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12 mentiras que o cinema nos impôs e que engolimos sem reclamar

Às vezes, os filmes desvirtuaram aspectos da realidade para avivar a trama e entreter o espectador. Historiadores, cientistas, psicólogos e até a polícia nos ajudam a desmentir essas licenças

Mel Gibson, durante a filmagem de 'Coração Valente’, filme que dirigiu e protagonizou em 1995.
Mel Gibson, durante a filmagem de 'Coração Valente’, filme que dirigiu e protagonizou em 1995.Foto: Alamy
Sara Navas

Com frequência se acusa Hollywood de tratar alguns episódios históricos sem muito rigor. A desculpa sempre foi que modificar certos aspectos da história são necessários para que a trama seja divertida para o espectador. Alguns exemplos: não é verdade que os autênticos vikings usassem chifres, explosões ruidosas não são possíveis no espaço, e Pocahontas e John Smith não se apaixonaram perdidamente.

Conversamos com historiadores, cientistas, psicólogos e até com a polícia para desmentir com sua ajuda essas licenças cinematográficas.

Os protagonistas de 'Star Wars: O Acordar da Força' (2015) fogem de uma explosão.
Os protagonistas de 'Star Wars: O Acordar da Força' (2015) fogem de uma explosão.

- É mentira que... as explosões de Star Wars sejam ouvidas no espaço

O que nos contaram. Em Star Wars, saga que George Lucas iniciou em 1977, as explosões espaciais são tão clássicas quanto estrondosas. De fato, os sistemas de áudio dos cinemas atuais as potencializam.

O que realmente acontece. No espaço não há nem oxigênio nem som, por isso é inviável que algo exploda ali – para que haja fogo é necessário o oxigênio – nem que uma colisão produza os sons ensurdecedores ouvidos nos filmes de George Lucas. “Se sairmos da atmosfera da Terra, nada faz barulho. Isto se deve a que o som é uma onda que percebemos com nossos ouvidos, quando faz vibrar o tímpano e nosso cérebro interpreta o sinal. Mas para que isto ocorra, a onda necessita de um meio pelo qual se propagar. As ondas sonoras são ondas de pressão que se propagam pelo ar ou pela água, algo que não existe no espaço”, explica o cientista David Calle, autor de ¿Cuánto Pesan las Nubes? “O som se produz quando um corpo vibra com uma frequência compreendida entre 20 e 20.000 herz e, além disso, existe um meio material onde possa se propagar”, explica o cientista ao EL PAÍS.

- É mentira que... Freddie Mercury tenha ficado sabendo que estava com Aids no show do Live Aid

O que nos contaram. O filme que deu a Rami Malek (Los Angeles, 1981) o Oscar de melhor ator, Bohemian Rhapsody (2018), termina reproduzindo os 20 minutos épicos que o Queen protagonizou no festival Live Aid em 1985. Pouco antes dessa atuação, exibida ao vivo para mais de 70 países, Mercury – interpretado por Malek – descobre que tem Aids e o conta a seus colegas de banda, acrescentando que não quer que o tratem como um doente, e que atuará enquanto seu corpo resistir. Seu carisma sobre o palco e a recente confissão de sua doença fazem da atuação algo lendário.

O que realmente aconteceu. Freddie Mercury descobriu que tinha contraído o HIV em 1987, e não em 1985, como conta o filme para dotar de maior dramatismo a cena final. Ou seja, quando o Queen se apresentou no Live Aid, nem Mercury nem seus colegas sabiam que o cantor estava doente de Aids. Quatro anos depois de contar aos membros da banda, Mercury morria na intimidade do dormitório de sua mansão londrina (que chamou de Garden Lodge).

Freddie Mercury no ‘backstage’ do show Live Aid realizado em Londres, em 13 de julho de1985. À sua esquerda, seu namorado, Jim Hutton.
Freddie Mercury no ‘backstage’ do show Live Aid realizado em Londres, em 13 de julho de1985. À sua esquerda, seu namorado, Jim Hutton.Foto: Getty

- É mentira que... as pistolas com silenciador praticamente não façam barulho

O que nos contaram. Em Onde os Fracos Não Têm Vez (2008), Javier Bardem mata suas vítimas com uma escopeta que quase não faz barulho, graças a um silenciador. Este é só um exemplo entre muitos. Nas sagas de James Bond e Missão Impossível, seus protagonistas também se valem deste artefato para acabar com o inimigo de forma discreta.

