Coalizão de Salvini obtém vitória estratégica em Úmbria, região central da Itália

Aliança entre os dois partidos que formam o Executivo fica 20 pontos atrás do centro-direita

Matteo Salvini durante um dos comícios que fez na Úmbria.REMO CASILLI (REUTERS)

Quando Matteo Salvini foi afastado do Governo neste verão, ele pegou um marcador e assinalou em vermelho todas as eleições dos próximos meses. Havia perdido a vice-presidência do Conselho de Ministros, a pasta do Interior e a possibilidade de se tornar o novo premier. Mas se conseguisse demonstrar que o povo continuava com ele, a legitimidade do Governo formado pelo Movimento 5 Estrelas (M5S) e o Partido Democrático (PD) por meio de um pacto palaciano, como sua equipe de comunicação o chama, ficaria comprometida. Neste final de semana Salvini concluiu com sucesso a primeira etapa de seu plano na Úmbria, uma região central na qual os partidos da atual coalizão de Governo se apresentaram unidos pela primeira vez. A candidata do centro-direita, uma senadora e ex-prefeita da Liga Norte, derrotou seus adversários com uma vantagem de 20 pontos.

A relevância das eleições na Úmbria, uma região de 890.000 habitantes governada nos últimos 50 anos por partidos de centro-esquerda, não está no resultado. A Liga Norte, de acordo com todas as pesquisas, venceria a batalha com muita folga. Os escândalos do Executivo anterior inclinaram a balança antes mesmo do início da campanha. Mas o M5S e o PD tiveram de ajustar uma encenação que inclusive os obrigou a aparecer juntos no mesmo palco pela primeira vez. Quem apostaria nisso há apenas alguns meses, quando ambas as formações continuavam jurando ódio eterno uma à outra. Mas a nascente história de amor já está condenada à extinção e a partir de agora começará o assédio e a derrubada do Executivo por diferentes flancos.

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A coalizão de direita, formada pela Liga Norte, Forza Italia e Irmãos de Itália, venceu com 57,55% dos votos, segundo dados publicados pelo Ministério do Interior. A aliança entre o antissistema M5S e o progressista PD obteve 37,48% dos votos. Dados que ratificam que os ventos ainda não mudaram na Itália e que o ex-ministro do Interior ainda é uma máquina eleitoral perfeitamente lubrificada.

Salvini se instalou na Úmbria no início do mês e varreu a região palmo a palmo para garantir uma vitória contundente. A imagem que seria transmitida era tão importante para o atual Executivo que o primeiro-ministro Giuseppe Conte decidiu também participar da campanha e aparecer nos últimos dias. O M5S não só podia ver seu resultado dizimado (foi superado inclusive pela formação pós-fascista Irmãos de Itália) diante de seu parceiro de Governo, mas sua pretendida guinada à esquerda ficaria comprometida com um resultado catastrófico como o obtido. De fato, as primeiras vozes dos grillinos já tinham anunciado que a experiência eleitoral com o PD —seu resultado não foi tão ruim quanto o do M5S e ficou com 22,4%— terminou. O Executivo permanecerá, mas cada um se apresentará por conta própria nas próximas e importantes eleições regionais.

A missão era complicada e a Úmbria não é o lugar mais decisivo entre aqueles que terão eleições nos próximos meses, mas ninguém esperava um resultado tão ruim. O candidato de centro-esquerda, Vincenzo Bianconi, era um empresário hoteleiro cujo prestígio foi consolidado com a reconstrução das áreas destruídas pelo terremoto de 2016. Apesar da importância da questão em uma região tão castigada, ninguém apostou nele nestes dias. “Faltou-me um mês a mais de tempo”, lamentou ontem. Donatella Tesei, senadora da Liga e ex-prefeita de Montefalco, no entanto, é a grande escolhida.

Salvini agora tentará confirmar esse resultado como uma espécie de eleição intermediária e atacará com o argumento da falta de legitimidade do atual Governo. A Úmbria não pode ser considerada uma região por si só capaz de desestabilizar completamente o Executivo. As eleições que virão podem ser uma mudança de paradigma, caso o baque do PD e do M5S se prolongue. Especialmente as eleições na região da Emília-Romanha (26 de janeiro), feudo histórico da esquerda que, em caso de passar para a centro-direita, levaria a uma indisfarçável reflexão sobre a continuidade deste Governo. E aí os ataques se multiplicariam. Também a partir de flancos mais inesperados, como o Itália Viva, novo partido criado por Matteo Renzi, que disputará as eleições regionais de 2020.

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