Brexit, Polônia e Hungria: a luta das cidades contra o nacional-populismo
As eleições recentes nos países do Leste mostram o impulso das urbes contra visões fechadas das sociedades ocidentais

Juntamente com as dicotomias tradicionais (direita/esquerda, ricos/pobres), ganha cada vez mais importância no Ocidente aquela que justapõe as cidades, por um lado, e as periferias, o campo, o interior, por outro. As urbes são a principal zona de sociedades abertas, de uma visão liberal e cosmopolita que se choca frontalmente com os postulados do nacional-populismo. Acontecimentos atuais mostram o vigor desse contraste em cenários políticos como o Reino Unido, a Polônia e a Hungria, que, apesar das muitas diferenças entre o primeiro país e os outros dois, compartilham denominadores comuns de aumento do populismo e de exacerbação da defesa nacional.
O Parlamento britânico fez neste sábado uma sessão extraordinária de trabalho —a primeira em um sábado desde a Guerra das Malvinas— para se pronunciar sobre o pacto do Brexit selado pelo Executivo de Boris Johnson com a União Europeia. Por trás das diretrizes políticas dos partidos, um fator de peso para definir as votações (texto geral e emendas), apertadas, é precisamente o tipo de circunscrição a que pertencem os deputados. No referendo de 2016 sobre a permanência na UE, as áreas urbanas de Londres, Liverpool e Manchester votaram a favor de ficar (assim como a Escócia e a Irlanda do Norte). Foi a Inglaterra profunda que decidiu o resultado.
Na Hungria, Budapeste acaba de impor a primeira derrota política em uma década a Viktor Orbán, até agora dominador absoluto da cena. A capital escolheu no domingo passado um ecologista de esquerda como prefeito, rompendo o esquema de poder praticamente sem rachaduras que o primeiro-ministro ostentava.
Na Polônia, também no domingo passado, as eleições legislativas reafirmaram a divisão habitual. Em nível nacional, os ultraconservadores liderados por Jaroslaw Kaczynski obtiveram uma nova vitória, com uma porcentagem maior em relação às eleições anteriores (43,5% em comparação com 40%, embora agora tenha obtido uma maioria mais fraca na Câmara e perdido o controle do Senado). No entanto, repetindo um esquema comum nesse país, a oposição centrista mais liberal ganhou em Varsóvia, Gdansk, Poznan, Lodz, Szceczin.
O fenômeno se repete em outros países. Nas eleições europeias de maio, por exemplo, a Liga se deu muito bem na Itália, afirmando-se como primeiro partido em escala nacional com notáveis 34% dos votos. Mas em Roma, Milão, Turim, Nápoles e Bolonha foi o progressista moderado Partido Democrático que conquistou o primeiro lugar.
As cidades exercem há séculos um enorme poder de atração (migrações para as urbes) e expansão (a difusão de seus avanços intelectuais). Veremos se conseguirão se sobrepor ao nacional-populismo.