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Brasil e Argentina impulsionam acordo comercial com EUA após pacto com União Europeia

O sucesso nas negociações com Bruxelas, que se estenderam por quase duas décadas, dá asas aos dois grandes do Mercosul

Federico Rivas Molina
Macri e Bolsonaro, no sábado passado em Osaka (Japão).
Macri e Bolsonaro, no sábado passado em Osaka (Japão).D. J. (AFP)

Brasil e Argentina querem mais. Após a assinatura, na semana passada, do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), os dois maiores países do bloco sul-americano dão o pontapé inicial para as conversas com os Estados Unidos. A ideia de Brasília e Buenos Aires é assinar um pacto comercial com a maior economia do mundo aproveitando a boa sintonia que seus presidentes, Jair Bolsonaro e Mauricio Macri, têm com Donald Trump. Mas o futuro da aposta é incerto: o tratado com a UE exigiu 20 anos de negociações, embora suas economias fossem, em grande medida, complementares. Já os EUA competem diretamente com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai pela mesma fatia do mercado agropecuário.

A ideia de uma negociação comercial com a primeira potência mundial nasceu no Brasil. Bolsonaro a anunciou em sua conta do Twitter após a reunião mantida na semana passada com o mandatário norte-americano em Osaka (Japão), no âmbito da cúpula do G20. “Na reunião com o presidente Trump, retomamos assuntos tratados na visita a Washington e introduzimos a ideia de um acordo de livre comércio para fortalecer ainda mais nossa parceria econômica. Trabalhando juntos, Brasil e EUA podem ter impacto muito positivo no mundo”, disse Bolsonaro. O texto não mencionava a Argentina: foi preciso que Macri anunciasse, na última quinta-feira, que também se juntava à iniciativa.

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“Ano que vem, teremos na agenda a Coreia [do Sul, com a qual o Mercosul já negocia um tratado de livre comércio] e estamos conversando com o Brasil para um acordo de livre comércio com os EUA”, disse o presidente argentino. Com a campanha eleitoral já lançada, Macri falou durante um ato para pequenos empresários, tentando tranquilizá-los sobre os efeitos que a abertura de mercado aos produtos europeus terá após o fim da barreira tarifária.

O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, confirmou na última segunda-feira que a Argentina e o Brasil estão em conversações. Logo depois, porém, esclareceu que qualquer pacto com Washington não será exatamente igual ao assinado com Bruxelas. “Cada acordo tem que seguir um modelo diferente, cada sócio tem características diferentes”, disse Araújo, informa Heloísa Mendonça de São Paulo. O cérebro da iniciativa não é o chanceler, mas seu par do Ministério da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes. Formado na escola de Chicago, Guedes é um férreo defensor da abertura comercial, e suas opiniões tiveram muito a ver com o impulso que o Brasil deu às negociações com a UE no último ano.

A aposta fortalece a política de alinhamento de Bolsonaro com os EUA. Ao mesmo tempo, dá a Washington uma vantagem em plena guerra comercial com a China. A dúvida está na viabilidade de uma negociação como essa. Trump antecipou na semana passada que chegou a uma trégua com Xi Jinping, após a China ter prometido comprar dos EUA mais soja, milho e porco – três produtos de destaque nas exportações do Mercosul. Por isso, o anúncio do Brasil e o apoio obtido na Argentina podem ter dependido mais da conjuntura que de uma aposta de longo prazo.

“É uma boa estratégia midiática dizer “fizemos acordo com a União Europeia e agora faremos com a primeira potência mundial”, afirma Ignacio Bartesaghi, decano da Faculdade de Ciências Empresariais da Universidade Católica de Montevidéu. É comum, segundo o analista, que após um tratado comercial muito importante os signatários aumentem “seu preço” ante outros negociadores, convencidos de que agora são mais atrativos.

“Bolsonaro quer se aproximar dos EUA, e Macri sobe a esse barco porque não pode deixar que o Brasil aja sozinho e feche com Trump”, diz Bartesaghi. De todo jeito, adverte, “não se pode descartar que Washington diga que lhe interesse negociar com o Brasil, pois quer evitar a presença da China na região. Além disso, o acordo entre o Mercosul e a UE não lhe permite dormir no ponto”.

A Casa Branca não respondeu à oferta do Brasil e da Argentina. É provável que prefira esperar que a poeira baixe em seus vizinhos do sul. A Argentina já iniciou a campanha para uma eleição em que a vitória de Macri não está garantida. Já o Congresso do Brasil está concentrado no debate sobre a polêmica reforma da previdência. São assuntos complexos que deixam pouco espaço a novas aventuras comerciais no exterior

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