O que realmente acontece. Uma arma de fogo é ruidosa por mais que tenha um silenciador acoplado. “Se uma pistola emitir um ruído de 10, em uma escala de 1 a 10, uma pistola com silenciador emite um ruído de 6 sobre 10. Não é nada sutil, distingue-se claramente que se trata de um tiro”, afirma ao EL PAÍS um funcionário da loja de armas Shoke, de Madri. Um porta-voz da polícia espanhola, por sua vez, nos confirma que as armas com silenciador não passam despercebidas. “Continuam sendo bastante ruidosas”, comenta.

Javier Bardem interpreta um assassino em serie em ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ (2008).
Javier Bardem interpreta um assassino em serie em ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ (2008).Foto: Alamy

- É mentira que... os esquimós vivam em iglus

O que nos contaram. Que os esquimós (ou inuit, como se chamam a si mesmos) vivem em casas de gelo com forma circular, onde se protegem do frio graças à capacidade isolante do gelo.

O que realmente acontece. Ao contrário do que se acredita, os esquimós vivem em cabanas de madeira e usavam os iglus de forma muito pontual. “Em geral, os esquimós usavam os iglus só como moradias provisórias durante suas expedições de caça nas regiões árticas durante o inverno. Não estavam acostumados a habitá-los e preferiam outro tipo de casas. É verdade que, sobretudo no Ártico canadense e no norte do Alasca, foram construídos iglus maiores, que podiam servir como moradias familiares, mas não era o mais comum”, explica ao EL PAÍS o historiador José Soto Chica, doutor pela Universidade de Granada (Espanha).

- É mentira que... os capacetes dos vikings tivessem chifres

O que nos contaram. É difícil imaginar um viking sem chifres. O motivo é que óperas como O Crepúsculo dos Deuses (Wagner, 1876) e filmes como Vicky, o Viking (1974) sempre representaram estes guerreiros, que habitaram o norte da Europa entre 700 e 1100, com capacetes coroados com chifres.

O que realmente aconteceu. Carl Emil Doepler, figurinista das óperas de Wagner, inspirou-se no pintor sueco August Malmström para criar a roupa dos vikings protagonistas destas óperas. Malmström ilustrou o poema épico A Saga de Frithiof retratando os vikings com capacetes com asas, elemento que Doepler reinterpretou transformando-as em chifres, sem basear-se em nenhum dado histórico, e que acabou entrando para o imaginário coletivo como algo inerente aos vikings. “Os trabalhos arqueológicos não permitiram afirmar que os capacetes daqueles guerreiros escandinavos tivessem chifres”, aponta Alfonso López Borgoñoz, ex-presidente da ARP Sociedade para o Avanço do Pensamento Crítico. O único elmo viking completo encontrado até hoje é o Gjermundbu (Noruega) e avaliza a opinião do López Borgoñoz, pois não há nem rastro de que esse gorro desenhado à base de placas de ferro fosse equipado com chifres.

O filme ‘Vicky, o Viking’ (2009) é mais um exemplo de que os vikings sempre são representados com chifres no cinema.
O filme ‘Vicky, o Viking’ (2009) é mais um exemplo de que os vikings sempre são representados com chifres no cinema.Foto: Alamy

- É mentira que... Anastásia tenha sobrevivido à matança que os bolcheviques perpetraram contra sua família, os Romanov

O que nos contaram. Tanto a animação Anastásia (1998) como o musical homônimo centram-se na vida da filha caçula do czar Nicolau II. A trama conta que Anastásia, nome da filha mais nova dos Romanov, sobreviveu à matança cometida pelos bolcheviques na noite de 16 para 17 de julho de 1918, durante a guerra civil russa. Depois do massacre que acabou com a vida de seus pais e seus quatro irmãos, Anastásia passou alguns anos desaparecida. Nesse tempo, muitas jovens impostoras afirmaram ser Anastásia, até que finalmente a verdadeira se reencontrou com sua avó, a imperatriz Maria Fiodorovna Romanova.

