Doria pede “respeito para Argentina seja qual for o resultado eleitoral”
Governador de São Paulo aproveita encontro com imprensa estrangeira para se opor à posição de Bolsonaro sobre política ambiental


Se o Estado de São Paulo fosse um país, seria a terceira economia latino-americana depois do Brasil e da Argentina. Com o peso político que esse dado confere, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), deixou claro na terça-feira que, embora compartilhe a agenda econômica do presidente Jair Bolsonaro, o mesmo não acontece com sua política ambiental ou sua rejeição a tudo que cheire a esquerda.
O tucano, a quem são atribuídas aspirações presidenciais, pediu “respeito pela Argentina, seja qual for o resultado eleitoral” no pleito de outubro, durante um encontro com jornalistas estrangeiros. Assim, o paulista que apoiou Bolsonaro durante a campanha presidencial se coloca como antípoda à direita do presidente, que na véspera repudiou a contundente vitória peronista nas primárias do domingo.
Doria, empresário e publicitário milionário eleito governador com um discurso de renovação política e menos Estado, lembrou que a Argentina, além de vizinha, é “um dos maiores parceiros comerciais do Brasil”, razão pela qual as relações comerciais devem ficar à margem das relações pessoais entre seus mandatários.
Na questão ambiental, Doria também se distanciou do Governo Federal, ressaltando que “São Paulo segue rigorosamente o protocolo (do acordo de Paris)”, em referência ao pacto global que Bolsonaro ameaçou abandonar seguindo o exemplo dos Estados Unidos.
Doria se esforça para que a deterioração que a imagem do Brasil no exterior sofre desde que o militar da reserva chegou à presidência não afete seu objetivo de atrair investimentos estrangeiros a São Paulo, que gera um terço da economia brasileira. O programa de privatizações do tucano inclui projetos ferroviários, de rodovias, de metrô, de trens metropolitanos e saneamento.
E embora tenha se encarregado de destacar que o crescimento de São Paulo foi o dobro do nacional entre janeiro e junho, os números do PIB estão abaixo do esperado quando a legislatura começou, em janeiro. O Brasil flerta com a recessão técnica depois que o PIB preliminar do segundo trimestre retrocedeu 0,13% e do anterior caiu 0,2%.
Boa parte das esperanças de Doria e de Bolsonaro para que a economia levante voo estão em duas das principais reformas econômicas em andamento. A do insustentável sistema previdenciário, que acaba de chegar ao Senado depois de ter sido aprovada pela Câmara dos Deputados, é fundamental para sanear as contas públicas. Depois virá a tributária. Mas, enquanto isso, Doria já visitou Nova York, Londres e a China, de onde trouxe o compromisso de investimentos no valor de 24 bilhões de reais na próxima década.