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Novas mensagens mostram que procuradores da Lava Jato discutiram instrução de Moro

Em parceria com 'The Intercept', Reinaldo Azevedo divulga diálogos em que Dallagnol sugere mudanças na estratégia após conselho do ex-juiz

O procurador Deltan Dallagnol em conferência da Lava Jato em Curitiba em setembro de 2016.
O procurador Deltan Dallagnol em conferência da Lava Jato em Curitiba em setembro de 2016.RODOLFO BUHRER (REUTERS)
Marina Rossi

Um dia depois de o ministro da Justiça, Sergio Moro, ser sabatinado no Senado sobre trocas de mensagens entre ele aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, novos diálogos sobre o caso voltaram a ser divulgados. Desta vez, em uma parceria inusitada entre o site de esquerda The Intercept Brasil, que obteve as mensagens privadas dos acusadores que eles afirmam ter obtido com uma fonte anônima, com o colunista Reinaldo Azevedo, um antipetista de direita declarado. Durante seu programa na rádio Band News FM, Azevedo divulgou mensagens trocadas entre os procuradores Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, e Carlos Fernando dos Santos Lima após uma conversa do primeiro com Moro. De acordo com Azevedo, eles discutiram uma orientação do então juiz do caso após a performance de uma procuradora em audiência, e podem ter feito mudanças para beneficiar a atuação da acusação nos depoimentos dos acusados. Tanto o ex-juiz como os procuradores não reconhecem como autênticas as mensagens vazadas porque dizem que podem ter sido adulteradas por hackers.

Segundo Azevedo, 17 minutos depois de ter sido aconselhado por mensagem privada no aplicativo Telegram por Moro a dar "conselhos" e "treinamentos" sobre as técnicas de questionamento da procuradora Laura Tessler, cuja performance teria sido considerada insatisfatória pelo ex-juiz, Dallagnol encaminhou o comentário de Moro a Santos Lima. O coordenador da força-tarefa sugeriu ao colega, então, que fizessem uma "reunião estratégica sobre inquirição" e que olhassem a escala das próximas audiências para que ao menos dois procuradores fossem em cada uma delas. "Na audiência do Lula não podemos deixar acontecer". Tessler não foi à audiência do ex-presidente, segundo o jornalista. Ainda não está claro, porém, as razões pelas quais ela não estava presente na audiência seguinte à mensagem do então juiz.

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A mensagem atribuída a Moro, em que ele fala sobre Tessler, foi revelada no último dia 9 pelo The Intercept Brasil. "Prezado, a colega Laura Tessler de vocês é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem”, teria escrito Moro a Dallagnol. Agora, as revelações feitas por Azevedo mostram o que aconteceu depois. Antes de encaminhar a mensagem de Moro a Santos Cruz, Dallagnol certificou-se, primeiro, de que o Telegram do procurador não estava aberto em seu computador e que não havia ninguém por perto para ler a mensagem. "Não comenta com ninguém e me assegura que teu Telegram não está aberto no seu computador e que outras pessoas não estão vendo o que eu falo. Você vai entender pq eu estou dizendo isso", teria escrito Dallagnol.

Na quarta-feira no Senado, perguntado sobre a mensagem em que se refere à procuradora, Moro afirmou que o que escreveu não havia tido nenhuma consequência. "Eu não me recordo especificamente dessa mensagem, mas o que consta no caso divulgado pelo site é uma referência de que determinado procurador da República não tinha o desempenho muito bom em audiência e para dar uns conselhos para melhorar. Em nenhum momento no texto, há alguma solicitação de substituição daquela pessoa", diz Moro. "Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais, até hoje, dentro da operação Lava Jato (…). Se aconteceu, de fato, não tem nada de ilícito. Não estou comandando a força-tarefa da Lava Jato".

Por meio de nota, a assessoria de imprensa do ministério da Justiça informou que não há "nada de novo" em ralação ao material divulgado. "Sobre suposta mensagem atribuída ao ministro da Justiça e Segurança Pública esclarece-se que não se reconhece a autenticidade, pois pode ter sido editada ou adulterada pelo grupo criminoso, que mesmo se autêntica nada tem de ilícita ou antiética. A suposta mensagem já havia sido divulgada semana passada, nada havendo de novo", diz a nota. "Na suposta mensagem não haveria nenhuma contradição com a fala do ministro ao Senado Federal, como especulado. Cabe esclarecer que o texto atribuído ao Ministro fala por si, não havendo qualquer solicitação de substituição da procuradora, que continuou participando de audiências nos processos e atuando na Operação Lava Jato".

"Parceria"

De acordo com Reinaldo Azevedo, as informações reveladas por ele agora são fruto de uma "parceria de apuração" entre o programa dele - É da coisa - e o The Intercept. Na semana passada, Azevedo realizou uma entrevista com Leandro Demori, editor-executivo do veículo fundado por Glenn Greenwald. O jornalista, no passado, foi responsável pela criação do termo petralha, em que se referia de forma pejorativa ao PT de Lula. Mas há tempos é crítico da operação Lava Jato, que afirma cometer excessos. A estratégia do The Intercept agora parece ser a de buscar sócios jornalísticos para responder a acusações de que os vazamentos são partidários ou visam a proteger Lula.

Pouco antes das revelações de Azevedo em seu programa, Greenwald publicou em sua conta no Twitter: "Alguém pode dizer que isso é apenas reportagem da esquerda? Tem pessoas que querem prender o @reinaldoazevedo por revelar este material "ilicitamente obtido", ou reconhecemos que os jornalistas fazem isso? Decida se Moro disse a verdade ontem. Muito mais vindo de outros parceiros".   Na próxima quarta-feira, Sergio Moro encara nova sabatina, desta vez na Câmara dos Deputados.

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