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Governo dos EUA revela morte de menina imigrante sob sua custódia há oito meses

Salvadorenha de dez anos teria sido a primeira menor de idade a morrer sob os cuidados das autoridades norte-americanas desde 2010

Um grupo de imigrantes cruza o rio entre Cidade Juárez (México) e EL Paso (EUA), nesta segunda-feira
Um grupo de imigrantes cruza o rio entre Cidade Juárez (México) e EL Paso (EUA), nesta segunda-feiraMARIO TAMA (AFP)

O Governo dos Estados Unidos reconheceu nesta quarta-feira, 22, a morte de uma menina salvadorenha de 10 anos que estava sob custódia da polícia de fronteiras após chegar ao país proveniente do México. Trata-se do sexto caso conhecido de menores que morreram em instalações oficiais após cruzarem a fronteira, e o segundo revelado nesta semana. A morte, entretanto, ocorreu em setembro de 2018 e, segundo as primeiras informações, não foi comunicada às autoridades de El Salvador nem ao Congresso norte-americano. Pela data, foi a primeira morte de um menor de idade imigrante sob custódia do Governo desde 2010.

O caso foi noticiado pelo canal de TV CBS nesta quarta-feira. Um porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanitários (HHS, que se encarrega de alojar os menores imigrantes quando saem da detenção) informou que a menina tinha “um histórico de defeitos congênitos”, segundo a informação da emissora.

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A menina, cujo nome não foi revelado, deu entrada nos serviços sociais no San Antonio, no Texas, em 4 de março de 2018, num estado “medicamente frágil”, segundo esse porta-voz. “As complicações depois de um procedimento cirúrgico deixaram a menina em coma. Em maio, foi levada a um centro de cuidados paliativos em Phoenix, no Arizona”, continua a explicação. “Em 26 de setembro foi transferida para um centro em Omaha, Nebraska, para estar perto de sua família. Em 29 de setembro, foi levada ao Hospital Infantil de Omaha, onde faleceu devido a complicações respiratórias.”

A CBS cita também Manuel Castillo, cônsul de El Salvador em Aurora, Colorado, que disse não ter sido anteriormente informado dessa morte. Castillo acrescentou que não sabe nada da família da menina e pediu ajuda para localizá-la.

Essa foi a sexta morte noticiada de menores imigrantes que estavam sob custódia do Governo dos Estados Unidos depois de cruzarem a fronteira. Na segunda-feira passada, um adolescente guatemalteco de 16 anos chamado Carlos Hernández Vásquez morreu, supostamente de gripe, enquanto estava detido pela polícia fronteiriça em McAllen, no Texas, um dos pontos mais quentes da fronteira. Vásquez tinha chegado sozinho aos EUA em 13 de maio. No dia seguinte à sua morte, o comando da guarda fronteiriça em McAllen decidiu que não admitiria mais imigrantes, porque outros detidos começavam a apresentar sintomas de gripe.

O primeiro caso conhecido foi o da menina guatemalteca Jakelin Caal Maquin, de sete anos, que morreu em dezembro passado num hospital de El Paso, 48 horas depois de cruzar a fronteira com seu pai, aparentemente em bom estado de saúde. A menina morreu de uma infecção bacteriana que se espalhou rapidamente e provocou falência múltipla de órgãos. A origem da bactéria não foi identificada.

No dia do Natal, outro menino guatemalteco, Felipe Gómez Alonzo, morreu por complicações de uma gripe cinco dias depois de ser detido em El Paso. Tinha oito anos. Em 30 de abril, morreu outro menor de 16 anos, Juan de León Gutiérrez, em um hospital, decorrente de uma infecção cerebral, nove dias depois de dar entrada num centro de acolhida de Brownsville, Texas. O quinto caso foi o de um menino de dois anos e meio da Guatemala, Wilmer Josué Ramírez Vásquez, que morreu em 14 de maio pouco depois de ser detido em El Paso.

Até esta quarta-feira, acreditava-se que o caso de Jakelin Caal tinha sido o primeiro. Na época, já havia sido estranho que o Departamento de Alfândegas e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) levasse uma semana para informar o fato ao Congresso. O caso acabou sendo revelado pelo The Washington Post. A morte da salvadorenha noticiada nesta quarta-feira aconteceu três meses antes disso.

“Uma criança de 10 anos morreu sob custódia do Governo, e uma Administração moralmente falida ocultou isso do público durante meses”, disse no Twitter Julián Castro, ex-prefeito do San Antonio e pré-candidato democrata à presidência dos Estados Unidos. Castro é um dos que pediram uma investigação aprofundada das condições nos centros de detenção na fronteira. A polícia fronteiriça afirma estar sobrecarregada e sem condições de processar milhares de novos casos que chegam todos os dias, em sua maioria de famílias centro-americanas com crianças. Seu irmão, o deputado Joaquín Castro, disse à CBS que não lhe consta que o Congresso tenha sido informado sobre essa morte, o que seria obrigatório. “Se for assim, acobertaram durante oito meses.”

A questão das datas foi um dos pontos para os quais os grupos de defesa dos imigrantes mais chamaram a atenção ao longo desta quarta-feira. Jess Morales, da coalizão do ONGs Families Belong Together, disse em nota que “é inaceitável que o país esteja sendo informado pela primeira vez desta tragédia apenas oito meses depois, e isso suscita perguntas sérias sobre quantas outras mortes de menores imigrantes a Administração Trump não conhece, ou não se importa, ou está escondendo debaixo do tapete. Quantas crianças há que não sabemos?”.

A organização Al Otro Lado, que dá assistência legal aos imigrantes para poder solicitar asilo para eles na fronteira, também se manifestou peloTwitter, após as explicações do CBP. O próprio porta-voz reconhece que a menina tinha família em Omaha, mas só foi levada para lá três dias antes de morrer, e após seis meses nos Estados Unidos.

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