PT só assegura segundo turno com Marília Arraes no Recife e fica fora das demais capitais do Nordeste
Partido, que não elegeu nenhum prefeito na região em 2016, avança na capital de Pernambuco com Arraes, que enfrentará o primo, João Campos (PSB), sucessor de Eduardo Campos
O Partido dos Trabalhadores (PT) repetiu os maus resultados que registrou nas capitais nordestinas nas eleições municipais de 2016, quando não conseguiu eleger nenhum prefeito nessas nove cidades. Na época, o PT ainda perdeu João Pessoa, a única prefeitura que tinha no Nordeste —historicamente, um bastião petista que votou em peso a favor de Lula e Dilma Rousseff nas últimas quatro eleições presidenciais— e garantiu apenas a vice-prefeitura de Aracaju. Desta vez, o PT avançou para o segundo turno numa capital estratégica, berço do PSB: Marília Arraes enfrentará o primo, João Campos (PSB), filho de Eduardo Campos —que faleceu em plena campanha presidencial num acidente aéreo em 2014—, pela prefeitura de Recife (PE).
Com 27% dos votos frente a 29% de Campos, Arraes é a única esperança do partido de Luiz Inácio Lula da Silva para controlar uma das cidades mais importantes da região. Em Salvador (BA), a candidata estreante Major Denice não conseguiu superar Bruno Reis (DEM), sucessor de ACM Neto, que confirmou o favoritismo que arrastou ao longo de toda a campanha e se elegeu com 64% dos votos. Já em Fortaleza, o quarto município mais populoso do país, Luizianne Lins, cujas primeiras pesquisas a colocavam em segundo lugar, acabou em terceiro (17%), atrás de Sarto (PDT) e de Capitão Wagner (Pros), que disputarão o segundo turno, com 35% e 33%dos votos, respectivamente.
Em Natal, Senador Jean, que recebeu apenas 14%, não foi páreo para o tucano Álvaro Dias (homônimo do senador do Podemos pelo Paraná), que se reelegeu com 56% do apoio dos eleitores.
A derrocada do PT no Nordeste foi contraposta com os bons resultados do Centrão na região, especialmente do DEM, PSB, PDT, PROS, Podemos e Republicanos, que dominaram a corrida eleitoral nas capitais e disputarão o segundo turno em Maceió (AL), João Pessoa (PB), Fortaleza (CE), Aracaju (SE), São Luís (MA) e Teresina (PI).
Obstáculos
O PT, principal legenda de oposição ao Governo de Jair Bolsonaro, tem visto o chefe do Executivo registrar crescimento em sua aprovação, especialmente no Nordeste, onde o auxílio emergencial fez a renda renda dos beneficiários crescer, em média, 34%, de acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas com dados da Pnad-Covid.
Além disso, os objetivos do partido nesta eleição municipal foram dificultados também pela pulverização de candidaturas de esquerda. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Salvador, onde o PCdoB, aliado histórico dos petistas, apresentou a candidatura de Olivia Santana (apesar de ela ter somado apenas 4% dos votos).
O PT se isolou no pleito de 2020, apresentando o maior número de candidaturas isoladas: 630, de acordo com o TSE. O número corresponde a praticamente metade do total de candidaturas lançadas pela sigla, muito distante do apresentado por DEM (19%), PSDB (20%), PP (20%) e PSD (21%). Levando em conta a relação entre nomes próprios coligados e a participação geral em chapas (encabeçadas pelo próprio PT ou por outras siglas), a taxa petista (21%) também é considerada baixa em comparação às do MDB (39%), PSD (38%), PP (35%) e PSDB (34%).
Com todas as fichas agora depositadas na disputa pela prefeitura de Recife, o PT terá de enfrentar, mais uma vez, a força do legado de Eduardo Campos. Em 2016, o partido concorreu com o ex-prefeito João Paulo, mas a capital pernambucana reelegeu Geraldo Julio (PSB), afilhado político de Campos, com 61,3% dos votos válidos contra 38,7% do petista. Desta vez, o herdeiro desse legado é João Campos, filho de Eduardo.
A petista Marília Arraes alimentava a esperança de brigar pelo primeiro lugar da disputa na cidade, mas as pesquisas mostraram uma arrancada de seu primo e ela teve de contentar-se em disputador a vice-liderança contra contra expoentes da direita no Estado, como a Delegada Patrícia (Podemos) e Mendonça Filho (DEM).
Inicialmente, a campanha de Arraes parecia querer distanciar sua imagem da do ex-presidente Lula. Nos primeiros cinco dias de propaganda, ele apareceu apenas uma vez em uma foto, sem ter seu nome citado. Após uma reprimenda da cúpula do PT, a neta de Miguel Arraes passou a permear seus anúncios com imagens do líder petista. "É Lula, é Arraes, é Marília Arraes”. Esse passou a ser o encerramento de seus vídeos. Resta saber se resgatar a figura de Lula será suficiente para garantir o poder em uma das mais importantes capitais do Nordeste.