Polícia analisa câmeras em busca de suspeito de matar moradores de rua em São Paulo
Quatro pessoas morreram em Barueri após tomar bebida possivelmente envenenada; outras cinco estão hospitalizadas
A poucos metros da tradicional Padaria Central, próximo à Praça das Bandeiras, no centro de Barueri, na Grande SP, nove pessoas que pediam dinheiro e alimentos no bairro tomaram um líquido possivelmente envenenado. O delegado Celso Luiz de França, plantonista do DP Central de Barueri, diz que a Polícia Civil vai analisar imagens de câmeras de segurança, tanto na região central de Barueri como na Luz, no centro de São Paulo, para saber quem deu a bebida às vítimas.
A informação inicial, registrada na Polícia Civil do município por volta das 10h30 do sábado (16), é que uma das vítimas, o soldador Vinícius Salles Cardoso, 31 anos, teria pego a garrafa com a bebida envenenada na noite de sexta-feira (15), na Luz. Exames do Instituto de Criminalística ainda vão apontar o que continha na bebida.
De acordo com o que foi registrado na delegacia central do município, sete homens e uma mulher passaram mal. Três vítimas foram socorridas por uma ambulância, dois pela equipe de Resgate Municipal, uma pelo Corpo de Bombeiros e outras duas pela GCM (Guarda Civil Municipal).
Das oito atendidas no primeiro momento, cinco chegaram no hospital vivas. Luiz Pereira da Silva, 49 anos, Marlon Alves Gonçalves, 39, e Denis da Silva Oliveira, 33, morreram no local. Edson Sampaio da Silva, 40 anos, morreu no hospital.
As vítimas passaram pelos primeiros atendimentos no Pronto-Socorro Municipal e posteriormente foram transferidas para o Hospital Municipal de Barueri Doutor Francisco Moran.
Os guardas responsáveis pelo atendimento disseram que Vinícius, um dos socorridos pela GCM, informou que pegou a bebida no centro de São Paulo, de um homem que estava em um carro, sem mencionar as características da pessoa ou do veículo. Essa informação, contudo, não é oficial, já que nenhuma das pessoas atingidas prestou depoimento formal sobre o ocorrido.
Cerca de oito horas depois do registro da ocorrência, um novo pedido de socorro. Um homem identificado como Paulo Cezar Pedro, 41, que vive em situação de rua, estava caído em uma rua também no centro de Barueri, apresentando os mesmo sintomas dos possíveis envenenados, com um agravante: machucados pelo corpo.
Paulo passou pelo mesmo procedimento dos outros sobreviventes do possível envenenamento. Foi levado ao PS Municipal e transferido para o hospital onde segue internado com os demais.
Por meio de nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) diz que a última vítima “teria caído e sofrido uma lesão na cabeça”. A pasta afirma que “são apurados os motivos da hospitalização e se há relação com a ocorrência mais cedo”.
Após o registro de uma nova vítima do possível envenenamento, a Prefeitura de Barueri divulgou, erroneamente, uma nota dizendo que um dos hospitalizados, Renilton Ribeiro Freitas, 43 anos, havia morrido. Depois corrigiu a informação.
Dias antes da morte, uma briga com GCMs
Dos quatro homens que morreram, Luiz Pereira da Silva, 49 anos, foi enterrado na manhã deste domingo (17/11) em Osasco; Denis da Silva Oliveira, 33 anos, Edson Sampaio da Silva, 40 anos, e Marlon Alves Gonçalves, 39 anos, foram enterrados entre a manhã e a tarde.
Dos quatro mortos, pelo menos dois não estavam em situação de rua. Denis morava com a mãe e Edson morava com os irmãos em uma casa que é herança dos pais, os quais morreram ainda quando ele era criança.
Todas as vítimas, no entanto, eram dependentes do álcool e viviam juntas em busca de alimentos, bebidas e dinheiro. Segundo relatos da vizinhança, o grupo ficava na região central, próximo do supermercado Barbosa, oferecendo ajuda para cuidar dos carros em troca de moedas.
De acordo com a vizinha de uma das vítimas, na última quarta-feira (13) os homens teriam tido um problema com GCMs em frente ao supermercado. A confusão teria juntado diversas viaturas da guarda no local e os homens tiveram que sair momentaneamente da região.
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Barueri e a Guarda Civil Municipal, mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.
Após o enterro de Marlon, o pai dele, Oswaldo Gonçalves, começou a conversar com a reportagem, e disse que a família “tentou ajudar, mas ele não parava em trabalho nenhum”.
A morte que não houve
Uma das vítimas do possível envenenamento, Renilton, conhecido como DJ Boca, está na rua devido aos problemas que sofre com álcool desde que saiu da casa da mãe, no início dos anos de 1990.
Boca foi apontado pela Prefeitura de Barueri, no final da manhã deste domingo (17), erroneamente, como a quinta vítima morta após tomar a bebida. A notícia rapidamente causou a comoção dos amigos, que buscaram por informações e foram para porta do hospital.
Aguardando notícias do estado de saúde dele, os amigos ocuparam a entrada da unidade hospitalar e relembraram as histórias com ele. “O Boca vive na rua porque é doidão, gosta de sair andando por aí, bebe para caramba, mas conhece tudo de música eletrônica, dança, é chefe de cozinha, muito esperto”, diz a agente de turismo Natali Mota.
A bebida compartilhada com Boca pode ter sido uma retribuição para o que o DJ sempre costuma fazer, segundo os amigos. “Ele tira dele para dar aos outros, até a roupa do corpo, as camisetas que ele tem, ele tira e dá para outras pessoas”, afirma o amigo Tiago Elvis Zanetti.
Por volta das 16h30, uma das amigas conseguiu entrar para visitá-lo. Cerca de 10 minutos depois, voltou chorando, e confirmou o que todos esperavam: “Ele está vivo mesmo”. Ele disse para amiga que viu a notícia sobre sua morte no Facebook, mas afirmou que está tudo bem “apesar da maldade”.
Esta reportagem foi publicada originalmente no site Ponte Jornalismo.
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