O que realmente aconteceu. Anastásia morreu no mesmo dia que sua família. “É completamente falso que Anastásia tenha sobrevivido. A única verdade é que a jovem morreu junto com o resto dos Romanov”, afirma ao EL PAÍS Fernando Camacho, professor de História na Universidade Autônoma de Madri. Em 1991 foram encontrados os restos do czar Nicolau II, sua esposa Alexandra Fiodorovna e dos seus três filhos. Em 2007, acharam-se os restos dos outros dois filhos. Ao cotejar o DNA mitocondrial de uns e outros, revelou-se que todos coincidiam. Esse exame corroborou que uma das filhas encontradas junto à czarina era Anastásia, e acabou de uma vez por todas com o mito da grande duquesa. “Não há dúvida de que Anastásia Romanova morreu assassinada. A Anastásia que inspirou o musical era uma impostora (possivelmente um pouco perturbada), que conseguiu convencer muita gente, inclusive familiares da princesa. Mas nunca foi reconhecida oficialmente, entre outras coisas porque nem falava russo nem sabia nada da família real”, conta José María Faraldo, professor de História Contemporânea da Universidade Complutense de Madri.

Retrato de Anastásia, a filha caçula do czar russo Nicolau II.
Retrato de Anastásia, a filha caçula do czar russo Nicolau II.Foto: Getty

- É mentira que... Pocahontas e John Smith tenham se apaixonado.

O que nos contaram. Pocahontas foi uma nativa norte-americana que nasceu em 1595, filha mais velha do chefe da confederação algonquina da Virgínia, o chefe Powhatan; e a Disney contou sua história em 1995 na animação homônima. No longa, Pocahontas e John Smith se apaixonam, mas as circunstâncias sociais – ela é uma indígena americana, e ele um explorador inglês - não facilitam as coisas. Além disso, devem enfrentar um pai intransigente, o dela, que quer para Pocahontas um casamento de conveniência com outro indígena da tribo, Kocoum, a quem a jovem rechaça categoricamente.

Na animação Anastásia (1998), a filha mais nova do czar Nicolau II sobrevive à matança perpetrada pelos bolcheviques, que acabou com a vida de seus pais e irmãos.
Na animação Anastásia (1998), a filha mais nova do czar Nicolau II sobrevive à matança perpetrada pelos bolcheviques, que acabou com a vida de seus pais e irmãos.Foto: Alamy

O que realmente aconteceu. Para começar, não se chamava Pocahontas. Seu nome era Matoaka. Para continuar, nos diários de Smith (escritos entre 1607 e 1612) fica claro que Pocahontas e ele nunca se apaixonaram. Ela tinha 10 anos e o chamava de “pai”, porque ele tinha 27. Na verdade, Pocahontas se casou com Kocoum, por quem sim estava apaixonada, e salvou a vida de Smith quando sua tribo o sentenciou à morte – colocou-se no meio justamente antes de cortarem a cabeça do colono. Anos depois, após enviuvar, Pocahontas viajou a Londres, onde voltou a se casar, mas morreu aos 22 anos, em 1617. Desde então, o mito de seu romance com John Smith, alimentado pela Disney, maquiou o genocídio que os colonos perpetraram contra os nativos americanos.

O filme ‘Pocahontas’, da Disney, conta a história de amor entre uma nativa norte-americana, Pocahontas, e um capitão inglês, John Smith.
O filme ‘Pocahontas’, da Disney, conta a história de amor entre uma nativa norte-americana, Pocahontas, e um capitão inglês, John Smith.Foto: Alamy

- É mentira que... Ocorra uma explosão quando se atira uma bituca de cigarro em uma superfície com gasolina

O que nos contaram. Existem inúmeros exemplos no cinema de ação (e inclusive nas comédias) onde ocorrem explosões quando alguém acende um cigarro ou joga uma bituca em uma superfície borrifada de gasolina. Em Zoolander (2001), filme onde Ben Stiler dá vida a um modelo um tanto descerebrado, há uma cena em que o protagonista está fazendo-se de idiota num posto de gasolina com vários colegas e, depois de jogar combustível sobre o carro, alguém acende um cigarro e ocorre uma explosão.

