Morre o socialista Alfredo Pérez Rubalcaba, figura-chave da política espanhola
Ex-vice-primeiro-ministro morreu aos 67 anos em Madri em consequência de um AVC
O ex-secretário-geral do PSOE e ex-vice-presidente do Governo (vice-primeiro-ministro) Alfredo Pérez Rubalcaba (Solares, Cantábria, 67 anos) morreu nesta sexta-feira pouco depois das 15h30 no hospital Puerta de Hierro de Majadahonda (Madri), como resultado de um acidente vascular cerebral (AVC). O político veterano, casado com Pilar Goya e sem filhos, foi internado em estado grave no final da tarde desta quarta-feira. Sua condição piorou na quinta-feira de manhã, quando passou a ser de "extrema gravidade", de acordo com informe do hospital. Havia sido transferido na véspera por uma UTI móvel do Summa 112 para o complexo hospitalar "com sintomas compatíveis com derrame cerebral". Foi submetido a um cateterismo e desde então permanecia na UTI.
Pedro Sánchez, primeiro-ministro interino (presidente do Governo) e seu sucessor à frente do partido, antecipou na quinta-feira seu retorno à Espanha, vindo da cidade romena de Sibiu, onde se reunia o Conselho Europeu. Sánchez decidiu ficar ao lado da família do político, informaram fontes do Governo. Felipe González também suspendeu um evento de sua agenda. Outros líderes do PSOE que estavam fora Madri começaram a retornar para a capital quando souberam da gravidade da condição do ex-ministro do Interior, que também foi membro do Conselho Editorial do EL PAÍS. Nesta sexta-feira, o premiê interino planejava ir a Barcelona, mas no meio do dia, depois de reunião do Conselho de Ministros, anunciou que permanecerá em Madri para acompanhar a evolução de Rubalcaba. "Pedro Sánchez, seu Governo e toda a família socialista estão constantemente acompanhando seu estado e desejam enviar novamente todo o seu apoio e afeto a sua esposa, família e amigos", informaram no Palácio de La Moncloa.
Deputado em seis legislaturas, Rubalcaba foi ministro da Educação e Ciência (1992-1993) e ministro da Presidência (1993-1996) no Governo de González. No Governo de Zapatero foi porta-voz do grupo parlamentar socialista (2004-2006), ministro do Interior (2006-2011) e vice-primeiro-ministro e porta-voz desde o final de outubro de 2010 e julho de 2011. Rubalcaba estava afastado da vanguarda política desde maio de 2014, quando apresentou sua renúncia ao cargo de secretário-geral do PSOE após o fraco resultado dos socialistas nas eleições europeias. Voltou, então, a seu posto de professor da Faculdade de Ciências Químicas da Universidade Complutense de Madri, onde na manhã de quarta-feira foi dar aulas normalmente.
O político que era uma referência histórica do PSOE e da política espanhola estudou no colégio do Pilar, em Madri, para onde sua família se mudou quando era muito jovem. Na juventude, Rubalcaba praticou atletismo como velocista, participando dos campeonatos universitários da Espanha de 1975, onde correu a prova dos 100 metros com um tempo abaixo de 11 segundos. Um ano antes, em 1974, ingressou no PSOE. Estudou Ciências Químicas na Universidade Complutense de Madri e completou seu doutorado em 1978 com a distinção Prêmio Extraordinário. Depois trabalhou como professor de química nas universidades de Constanza (Alemanha), Montpellier (França) e Complutense de Madri.
Começou a carreira política colaborando com a Federação Socialista Madrilenha e o grupo parlamentar socialista da Câmara dos Deputados em assuntos educacionais. Com a chegada ao poder do PSOE em 1982, teve início a carreira pública de Rubalcaba. De 1982 a 1985, foi diretor do Gabinete Técnico do Secretário de Estado das Universidades e Pesquisa. Mais tarde, tornou-se diretor-geral de Educação Universitária, cargo que ocupou até 1986, quando foi nomeado secretário-geral da Educação. Em 1988 passou a secretário de Estado da Educação. Sua carreira política ligada ao mundo educacional culminou em junho de 1992 com a nomeação para ministro da Educação e Ciência. De seu departamento, promoveu a Lei de Reforma Universitária (LRU) e a Lei de Ordenação Geral do Sistema Educacional (LOGSE).
