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Páscoa no Brasil é marcada por dificuldade de grandes cidades em manter quarentena e aumento de mortes

Bolsonaro realiza um evento online com diversos líderes religiosos e afirma que “parece que está começando a ir embora a questão vírus”, enquanto as mortes no país por coronavírus chegam a 1.223

Transmissão online da celebração de Páscoa de Bolsonaro com líderes religiosos.
Transmissão online da celebração de Páscoa de Bolsonaro com líderes religiosos.

O domingo de Páscoa foi dia de evento para convertidos nas redes sociais do Palácio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro reuniu em videoconferência diversos líderes e personalidades religiosas e se mostrou otimista quanto a crise do coronavírus. “Parece que está começando a ir embora a questão vírus”, afirmou em seu testemunho. Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde, no entanto, não compartilham da euforia do presidente quanto ao final do surto da Covid-19. O Brasil atingiu 22.169 infecções e 1.223 mortes por coronavírus, segundo dados divulgados neste domingo. A taxa de letalidade do país está em 5,5%. Foram 99 óbitos confirmados nas últimas 24 horas, um aumento de 9% em relação ao dia anterior. O número de novas infecções também subiu, registrando um aumento de 7% em 24 horas, para 1.442 casos.

Em três balanços divulgados nos dias anteriores, o número de mortos havia desacelerado, levantando uma esperança de que o achatamento dos casos estaria em curso. Porém, os contágios permanecem em ascensão. São Paulo continua na liderança em número absoluto de infecções, com 8.755 casos e 588 mortes. Em quarentena até o dia 22 de abril, o Estado tem tido dificuldade para conseguir aderência ao confinamento.

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Tomàs Pumarola, cap de Microbiologia de l'Hospital Vall d'Hebron.
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No final da noite de domingo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que os números de casos no Brasil estão dentro do esperado pelos epidemiologistas da pasta, porém, as cifras podem piorar caso haja um “relaxamento” das medidas de isolamento social. "A gente imagina que os meses de maio e junho serão os 60 dias mais duros para as nossas cidades”, afirmou, reiterando a necessidade de quarentena. Questionado sobre as declarações do presidente contrárias às dele, Mandetta relativizou, afirmou que sabe que a pasta será questionada por todos os lados, mas admitiu que presidente e ministro passam mensagens distintas ao brasileiro. "Eu espero uma fala unificada, porque isso leva a uma dubiedade... ele não sabe se escuta o ministro da saúde ou se escuta o presidente”, disse.

Dados do Governo do Estado de São Paulo mostram que o percentual de isolamento social no Estado foi de 55% neste sábado. De acordo com o Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI-SP), apenas 3 cidades ultrapassaram a marca de 60% de isolamento: São Vicente (62%), Itaquaquecetuba (61%) e Diadema (60%). Ainda assim, abaixo da meta de 70% esperada para controlar a disseminação da Covid-19.

Cinco cidades não conseguiram sequer adesão de metade de sua população. São elas: Marília (49%), São José do Rio Preto (49%), Araraquara (48%), Limeira (47%) e Presidente Prudente (47%). Na capital São Paulo, a adesão foi de 54% no sábado, segundo dados referentes a 40 dos 645 municípios divulgados neste domingo.

O Governado de João Doria tem ressaltando que se a taxa continuar baixa, o número de leitos disponíveis no sistema de saúde não será suficiente para atender a população. O governador chegou a ameaçar com multa e prisão se o engajamento da população não melhorar. E não é o único.

Bolsonaro publicou neste domingo em sua rede social um vídeo em que manifestantes criticam o governador do Pará, Helder Zahluth Barbalho, pelas medidas adotadas no Estado e que estariam na contramão do que defende o presidente. “Além do vírus, agora também temos o desemprego, fruto do 'fecha tudo e fica em casa, ou ainda o ‘TE PRENDO’. Para toda ação desproporcional a reação também é forte. O Governo Federal busca o diálogo e solução para todos os problemas, e não apenas um”, afirmou Bolsonaro pelo Twitter.

“Emergência” no Amazonas e no Amapá

Amazonas e Amapá são os estados que mais preocupam quando considerado o coeficiente de incidência da Covid-19 por cada 1 milhão de habitantes. Dados do Ministério da Saúde mostram que esses estados lideram o ranking de “emergência”, quando as infecções estão pelo menos 50% acima da incidência nacional, que é de 105 casos por 1 milhão de habitantes. O Amazonas tem 287 casos por 1 milhão de habitantes e Amapá (267). Outros estados que também despertaram o alerta são Distrito Federal (201), São Paulo (189), Ceará (182) e Rio de Janeiro (164). Esses números servem, inclusive, para medir a necessidade de resposta do sistema de saúde em cada região, uma vez que o Brasil, por seu tamanho, possui um atendimento de saúde assimétrico.

O coeficiente de mortalidade também mostra que quatro estados estão em situação de emergência, isto é, apresentam uma taxa 50% acima da incidência nacional, de 6 mortes a cada 1 milhão de habitantes: Amazonas (15 mortes por cada 1 milhão de habitantes), São Paulo (13), Rio de Janeiro (10) e Pernambuco (9).

A crítica de Malafaia

Bolsonaro não é o único otimista em relação ao surto de coronavírus. O pastor Silas Malafaia, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo, defendeu que o Brasil não será tão afetado pela pandemia durante a celebração de Páscoa online do Planalto. "Não vamos ter em nosso país uma desgraça de mortes”, afirmou o pastor. “No Brasil morrem 28 mil pessoas por ano por água contaminada, ninguém fala nada”, declarou. Segundo ele, as informações sobre a pandemia são fruto de “profetas do caos” e da imprensa, “que resolveu ter partido político por interesses escusos”. “O Brasil vai usufruir de um tempo de prosperidade em pouco tempo”, disse.

Em março, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro proibiu que cultos da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, em todo o estado do Rio, com o objetivo de conter o coronavírus. Malafaia vinha descumprindo determinações de um Decreto Estadual, que reconheceu o estado de emergência na saúde pública, mantendo o encontro de fiéis no templo matriz, que tem uma capacidade para 6.580 pessoas. O pedido para suspensão dos cultos havia sido negado em primeira instância.

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