Evo Morales e a OEA acordam auditoria que pode alterar resultado da eleição
Os protestos continuam no país e a oposição considera o acordo entre o Governo boliviano e a organização internacional “uma farsa”
O Governo de Evo Morales e a Organização dos Estados Americanos (OEA) chegaram a um acordo para realizar uma auditoria vinculante do processo eleitoral. Nesta quinta-feira começará a revisão da organização multilateral sobre o processo que deu a vitória a Evo Morales no primeiro turno e que desencadeou protestos nas ruas do país sul-americano. Na noite desta quarta-feira, duas pessoas morreram em confrontos entre opositores e partidários de Morales na cidade de Montero, a 60 km de Santa Cruz de la Sierra, no leste do país.
Conforme combinado, se a auditoria encontrar irregularidades suficientes pode haver uma votação de desempate entre Morales e o candidato da Comunidade Cidadã, Carlos Mesa. A oposição considera “uma farsa” e diz que não quer um segundo turno, mas uma nova eleição geral. Alguns líderes inclusive exigem a renúncia imediata do Governo.
Mas a posição da Comunidade Cidadã sobre a auditoria foi incerta: Carlos Mesa a aceitou implicitamente, mas seu candidato a vice-presidente, Gustavo Pedraza, negou que tivesse sido aprovada como uma saída da crise atual. O vice-presidente do Governo de Morales, Álvaro García Linera, pediu publicamente nesta terça-feira de manhã ao “candidato perdedor”, Mesa, para participar do processo de revisão. Horas depois este perguntou, também através da imprensa, se a auditoria seria “vinculante”. Ou seja, se poderia alterar os resultados oficiais do Tribunal Eleitoral. O ministro da Comunicação, Manuel Canelas, respondeu afirmativamente. No final do dia, Mesa não disse se colaboraria com a OEA, mas aceitou implicitamente o que foi acordado entre o organismo e o Executivo. “Não tenho dúvidas de que demonstrará a enorme fraude que aconteceu em 20 de outubro”, afirmou. Mesa também lembrou que a necessidade de uma auditoria decorre do relatório da missão de observação eleitoral da OEA, que apontou “irregularidades tão importantes que levaram a recomendar a realização de um segundo turno”.
O relatório da missão concentra as críticas na suspensão da transmissão das fotografias das atas eleitorais — para realizar a contagem rápida — durante 24 horas, sem que se saiba com certeza o motivo, pois existem várias explicações oficiais diferentes. Quando essa contagem foi suspensa, a distância entre Morales e Mesa era de sete pontos percentuais e, segundo a lei boliviana, deveria haver um segundo turno. Quando a contagem foi retomada, no entanto, Morales tinha uma vantagem de 10,12% sobre Mesa, exatamente a margem necessária para vencer no primeiro turno. A missão considerou essa mudança nos dados “inexplicável” e capaz de afetar seriamente a confiabilidade das eleições. A situação a atribuiu ao voto da área rural, que sempre lhe foi favorável.
Agora, cerca de trinta especialistas internacionais verificarão a contagem e avaliarão a cadeia de custódia do voto e outros aspectos do processo eleitoral, nos quais estão centradas as acusações de fraude feitas pela oposição boliviana. A auditoria da OEA será realizada enquanto os protestos continuam no país sul-americano. As manifestações incendiaram o país depois da interrupção da contagem rápida e desde então continuam com greves convocadas em todo o país, embora só tenham adesão total em Santa Cruz, Tarija e Trinidad, no sudeste do país. Nas demais cidades há passeatas e bloqueios de ruas, protagonizados por jovens estudantes universitários e bolivianos de classe média.
A situação piorou desde segunda-feira, quando vários grupos de simpatizantes do Movimento ao Socialismo (MAS) — partido de Evo Morales — começaram a desbloquear as ruas à força. Desde então houve confrontos diários com pedras e paus entre manifestantes de ambos os lados. Há várias dezenas de feridos, alguns graves. As estradas também estão bloqueadas pelos seguidores do MAS. O Governo diz que não está promovendo essas ações, mas existem inúmeros indícios em contrário. O próprio Evo Morales chamou os habitantes da zona rural para “cercar” as cidades rebeldes, declarações que mais tarde outros dirigentes tentaram relativizar.
As mobilizações de rejeição às eleições foram convocadas por “comitês cívicos” regionais. Essas organizações agrupam representantes de instituições econômicas e sociais locais e se opõem a Morales desde o início de sua gestão. O principal comitê cívico é o de Santa Cruz e seu principal dirigente, Fernando Camacho, tornou-se a figura mais visível da mobilização atual. Para ele, a auditoria não é importante, pois a fraude foi evidente e o que o movimento busca não é um segundo turno entre Mesa e Morales, mas uma nova eleição, cujas características não foram especificadas. Além disso, os outros comitês cívicos aprovaram exigir a renúncia imediata do Governo e convocaram “cercos” humanos em torno das instituições do Estado. Em resposta, camponeses e mineiros se concentrarão em torno do Palácio do Governo para “defendê-lo”. Será difícil que a auditoria da OEA consiga acalmar os ânimos no país. Seus resultados são esperados em aproximadamente duas semanas.
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