Líbano já registra mais de 100 mortos em explosão no porto de Beirute

Segundo autoridades do país, havia no local um depósito com 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio, uma substância química altamente explosiva

Um helicóptero apaga o incêndio no local da explosão ocorrida nesta terça-feira. No vídeo, imagens da explosão.Vídeo: WADEL HAMZEH / EFE
Beirute -

Pelo menos 100 pessoas morreram e 4.000 ficaram feridas após uma forte explosão que sacudiu Beirute na terça-feira, sobre a qual uma grande coluna de fumaça avermelhada subiu, originada em um armazém de explosivos no porto da capital libanesa, conforme anunciado pelo Ministério da Saúde local. A deflagração gerou uma enorme onda de choque, que foi sentida em toda a capital a vários quilômetros de distância. As autoridades ainda não confirmaram oficialmente a causa da explosão, citando apenas a existência no local de um depósito com 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio, um tipo de fertilizante altamente explosivo. O Exército foi enviado a Beirute para trabalhar nos esforços de resgate. O incidente ocorreu a menos de 72 horas de o Tribunal Especial para o Líbano, localizado em Haia, proferir uma sentença pelo assassinato de um carro-bomba do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri em 2005.

Fontes diplomáticas europeias no Líbano, consultadas pelo EL PAÍS, consideram a hipótese de um ataque de míssil a um depósito de armas do Hezbollah, partido da milícia xiita libanesa no porto. Nenhuma fonte libanesa oficial especulou sobre as possíveis causas da detonação.

Um incêndio começou perto dos silos de trigo do porto, em um depósito de explosivos, cuja destruição que foi sentida em toda a cidade e em seus arredores. Há vidros quebrados em ruas situadas a mais de um quilômetro dos armazéns incendiados e se veem pessoas feridas pelo impacto desses vidros e de outros materiais. Minutos depois da explosão, ocorrida pouco depois das 18h15 (12h15 no horário de Brasília), começaram a chegar ambulâncias para atender e transportar trabalhadores do porto feridos. Depois, a área foi isolada e a passagem da imprensa foi impedida.

“Estamos deixando centenas de feridos nas portas dos hospitais”, afirma um integrante dos times de defesa civil que estão trabalhando no local. Perto estava Meriem, 35 anos, e seu bebê. Ela explicou que parte de sua casa havia desabado após a explosão e que seu primo havia sido levado ao hospital em estado grave. Segundo a Reuters, fontes de segurança disseram que as vítimas estavam sendo encaminhadas para tratamento em outras cidades, por causa da lotação dos hospitais da capital libanesa.

“Temos mais de 30 equipes de resgate atuando nesse momento, e estamos reforçando o contingente a cada minuto que passa”, diz Rodney Eid, porta-voz da Cruz Vermelha em Beirute. A organização humanitária emitiu um alerta pedindo doações de sangue urgentes. “Há uma necessidade urgente de todos os tipos de sangue”, observou em sua conta no Twitter. Também acrescentou que “todas as ambulâncias da Cruz Vermelha disponíveis no norte do Líbano, no Vale do Bekaa e no sul do Líbano estão sendo enviadas para Beirute para apoiar o resgate e a evacuação de pacientes”.

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O diretor da Segurança Geral do país, Ibrahim Abbas, disse que “parece que a explosão ocorreu em um armazém com material altamente explosivo, que havia sido confiscado há anos”. O presidente libanês, Michel Aoun, afirmou que irá providenciar refúgio para todos os desabrigados. A Presidência libanesa informou no Twitter que o chefe de Estado pediu ao Exército que trabalhasse para “lidar com as consequências da grande explosão” e “realizar patrulhas nas áreas de desastre para manter a segurança”. O primeiro-ministro Hassan Diab decretou um dia de luto por esta quarta-feira.

A explosão em Beirute acontece em uma semana decisiva para o Líbano. Deve ser anunciado nos próximos dias um veredito de um tribunal da ONU em Haia, na Holanda, sobre o assassinato do ex-primeiro ministro Rafik Hariri, en 2005, em um atentado com um carro-bomba. A explosão desta terça ocorreu em uma região próxima à localização da casa da família Hariri.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel assegurou que o país não tem nenhuma relação com o incidente. O primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, horas antes da explosão havia advertido o partido-milícia libanês Hezbollah que faria “tudo o que for necessário para defender Israel”, após os dias de tensão que se seguiram a um conflito armado na fronteira sul libanesa, no último dia 27.

O Departamento de Estado dos EUA destacou que está “acompanhando de perto” as informações e “trabalhando com as autoridades locais” para determinar as causas da explosão e se há cidadãos americanos afetados. “Estendemos nossas profundas condolências a todos os afetados e estamos prontos para fornecer toda a ajuda possível”, disse um porta-voz do Departamento de Estado, segundo a rede de televisão CNN. “Não temos informações sobre a causa da explosão e perguntas devem ser feitas ao Governo do Líbano para obter mais informações”, acrescentou. A secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, enfatizou que a presidência dos EUA “está monitorando a situação”. Por sua vez, Teerã e Paris ofereceram ajuda. “O Irã está preparado para ajudar da maneira que for necessária”, tuitou o ministro das Relações Exteriores Mohamed Javad Zarif. “A França está sempre do lado do Líbano e do povo libanês. Está pronta para oferecer assistência, dependendo das necessidades expressas pelas autoridades libanesas “, disse o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, em comunicado.


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