveis, mais vidas serão salvas se as dermos para aqueles que têm maior risco de contrair covid-19, que são aqueles que ainda não receberam nenhuma dose.”

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“Embora uma terceira dose possa propiciar algum benefício, as vantagens de imunizar os não vacinados são muito maiores”, escrevem os autores do estudo. Seguir esse conselho “pode acelerar o fim da pandemia, pois impedirá a evolução de mais variantes do coronavírus”, acrescentam.

Os pesquisadores lembram um argumento defendido pela maioria dos especialistas em imunidade. O fato de alguns estudos mostrarem que há uma queda no nível de anticorpos —proteínas do sistema imunológico capazes de bloquear a entrada do SARS-CoV-2 nas células— não significa que a eficácia das vacinas esteja diminuindo. O fato de haver redução da proteção das vacinas contra a covid-19 moderada ou assintomática não significa que haverá falha na proteção contra a covid-19 grave. A possível explicação é que não apenas os anticorpos atuam na proteção contra a forma grave da doença, mas também as células de memória do sistema imunológico, observa o estudo.

Os responsáveis pelo artigo afirmam ser possível que existam grupos que precisam dessa terceira dose, principalmente os imunodeprimidos. Eles também fazem uma reflexão quanto ao futuro. Se novas variantes do SARS-CoV-2 surgirem, provavelmente serão descendentes das existentes. Nenhuma deles demonstrou poder burlar completamente o sistema imunológico. Em sua opinião, o mais razoável seria que, se aprovada uma terceira dose, seja uma nova versão da vacina especialmente desenhada contra as versões dominantes do patógeno, como a delta. É o mesmo, enfatizam, que se faz com a vacina contra a gripe todos os anos. Tanto a Pfizer como a Moderna estão conduzindo testes clínicos de vacinas contra a variante delta.

“Temos que ser muito cautelosos com a questão da terceira dose”, alerta Marcos López, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia. “Uma das coisas que este trabalho destaca é que são necessários mais estudos sobre a necessidade da terceira dose. É uma questão que ainda precisa ser analisada seriamente antes de aprovada, pois não temos evidências de que a vacina esteja falhando”, destaca.

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