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Salles, sob o cerco da PF, amplia mal-estar com Mourão e falta a encontro oficial para debater Amazônia

Vice, que dirige instância amazônica agora esvaziada pelo Planalto, critica ministro do Meio Ambiente investigado por suposto envolvimento em caso de contrabando de madeira

O ministro Ricado Salles e o presidente Jair Bolsonaro na reunião virtual do Cúpula de Líderes sobre o Clima, em 22 de abril de 2021.
O ministro Ricado Salles e o presidente Jair Bolsonaro na reunião virtual do Cúpula de Líderes sobre o Clima, em 22 de abril de 2021.Marcos Correa/PR
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AME9002. BRASILIA (BRASIL), 19/05/2021.- El ministro de Medio Ambiente de Brasil, Ricardo Salles, camina tras salir del evento "Camino al desarrollo sostenible de la industria de residuos sólidos en Brasil", hoy, en Brasilia (Brasil). La Policía Federal brasileña inicio este miércoles una operación en varias ciudades del país para determinar el grado de participación del ministro de Medio Ambiente, Ricardo Salles, y otras autoridades ambientes en un esquema de exportación ilegal de madera a Europa y Estados Unidos. EFE/ Joédson Alves
EUA entregaram ao Brasil detalhes que levaram PF a Salles por suspeita de contrabando de madeira ilegal
-FOTODELDÍA- AME800. BRASILIA (BRASIL), 19/04/2021.- Indígenas de diversas etnias protestan hoy pidiendo la demarcación de sus tierras y la salida del presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, en Brasilia (Brasil). Los miembros de los pueblos originarios exigieron protección a sus derechos este lunes, con motivo de la conmemoración del Día del Indio en Brasil, cuyo propósito es precisamente visibilizar la resistencia de las comunidades ancestrales en el Amazonas y otros territorios amenazados. EFE/ Joédson Alves
Bolsonaro entra pela porta dos fundos na Cúpula do Clima enquanto sociedade civil cava espaço para diálogo com Biden
An Indigenous woman, wears a protective face mask as a precaution against COVID-19 and marked with a message that reads in Portuguese: "Get Out Salles", in reference to the Minister of Environment Ricardo Salles, during a protest against Brazilian President Jair Bolsonaro's proposals to allow mining on Indigenous lands, at the Esplanade of Ministries in Brasilia, Brazil, Tuesday, April 20, 2021.  (AP Photo/Eraldo Peres)
Brasil vai à Cúpula do Clima com processo de ‘pedalada ambiental’ e carta de governadores a Biden

Há 35 dias o Governo Jair Bolsonaro fez uma ambiciosa promessa na Cúpula de Líderes sobre o Clima promovida pelo presidente norte-americano Joe Biden: até 2030 eliminaria o desmatamento ilegal no Brasil e reduziria as emissões de gás carbônico em 43%. Na ocasião do anúncio, do lado direito do presidente brasileiro estava Ricardo Salles, seu fiel ministro do Meio Ambiente que resiste à pressão para ser demitido. De lá pra cá, o país se deparou com alta do desmatamento na região amazônica, não conseguiu demonstrar união interna para atingir os objetivos prometidos e Salles se tornou alvo de uma operação policial que se baseou em informações repassadas justamente pela Gestão Biden.

Nesta quarta-feira, o ministro Salles voltou ao foco, quando não compareceu à reunião geral do Conselho Nacional da Amazônia Legal e nem enviou representantes. Foi criticado pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que coordena o grupo. “Lamento profundamente a ausência do ministério mais importante, que não compareceu à reunião hoje nem mandou representante, o Ministério do Meio Ambiente”, disse Mourão. Mais tarde, ainda afirmou que se sentiu desrespeitado. “Da forma como eu fui formado eu considero isso falta de educação.”

O simbolismo do momento chamou a atenção, havia dois púlpitos para autoridades se manifestarem. Em um, estava o vice-presidente. O outro, vazio, deveria ser ocupado por Salles. Esta foi a segunda reunião do grupo, que tem como objetivo traçar planos para a Amazônia, de que Salles se ausentou. Questionado pela reportagem, o ministério não justificou a ausência do ministro no encontro.

O bode na sala do vice-presidente ficou mais evidente quando foi instado por repórteres a comentar a operação contra madeireiros ilegais da qual Salles foi alvo no último dia 19. “Eu aguardo a investigação. Toda investigação começa com indícios que podem se comprovar ou não. Então, ninguém pode condenar o ministro a priori”, afirmou. “Ou seja, que siga o devido processo legal, até lá qualquer ilação é isso, mera ilação.”

O Conselho Nacional da Amazônia Legal tem sido esvaziado nos últimos meses por razões políticas. O presidente Jair Bolsonaro e seu vice têm se distanciado cada vez mais. E os acenos feitos por Bolsonaro são no sentido de apoiar Salles, ainda que boa parte dos interlocutores internacionais já tenham pedido sua demissão. Dois sinais de que esse apoio externo está em franca decadência vieram exatamente dos EUA. Na cúpula ambiental, Biden se retirou da sala de conferência pouco antes do discurso de Bolsonaro. Talvez já soubesse que poucas semanas depois, seu Governo iria subsidiar a investigação contra Salles, o presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Eduardo Bim, e outros dez servidores da área.

Com exceção de Salles, os demais suspeitos foram afastados de seus cargos. Relatórios fiscais em poder dos investigadores mostram que um escritório de advocacia do ministro teria registrado movimentações extremamente atípicas entre os anos de 2012 e 2020. Por essa razão, seus sigilos fiscais e bancários foram quebrados com a autorização do Supremo Tribunal Federal. Nesta quarta-feira, o ministro do STF Alexandre de Moraes, que autorizou a operação contra o titular do Meio Ambiente, rejeitou um pedido da Procuradoria-Geral da República para que ele deixasse de relatar o caso.

Se não bastasse o cerco policial, os meses de março e abril registraram notícias negativas para a área ambiental. E a tendência é que piore em breve. Em março, a região amazônica teve aumento de 12,5% de desmatamento. Em abril, de 42,39%. As comparações são com os mesmos meses de 2020 e foram elaborados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Mourão ressaltou que maio deve registrar novo aumento. Por essa razão, ele ainda não descartou a possibilidade de chamar os militares, que encerraram sua participação na atividade, para atuar novamente. “Nós vamos acionar novamente as Forças Armadas aí pelo menos nesses próximos dois meses para que a gente consiga atingir o objetivo proposto.” Sua meta é reduzir o desmatamento em 15% até julho, algo que parece difícil de ser atingido.

O vice-presidente Hamilton Mourão durante uma entrevista coletiva da qual Ricardo Salles deveria ter participado.
O vice-presidente Hamilton Mourão durante uma entrevista coletiva da qual Ricardo Salles deveria ter participado.UESLEI MARCELINO (Reuters)

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