O que realmente acontece. Para que ocorra uma grande explosão, a gasolina precisa de um foco de ignição potente, como uma boa fagulha. A bituca de um cigarro apenas queima, por isso é muito difícil que ao cair ao solo ocorra uma explosão. “As misturas de combustíveis só queimam em condições muito específicas de concentração no ar. Isto quer dizer que não é tão simples que ocorram as grandes explosões que vemos no cinema ao atirar um cigarro no chão. Para que isto ocorra seria preciso algo que queime muito mais”, explica ao EL PAÍS o cientista David Calle.

- É mentira que... a primeira experiência sexual seja idílica.

O que nos contaram. Em Segundas Intenções (1999), Ryan Phillippe interpreta Sebastian Valmont, um jovem libidinoso cujo passatempo favorito é seduzir e levar para a cama todas as mulheres que encontra. Reese Witherspoon é Annette Hargrove, uma estudante sem experiência sexual até que Sebastian cruza seu caminho. Ele consegue que Annette mude de opinião sobre esperar até o casamento, e o casal tem um encontro sexual, o primeiro para ela, onde tudo sai às mil maravilhas.

O que realmente acontece. “A primeira vez costuma ser bastante desastrosa. A inexperiência faz que seja algo atrapalhado (muitos homens nem sequer estão seguros de onde está o buraco) e doloroso para muitas mulheres”, diz a sexóloga Ruth Osset ao EL PAÍS. “Entretanto, nos filmes se mostra como um momento idílico, em que não se sua e não se despenteia nem um cabelo”, observa Ousset. A sexóloga explica também que o clichê cinematográfico de que os homens sempre têm vontade de praticar sexo é falso: “Os homens nem sempre estão dispostos. O cansaço e o estresse a que estamos expostos diariamente causam muito dano e são fatais para a libido. Outra realidade que não se mostra nos filmes é que há homens que têm dificuldades para abrir e colocar o preservativo. Muitos inclusive perdem a ereção tentando”.

- É mentira que… Cleópatra tivesse vestidos luxuosos e joias

O que nos contaram. Em Cleópatra, o filme mais elogiado sobre esta rainha, dirigido em 1963 por Joseph L. Mankiewicz, o figurino da protagonista (Elizabeth Taylor) custou 194.000 dólares naquela época – em valores atualizados pela inflação, seriam 1,6 milhão de dólares (6,78 milhões de reais). O motivo? Taylor ostentou inumeráveis trajes e adornos ao longo das quatro horas de metragem (inicialmente eram seis, mas a produtora pediu a Mankiewicz que cortasse duas). Segundo essa visão, Cleópatra teria sido uma espécie da Madonna helenística, uma estrela do pop sempre rodeada de padrões complexos, decorações extremas e cores extravagantes.

O que realmente aconteceu. Durante muitos séculos, a indumentária do Egito foi muito humilde. “A civilização egípcia era bastante estática, estilisticamente falando. Lá usavam tecidos muito simples, principalmente linho, porque a lã era considerada impura por sua procedência animal, e, embora bordassem e tingissem, faziam-no com sobriedade. Os objetos que vestiam eram túnicas ou panos leves drapeados”, explica Carlos Primo, professor de Sociologia e História da Moda na Escola de Design IADE. É verdade que Cleópatra era de ascendência grega, mas, como observa Primo, nem sequer essas origens sustentam a ideia de que uma soberana egípcia vestisse trajes tão elaborados. “O vestuário da Cleópatra de Liz Taylor é uma mistura de diferentes influências: as representações teatrais e operísticas da personagem no século XIX (desde a de Shakespeare à Aida de Verdi), o vestuário das primeiras bailarinas de dança oriental que triunfaram nos Estados Unidos no começo do século XX e, obviamente, a moda da época. Há citações literais a Dior ou Charles James no figurino do filme, silhuetas trazidas literalmente dos anos cinquenta e sessenta e maquiagens similares às que podiam aparecer na capa da Harper's Bazaar ou Vogue”, aponta o especialista em moda.

