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JORNALISMO
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Publicar a notícia. Resistir às pressões

‘Livro de Estilo’ do EL PAÍS é uma garantia para produzir informação verídica e relevante. A nova edição, que visa reafirmar os princípios sob os quais o jornal foi fundado, entra em vigor neste domingo

A redação do EL PAÍS em Madri, vazia durante os meses de pandemia.
A redação do EL PAÍS em Madri, vazia durante os meses de pandemia.Carlos Rosillo
Javier Moreno

O Livro de Estilo do EL PAÍS é um contrato ético com os leitores, bem como com a sociedade à qual se dirige. Neste caso, com as sociedades ―no plural― às quais se dirige, uma vez que uma parte importante e crescente dos usuários do jornal reside no continente americano. Constitui, em conjunto com o Estatuto da Redação e o Defensor do Leitor, um sistema de garantias que nos permite produzir informação verídica, relevante e independente, na medida em que esta não seja condicionada por qualquer pressão externa.

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Cada nova edição do Livro de Estilo é ao mesmo tempo um esforço, um modesto triunfo e um motivo de satisfação deontológica. Nesta edição, a vigésima terceira, contribuíram de forma intensa dezenas de profissionais, inúmeros jornalistas da Redação do EL PAÍS que enviaram suas sugestões, defenderam com afinco suas propostas e, em geral, discutiram à exaustão com a equipe responsável pela mudança, liderada como sempre de forma extraordinária por Álex Grijelmo. O objetivo era simples: seis anos depois da edição anterior, era imprescindível atualizarmos inúmeros preceitos para, talvez paradoxalmente, reafirmar e adequar ao nosso tempo os compromissos fundacionais do jornal: modernização da sociedade, defesa do avanço econômico com progresso social, assim como dos direitos dos cidadãos e o respeito às minorias. O Livro de Estilo também é a melhor ferramenta para paliar a falibilidade dos jornalistas, que é a do ser humano em geral.

Um jornal é, em essência, aquilo que publica ―e também aquilo que não publica–, e é notável que as pressões que inevitavelmente surgem sejam igualmente frequentes e perniciosas tanto em um sentido quanto no outro. Publicar todas as notícias, resistir a todas as pressões, é, portanto, mais do que um lema, uma bússola moral que, aliada ao rigor, ao profissionalismo, à honestidade e à independência dos jornalistas ―independência também em relação às suas próprias opiniões e preconceitos― permite construir um bom jornal, contribuir por extensão com a liberdade de informação e de pensamento, bem como controlar o poder e os poderosos, tarefas que são a base das sociedades democráticas avançadas.

Apesar da mudança dos tempos, esses instrumentos do bom ofício não mudaram no fundamental. Desde que em agosto de 1896 um editor em Nova York prometeu aos leitores do jornal que acabara de comprar “oferecer as notícias de forma imparcial, sem medo ou favorecimentos, independentemente de qualquer partido, seita ou interesses envolvidos”, esse lema passou a ser o motor, declarado ou não, dos melhores. Sobre estas bases se haverá de construir o futuro, as próximas décadas em que o EL PAÍS possa produzir um jornalismo vibrante, que sirva essencialmente à sociedade, independentemente de qualquer grupo de pressão.

Esta é a segunda vez que atuo como diretor do EL PAÍS. Em 2006, no início da primeira, escrevi, lembrando as palavras anteriores, que todo diretor precisa renovar esse contrato com seus leitores. Publicar todas as notícias, resistir a todas as pressões. Este é um compromisso inquebrantável com os leitores que o jornal vem renovando ao longo de sua vida, desde 1976, nas ocasiões em que as circunstâncias o exigiram. Eu o fiz com a Redação depois da minha nomeação em junho de 2020. E com este artigo, que celebra a nova edição do Livro de Estilo ―em si um compromisso fundamental e público―, gostaria de fazê-lo com todos os leitores do EL PAÍS em ambos os lados do Atlântico.

O jornal é independente: não nos deixaremos intimidar. Os leitores podem estar certos de que, apesar da incerteza dos tempos em que vivemos ―os desafios à democracia, os riscos de instabilidade econômica, social e política, bem como as tentativas certamente incansáveis de controle por parte do poder, dos Governos, dos partidos políticos, das empresas, dos indivíduos, dos sindicatos, das corporações e de grupos de todos os tipos― na solidez desse pacto não iremos decepcioná-los.

Capa do manual de redação do EL PAÍS, edição de 2021.
Capa do manual de redação do EL PAÍS, edição de 2021.

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