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Pelo menos nove manifestantes morrem em duros confrontos com as forças de segurança na Bolívia

Choques ocorreram perto de Cochabamba em uma manifestação de cocaleiros leais a Morales

Uma dos protestos em Sacaba, em Cochabamba (Bolívia).
Uma dos protestos em Sacaba, em Cochabamba (Bolívia).AFP
F. M.

A convulsão na Bolívia não diminuiu com a renúncia de Evo Morales e a posse de um Governo interino. Os protestos gerados pela mudança dos equilíbrios políticos do país deixaram na sexta-feira pelo menos nove manifestantes mortos (eram sete, inicialmente, mas outras duas mortes foram confirmadas) mais de 20 feridos em uma localidade próxima da cidade de Cochabamba, segundo informações da Defensoria Pública. Os choques com as forças de segurança e militares ocorreram durante uma grande manifestação de cocaleiros fiéis ao ex-presidente. Também ocorreram distúrbios em La Paz.

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Os confrontos ocorreram nas proximidades de uma ponte do município de Sacaba, onde os manifestantes se concentraram com a intenção de partir para a cidade de Cochabamba. Essa área da província do Chapare, polo da produção de folha de coca, transformou-se nas últimas semanas no principal reduto da resistência dos seguidores de Morales.

Com as vítimas de sexta-feira, subiu para 20 o total de mortos nos protestos iniciados depois das eleições de 20 de outubro. Os feridos somam quase 550 e os detidos, 44. A violência continua. Em La Paz, milhares de pessoas, principalmente representantes indígenas do município de El Alto e membros da milícia dos Ponchos Vermelhos seguiram até a praça de San Francisco, no centro da cidade, onde entraram em confronto com as forças de segurança.

A presidenta interina da Bolívia, Jeanine Áñez, afirma desde que assumiu o cargo, na terça-feira, que sua missão é “pacificar” o país e convocar eleições o mais rápido possível. Até agora, não atingiu nenhum desses objetivos. O Governo atribui isso às ações de grupos violentos e vândalos. Mas a realidade é que a tensão não foi contida. No México, onde está asilado, Morales criticou a atuação das forças de segurança. “O regime golpista que tomou de assalto o poder na minha querida Bolívia reprime com balas das Forças Armadas e da polícia o povo que pede pacificação", afirmou o ex-presidente nas redes sociais.

Horas antes, Áñez advertira Morales de que ele tem contas pendentes com a Justiça e que, se voltar ao país, terá de responder por elas. Em declarações à imprensa internacional, a ex-senadora, que assumiu a presidência sem o apoio majoritário do Parlamento, reiterou que a meta de seu Governo provisório é convocar eleições “justas e transparentes”, mas não disse quando serão realizadas. Não estabeleceu nem mesmo um horizonte para isso, embora a Constituição lhe dê três meses para marcar uma data.

A presidenta interina disse que, durante esta transição, não haverá perseguição contra adversários políticos. No entanto, deixou claro que o ex-presidente terá de arcar com suas responsabilidades se decidir retornar ao país. “Agora já estão pedindo que venha, quando ninguém o expulsou do país. Ele saiu por conta própria, […] ele sabe que ainda tem contas pendentes com a Justiça boliviana”, afirmou. “Se o presidente Morales voltar, que volte, mas ele sabe que também tem de responder à Justiça. O que vamos exigir é que a Justiça boliviana faça seu trabalho, não que faça uma perseguição política, que é o que sofremos durante 14 anos, judicialização da política e politização da Justiça”, acrescentou. O ex-presidente tinha declarado, em uma entrevista ao EL PAÍS no México, estar disposto a voltar e desistir de ser candidato para pacificar a Bolívia.

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