A Cleópatra que Elizabeth Taylor interpretou em 1963 era uma espécie de estrela pop que se vestia de forma luxuosa e extravagante.
A Cleópatra que Elizabeth Taylor interpretou em 1963 era uma espécie de estrela pop que se vestia de forma luxuosa e extravagante.Foto: Alamy

- É mentira que... O Titanic fosse impossível de afundar, como diz o famoso filme

O que nos contaram. Em 1997, o diretor James Cameron estreou Titanic, que foi durante 12 anos – de 1997 a 2009 – o filme de maior bilheteira da história. A trama do longa, protagonizado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, gira em torno de um luxuoso navio, o Titanic, que afunda ao se chocar com um iceberg apesar de ter como principal característica a sua suposta insubmersibilidade. Esse navio existiu, zarpou de Londres com direção a Nova York em 1912 e afundou no meio do Atlântico antes de chegar ao seu destino. No filme de Cameron, faz-se menção em repetidas ocasiões a essa “insumersibilidade” que o diferenciaria das demais embarcações. Logo antes de embarcar no Titanic, a mãe da protagonista (Winslet) comenta: “Então este é o navio que dizem que não tem como afundar”. E o seu futuro genro confirma: “Nem Deus poderia afundá-lo”.

O que realmente acontece. O professor de Sociologia cultural do King's College de Londres Richard Howells afirma em seu livro The Myth of the Titanic (1999) que a White Star Line, empresa dona do navio, nunca disse que este fosse insubmersível. “Não é verdade que o Titanic fosse visto pelo público como um navio insubmersível. É um mito que surgiu depois do naufrágio para dar um caráter épico à história”, diz o autor. O jornalista Philip Howard, dessa mesma opinião, escreveu em 1981 no The Times que “não há nenhuma prova de que o Titanic fosse considerado insubmersível. A palavra insubmersível começa a aparecer na imprensa um dia depois do afundamento. E isto ocorre para dar grandiloquência ao acidente”.

Em 1997, James Cameron levou ao cinema a história do ‘Titanic’.
Em 1997, James Cameron levou ao cinema a história do ‘Titanic’.Foto: Alamy

- É mentira que... William Wallace herói de ‘Coração Valente’, pintasse o rosto de azul

O que nos contaram. A imagem mais célebre da superprodução histórica Coração Valente (1995), ganhadora de cinco Oscars, é o rosto pintado de azul de seu protagonista William Wallace (interpretado por Mel Gibson). No filme, Gibson dá vida ao herói escocês do século XIV que lidera a batalha pela independência escocesa contra os ingleses. E o faz, assim como os outros homens que lutam ao seu lado, com um look chamativo que passou à história: o rosto camuflado de pintura azul.

O que realmente acontece. Quem realmente pintava o rosto de azul eram os pictos, povo que habitou a Escócia durante a invasão romana, no ano 47 depois de Cristo. “Os pictos eram indígenas que lutaram contra os romanos e pintavam a cara de azul para infundir pavor. Entretanto, os escoceses não pintavam o rosto na Idade Média, quando transcorre a trama de Coração Valente”, observa Miguel Ángel Perfecto, professor de História Contemporânea da Universidade de Salamanca (Espanha) e especialista em história da Escócia. Outra inexatidão histórica que o historiador aponta é que na Idade Média não existiam nem a ideologia nem os movimentos nacionalistas, portanto William Wallace não poderia ser o líder do nacionalismo escocês retratado no filme. “O nacionalismo surgiu com as revoluções burguesas no século XIX. No século XIV, que é a época em que se passa Coração Valente, ainda não existiam”, relativiza Perfecto.

O traço mais característico de William Wallace, protagonista de ‘Coração Valente’ (1995) é sua cara pintada de azul. Mas era esse mesmo o aspecto dos guerreiros escoceses da Idade Média?
O traço mais característico de William Wallace, protagonista de ‘Coração Valente’ (1995) é sua cara pintada de azul. Mas era esse mesmo o aspecto dos guerreiros escoceses da Idade Média?
O último filme de Amenábar, 'Enquanto dure a guerra', conta como foram os inícios da Guerra Civil espanhola, contenda na que Franco teve um papel principal.
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