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PF aponta navio grego como suspeito de vazar óleo no Nordeste, mas pesquisadores têm outras hipóteses

Polícia cumpre mandados de busca e apreensão de representantes da empresa no RJ por derramamento que pode ter acontecido a 700 km da costa. Estudiosos apontam para diferenças de densidade das manchas de óleos nas praias

Mancha de óleo em Maragogi, em Alagoas.
Mancha de óleo em Maragogi, em Alagoas.Diego Nigro / Governo de Pernambuco (EFE)
Beatriz Jucá
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O navio Bouboulina, de bandeira grega e propriedade da empresa Delta Tankers, é apontado pela Polícia Federal (PF) como o principal suspeito pelo derramamento de óleo que tem se espalhado pela costa nordestina, contaminando centenas de praias brasileiras. Nesta sexta-feira, a PF cumpre dois mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro em sedes de representantes da empresa responsável pela embarcação. As investigações, que têm a colaboração da Interpol, apontam que o navio grego atracou na Venezuela no dia 15 de julho e permaneceu ali três dias antes de seguir viagem, tendo Singapura como destino. A embarcação teria atracado apenas lá e na África do Sul. A versão dos investigadores é de que o derramamento do óleo teria ocorrido durante esse deslocamento, entre os dias 28 e 29 de julho, a pouco mais de 700 quilômetros da costa da Paraíba.

Agora, a Interpol busca dados adicionais sobre a embarcação, a tripulação e a empresa responsável pelo petróleo abastecido na Venezuela. A investigação sobre a origem das manchas de óleo que contaminaram mais de 280 praias em todos os estados do Nordeste é de responsabilidade da Marinha, mas neste caso ocorre de forma integrada com o Ministério Público Federal, o Ibama e universidades da Bahia, de Brasília e do Ceará.

A suspeita de que a origem do óleo venha desse navio grego decorre da observação de imagens de satélite, que possibilitaram a identificação de uma mancha inicial de petróleo cru a cerca de 700 quilômetros da costa brasileira no dia 29 de julho. A embarcação grega, apontam os investigadores, teria sido a única petroleira a navegar pela área suspeita na data do vazamento.

"A mancha é longa, mas não sei se ela justifica o volume do que está acontecendo [na costa nordestina]", diz o pesquisador Humberto Barbosa, que trabalha no Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas. Segundo as investigações, porém, o navio grego teria capacidade para transportar 80 mil toneladas de óleo e apenas uma fração desse volume foi encontrado na costa brasileira. Ainda assim, Barbosa acredita que a mancha analisada nas investigações oficiais pode não ser suficiente para explicar o desastre ambiental causado pelo óleo. E chama atenção para outras manchas que têm sido observadas próximo à costa nordestina.

Nesta semana, Barbosa identificou uma imagem do satélite Sentinel-1A ao fazer o monitoramento remoto do oceano que mostra uma mancha em formato de meia lua, com 55 quilômetros de extensão e seis de largura, próxima do município baiano de Prado. E levantou a hipótese de que o vazamento pode estar ocorrendo abaixo da superfície do mar, inclusive na área do pré-sal.

Segundo ele, as imagens analisadas mostram fluidos com densidades diferentes e características que indicam que o fluido possa ter sido gerado no fundo do oceano. Além disso, as manchas no mar brasileiro observadas nas imagens seguem padrões distintos do que a literatura europeia aponta em casos de derramamento de óleo, afirma. "Pela primeira vez, encontramos uma assinatura espacial diferenciada. Ela mostra que a origem do vazamento pode estar ocorrendo abaixo da superfície do mar", afirma.

O pesquisador pondera que sua hipótese levanta algumas ressalvas, já que não foi feito trabalho de campo nem a análise da água que possa identificar exatamente o que é o fluido observado. No entanto, o cruzamento de informações do material que tem aparecido na costa com as correntes marítimas e os ventos dariam força à sua tese. A Marinha não comentou sobre o monitoramento do pesquisador e não se sabe se as mais de 800 imagens analisadas pelas investigações oficiais contemplam aquelas monitoradas por Barbosa, no sul da Bahia.

Outras duas imagens de datas diferentes da mesma região também têm intrigado o pesquisador. Ele conta que, ao comparar imagens do mesmo quadrante nos dias 16 de outubro e 30 de outubro, observou que a intensidade da mancha do dia 30 estava maior. "Consigo ver o mesmo contorno, porém com mais intensidade em alguns pontos", afirma. O pesquisador trabalha nessas imagens e tem mantido contato com a comissão criada no Senado para acompanhar o caso. "O que foi colocado de óleo na costa não condiz com um simples vazamento de navio. Os fluidos são muito densos. Teria que ser muitos navios em um acidente em cadeia para provocar essa quantidade de óleo", analisa.

Em nota sobre as investigações do caso, a Marinha explica que a suposta área do descarte foi identificada graças aos estudos realizados pelo Centro de Hidrografia da Marinha junto a universidades e instituições de pesquisa. Paralelamente, a Polícia Federal identificou uma imagem de satélite de uma mancha de óleo no dia 29 de julho por meio de geointeligência. Nas imagens do mesmo local feitas em datas anteriores, não havia manchas. Além disso, a análise do óleo comprovaria sua origem de poços venezuelanos. O navio grego teria sido o único petrolífero a trafegar próximo ao local. "As investigações prosseguem, visando identificar as circunstâncias e fatores envolvidos nesse derramamento (se acidental ou intencional), as dimensões da mancha de óleo original, assim como mensurar o volume de óleo derramado, estimar a probabilidade de existência de manchas residuais e ratificar o padrão de dispersão observado", acrescenta a nota da Marinha.

Um dia antes da Polícia Federal deflagrar a operação que divulgou a suposta origem do óleo como de um derramamento em alto mar por um navio grego, o presidente Jair Bolsonaro comentou o assunto na live semanal que publica nas suas redes sociais. O presidente disse que "está mais do que comprovado que [a origem do óleo] é da Venezuela" e que o Governo sabe disso há quase dois meses, por meio de seus órgãos de investigação.

Ao lado do presidente, o secretário de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, disse que a pesca está liberada nas regiões atingidas. Segundo ele, não há notificação sobre contaminação de pescados, exceto a de pessoas sujas com óleo que fizeram a limpeza com tiner. “O peixe é um bicho inteligente. Quando ele vê uma manta de óleo ali, capitão, ele foge, ele tem medo. Então, obviamente, você pode consumir o seu peixinho sem problema nenhum. Lagosta, camarão, tudo perfeitamente sano, capitão”, disse ele. Bolsonaro tossiu ao ouvir a declaração, mas não discordou do secretário. "Obviamente de vez em quando fica uma tartaruga ali na mancha de óleo, pra não falar que ninguém fica, né? Um peixe, um golfinho pode ficar, mas tudo bem". O vídeo viralizou nas redes com o trecho do comentário do peixe inteligente.

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