Salles anuncia suspensão de operações contra desmatamento por falta de verba e recua horas depois
Ministro do Meio Ambiente diz que recursos haviam sido bloqueados e que, após divulgação da paralisação, foram liberados. Vice Mourão acusa Salles de ter se “precipitado”
O Ministério do Meio Ambiente comandado por Ricardo Salles informou nesta sexta-feira que paralisaria, a partir de segunda, todas as operações para impedir a destruição da vegetação e os incêndios na Amazônia e no resto de seu território brasileiro. A pasta citou a falta de verba como motivo, informando que o Ministério da Economia bloqueara os recursos correspondentes. O anúncio desatou uma onda de críticas de ambientalistas e até do próprio vice-presidente Hamilton Mourão, que acusou Salles de ter se “precipitado” e negou que faltassem verbas. Cerca de três horas depois, o Ministério do Meio Ambiente recuou e deixou sem efeito o comunicado anterior. Salles insistiu que o dinheiro, antes bloqueado, havia sido liberado para a pasta após seu protesto.
A divergência pública entre os dois principais responsáveis pela proteção ambiental no Governo Bolsonaro ―Mourão é chefe do Conselho da Amazônia― só adiciona tensão a uma situação já caótica. A Amazônia sofreu no ano passado a pior taxa de desmatamento em uma década, consolidando o Brasil como vilão ambiental. Até agora, não houve melhora dos índices de combate à destruição da floresta em 2020, enquanto outro bioma central no Brasil, o Pantanal, também enfrenta devastação recorde.
“O ministro (do Meio Ambiente) se precipitou. O Governo busca recursos para o auxílio emergencial. E cada ministério dá a sua contribuição”, disse Mourão. Rosto amável do Governo no exterior, o vice-presidente se referia aparentemente ao fato de que cada uma das pastas está vendo onde cortar para manter o auxílio emergencial criado por causa da pandemia do coronavírus, que deu impulso político a Bolsonaro nas últimas semanas. O auxílio emergencial expira neste mês e as autoridades buscam dinheiro para prorrogá-lo.
Salles, no entanto, manteve sua versão afirmando que, se efetivados, os cortes de 60 milhões de reais destinados ao Ibama, órgão responsável pela fiscalização ambiental, e ao Instituto Chico Mendes (ICMbio), inviabilizariam as operações que mobilizam 77 fiscais, 48 veículos e dois helicópteros que combatem o desmatamento e mais de 300 fiscais, quase 500 brigadistas e 10 aeronaves que combatem os incêndios, que neste momento estão em seu ponto culminante.
O World Wild Fund (WWF) foi uma das entidades que comentaram o congelamento das ações contra desmatamento, agora deixado sem efeito, dizendo que reforçava “a mensagem que o Governo vem transmitindo de que os crimes não serão punidos, ou seja, compensam”. A ONG também sugeria na nota que o problema não era apenas a suposta falta de dinheiro. O texto lembrou que, a esta altura do ano, o Ibama gastou apenas 19% de seu orçamento com prevenção e controle de incêndios.
Se fosse concretizada, a paralisação das ações do Ibama e do ICMBio não afetaria a operação militar lançada pelo Governo em maio na Amazônia para combater os incêndios, para evitar ou minimizar na medida do possível uma crise diplomática como a do ano passado. As tarefas desempenhadas pelos soldados, no entanto, são apenas de apoio e sofrem críticas dos próprios servidores especializados.
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