Brasil recomenda às mulheres que adiem a gravidez até a epidemia abrandar
A indicação, que já tinha sido feita em 2016 por causa do zika, ocorre quando o país lidera as mortes diárias no mundo e os hospitais estão superlotados
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O Governo brasileiro pediu às mulheres que, se puderem, adiem a gravidez até que a pandemia diminua. Predomina no Brasil a variante altamente contagiosa que surgiu em Manaus, causando sérios danos no país mais populoso e afetado da América Latina. Com uma média de 3.000 mortes e 80.000 contágios por dia, os hospitais estão superlotados em grande parte do território e faltam leitos de UTI. As gestantes têm tanta probabilidade de serem infectadas como as demais mulheres. Mas elas são um grupo de risco para o coronavírus por causa da maior probabilidade de sofrerem complicações e necessitarem de cuidados intensivos, de acordo com um estudo do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.
As mortes de brasileiras grávidas e puérperas por coronavírus estão acima da média do restante da população. A recomendação foi feita por um alto funcionário do Ministério da Saúde na última sexta-feira, em entrevista coletiva em Brasília. “Se possível, adie um pouco a gravidez, para um melhor momento, quando puder ter mais tranquilidade”, disse Raphael Parente, secretário de atenção básica de um ministério que volta a ser dirigido por um médico após quatro mudanças ministeriais desde o início da pandemia.
“A experiência clínica diz aos especialistas que a nova variante (brasileira, P.1) afeta as grávidas de forma mais agressiva”, disse Parente, que também mencionou o maior risco de coágulos ou trombose nas grávidas e o consequente aumento do risco. Depois de estudar 400.000 mulheres grávidas, o CDC dos EUA concluiu que elas têm duas vezes mais probabilidade do que outras mulheres de precisar de UTI e ventilação mecânica. O risco de morrer também é maior.
“É claro que não podemos dizer isso para quem tem 42, 43 anos, mas para uma jovem, que pode escolher quando engravidar, o melhor agora é esperar um pouquinho”, acrescentou o secretário. Ele lembrou que as autoridades de saúde brasileiras já fizeram recomendação semelhante às brasileiras em 2016 por causa da epidemia do zika.
Os dados coletados por um grupo brasileiro de estudos, o Observatório Obstétrico da covid-19, com base em estatísticas oficiais, indicam que as mortes de gestantes e puérperas dobraram até agora em 2021, em relação ao ano passado. Passou de 10,4 óbitos (449 mortes em 43 semanas de pandemia de 2020) para 22,2 nas primeiras semanas deste ano, com 289 mortes.
O pedido chega em um momento em que o Brasil é o país onde o coronavírus causa mais mortes diárias, embora a Índia tenha passado à frente em contágios. Esta nova onda está afetando os brasileiros mais jovens. Metade dos internados na UTI no mês passado tinha menos de 40 anos.
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Os hospitais brasileiros foram forçados a criar milhares de leitos de UTI nos últimos dois meses e tiveram que treinar equipes às pressas para atender ao aumento colossal da demanda. Em algumas regiões, faltam equipamentos de intubação, sedativos e oxigênio. E a taxa de mortalidade entre os pacientes intubados é de 80%, bem acima da média mundial (50%).
Enquanto a vacinação progride lentamente e os números param de bater recordes negativos de pouco em pouco, as autoridades estaduais começam a afrouxar as restrições adotadas há algumas semanas para conter as infecções. O Rio de Janeiro reabriu os restaurantes, mas não as praias. E São Paulo acaba de autorizar missas e cultos em igrejas, mas os parques ainda estão fechados.
A OMS e os órgãos reguladores de medicamentos dos Estados Unidos e da União Europeia não contraindicam a vacina para as grávidas, mas a limitam àquelas com fatores de risco e após consulta com o médico.
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