Em 1993, foi nomeado ministro da Presidência e de Relações com as Cortes (o Parlamento). Nas eleições desse ano, conquistou uma cadeira na Câmara dos Deputados, que renovou nas eleições de 1996, em que o PSOE perdeu o poder. A partir daí, sua carreira trajetória política no partido foi fulgurante. Em 1997, foi nomeado membro do Executivo no XXXIV Congresso e, em 2000, quando o PSOE elegeu Zapatero como secretário-geral, Rubalcaba entrou para o Comité Federal da legenda. Em 2002, integrou o comitê eleitoral para planejar as eleições legislativas de 2004. Nessas eleições, vencidas pelo PSOE, obteve uma cadeira e foi nomeado porta-voz socialista no Congresso. É muito lembrada uma frase que pronunciou no dia de reflexão dessas eleições, depois dos atentados de 11 de março em Madri: "Os cidadãos espanhóis merecem um Governo que não minta para eles”.
No que diz respeito à legislatura seguinte, seu desempenho foi decisivo na estratégia do Governo para garantir o apoio necessário para implementar suas políticas, tais como a reforma do Estatuto da Catalunha, aprovado pelo Parlamento em 2006, após árduas negociações e um clima de confronto aberto com o Partido Popular, que já o identificava como um de seus principais rivais políticos, a quem dirigia duras críticas. O PP acusava Rubalcaba de ter alimentado manifestações diante de suas sedes no dia de reflexão do 13 de março de 2004 e de mentir sobre o Governo anterior do PP depois dos atentados de Madri.
Na primeira remodelação do Governo de Zapatero, em 2006, foi nomeado ministro do Interior, no lugar de José Antonio Alonso. Nesse cargo conduziu o cessar-fogo do ETA de março de 2006 e o processo de acabar com a violência terrorista, rompido após o atentado em dezembro de 2006 no Terminal 4 do aeroporto de Barajas. Alguns meses mais tarde, a concessão do terceiro grau penitenciário ao etarra José Ignacio de Juan Chaos depois de 114 dias de greve de fome, decidida pessoalmente pelo político "por razões legais e humanas para evitar uma morte", segundo justificou Rubalcaba, aumentou a controvérsia política e as críticas ao ministro socialista.
A ruptura formal do cessar-fogo pelo ETA deu lugar a uma onda de prisões de chefes e ativistas do grupo terrorista. Após as eleições de 2008, Rubalcaba renovou sua cadeira e continuou com a pasta do Interior no novo Governo socialista. A luta contra o terrorismo continuou na mesma linha de prisões importantes de membros do ETA, em muitos casos, de sua cúpula. Em outubro de 2010, Rubalcaba foi nomeado primeiro vice-ministro do Governo responsável pelo Interior e Porta-voz do Governo.
Em março de 2011 ficou na UTI depois de sofrer uma infecção em uma biópsia da próstata. Dois meses mais tarde foi nomeado pelos líderes partidários como o sucessor de Zapatero para concorrer à chefia do Governo nas eleições gerais de 2011. Após a derrota socialista nestas eleições – passaram de 169 a 110 deputados – disputou a Secretaria-Geral do PSOE no Congresso realizado em fevereiro de 2012, enfrentando Carme Chacón, a quem derrotou pela estreita margem de 22 votos (497 a 465).
Os maus resultados eleitorais obtidos pelo PSOE nas eleições convocadas depois de assumir o cargo, tendo como desfecho a perda de nove eurodeputados em maio de 2014, levaram à convocação de um congresso extraordinário do partido em julho de 2014, que ele não disputou. Rubalcaba anunciou que iria abandonar a linha de frente da política, o que formalizou em setembro 2014 ao renunciar à cadeira de deputado. O político retomou a cátedra de Química na Complutense de Madri, mas continuou a colaborar com o partido e a comparecer a eventos de campanha. Em dezembro de 2018, Pedro Sánchez sondou Rubalcaba para apresentar sua candidatura a prefeito de Madrid, mas ele não aceitou a proposta.
Sobre o exercício da política, ele disse em 2018 a El País que "a política é muito mais hostil do que jamais foi, mas não tanto pelos agentes ou circunstâncias externas como pela própria endogamia e seus mecanismos autodestrutivos. Cão morde cão. Há um custo que é o mais difícil de todos: o desgaste pessoal e do seu entorno, sua gente, sua família. Quando me despedi no último comício em Solares, meu primo, completamente alheio à política, me disse: você não sabe como foi difícil todos esses anos ter o sobrenome Rubalcaba".
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