Após revelações do ‘The Intercept’, deputado recebe novas ameaças de morte
David Miranda, que é marido de Glenn Greenwald, fundador do site, afirma que recebeu novas intimidações após publicação de mensagens atribuídas a Moro e procuradores da Lava Jato
O deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) recebeu e-mails com ameaças de morte a ele e a sua família na semana passada. Casado há 15 anos com Glenn Greenwald, fundador do The Intercept, o deputado acredita que as intimidações têm relação com a série de reportagens publicadas pelo site do marido com base em mensagens atribuídas a Sergio Moro e procuradores da Operação Lava Jato a partir de 9 de junho. “Comecei a receber [as ameaças] assim que fui chamado para o cargo”, afirma Miranda, por telefone, ao EL PAÍS. Desde janeiro ele substitui o deputado Jean Wyllys, depois que o parlamentar deixou o país também sob ameaças de morte. “Mas na semana passada as ameaças se intensificaram mais, com e-mails muito difíceis de digerir, falando sobre a minha família, mencionando meus cachorros, meu marido, a Marielle [Franco], vereadora do PSOL assassinada em março do ano passado]”.
Miranda conta que procurou a Polícia Federal em 13 de março e que um inquérito foi aberto. Agora, ele acredita que as novas ameaças sejam provenientes do mesmo grupo que já o intimidou no início do ano. Após as novas ameaças, David Miranda encaminhou à Polícia Federal, no dia 11, os novos relatos recebidos. A reportagem tentou confirmar com a PF o recebimento das denúncias, mas, até o fechamento desta reportagem, ainda não havia recebido resposta.
Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa do deputado, ele afirma que as ameaças que vem sofrendo via e-mail não vão interferir em sua conduta como parlamentar. "Preocupo-me com a minha segurança e da minha família e, para nos resguardar, fiz os devidos encaminhamentos às autoridades competentes", diz a nota. Miranda, que atua na defesa dos direitos humanos e LGBT, tem dois filhos com Greenwald e afirma que as intimidações são de "grupos de ódio e homofóbicos". Ele também diz que já está escoltado e que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), "tomou providências", oferecendo a ele o apoio do departamento da Polícia Legislativa. "Melhorei a segurança dos meus filhos, da minha família toda em geral, e estamos resistindo", afirmou ao EL PAÍS.
No final do ano passado, a professora e pesquisadora Debora Diniz deixou o país após relatar o recebimento de inúmeras ameaças de morte a ela, a sua família e até a seus alunos da Universidade de Brasília onde lecionava. Em janeiro, foi a vez do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) deixar o Brasil. Embora ele tenha sido reeleito em 2018, não tomou posse devido às ameaças que afirmou ter recebido do mesmo grupo que ataca Debora Diniz. Trata-se de um grupo que atua em fóruns que propagam o ódio na internet, com difícil rastreamento.
Já em março, foi a vez da filósofa e escritora Marcia Tiburi, candidata do PT ao governo do Rio de Janeiro na última eleição, deixar o país relatando ameaças. Ao jornal Valor Econômico, ela afirmou na época estar nos Estados Unidos, inscrita em um programa de uma instituição que oferece acolhida e segurança a escritores ameaçados pelo mundo, chamado City of Asylum.
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