Em discurso, Maduro convoca apoiadores para debater mudanças no regime
Guaidó, por sua vez, quer manter a oposição mobilizada nas ruas e pede uma greve geral para aumentar pressão sobre Governo
As notícias políticas da Venezuela são uma montanha-russa há anos. Mas os sobressaltos costumam acontecer entre etapas de rotina cheias de incógnitas. Juan Guaidó procura quebrar essa dinâmica agora, depois de ter libertado na terça-feira da prisão domiciliar, com a ajuda de um grupo de militares, o opositor Leopoldo López e convocado a população para ir às ruas. Ele quer manter a mobilização viva para aumentar a pressão sobre Nicolás Maduro. O chefe do Legislativo, reconhecido como presidente por mais de 50 países, apelou quarta-feira para a exaustão dos trabalhadores, asfixiados pela gestão econômica desastrosa do chavismo, e chamou uma greve geral durante o 1º de maio.
"Amanhã vamos apoiar a proposta que nos foi feita de greves escalonadas até chegarmos a uma greve geral", disse Guaidó, que há dois meses comandou uma greve de funcionários públicos, setor tradicionalmente ligado ao Governo. "Hoje é um dia histórico para o país neste início da fase definitiva da Operação Liberdade. Vimos que a pressão, o protesto, gera resultados ", disse ele. Pouco depois, Maduro, que apenas havia falado por Twitter ao longo do dia, fez um discurso. O sucessor de Hugo Chávez estava apoiado pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino, e pelo chefe da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, o número dois de Chávez.
Em seu pronunciamento, o presidente alertou que "não pode haver impunidade". "Deve haver justiça para que haja paz", disse ele. Madura exigiu lealdade absoluta aos soldados, disse que a maioria dos militares que apoiaram a ação de Guaidó o fizeram sob falsos pretextos e que estão sendo investigados pelo Ministério Público. Ele atacou Guaidó e López com várias desqualificações, embora não os tenha ameaçado abertamente.
O presidente venezuelano tentou mostrar uma imagem de unidade no chavismo. E aproveitou a marcha de 1º de maio, para a qual foram convocados funcionários do Estado e militantes pró-governo, para enfatizar que seu Governo ainda tem controle sobre as engrenagens do Estado e está longe de ser expulso do poder. "Ficou demonstrado que interferência, golpe e confronto armado, não são o caminho para a nossa amada Venezuela. O caminho para resolver as diferenças será sempre a constitucionalidade e o respeito mútuo. Nós, patriotas, vamos superar a violência e vamos ganhar a paz ".
O discurso teve um tom diferente dos anteriores. O líder chavista reconheceu que a revolução precisa "urgentemente" de mudanças e retificações. Também conclamou os venezuelanos a projetar "um grande plano de mudança sem retificações" nos próximos dias 4 e 5 de maio. "Todos os dias penso em como podemos melhorar, que coisas temos que mudar que estamos fazendo de errado. Quero convocar um grande dia de diálogo e proposta para que eles possam dizer a esse Governo o que deve mudar".
Segundo dia de protestos
Esta quarta foi mais um dia de demonstração da incerteza pela qual o país está passando. Milhares de pessoas se reuniram a partir do meio da manhã na Praça Altamira, um símbolo das manifestações contra Chávez e em outros pontos a leste da capital. Os confrontos deixaram dezenas de feridos em Caracas. A tensão disparou nas proximidades da base aérea de La Carlota, com a liberação de gás lacrimogêneo. À tarde, os confrontos se transformaram em uma batalha campal. Foi neste mesmo local que na terça-feira Guaidó anunciou de surpresa a libertação de Lopez, que em questão de horas passou de sua prisão domiciliar para se refugiar na embaixada espanhola em Caracas.
Esta operação, que só foi possível com o apoio de um grupo de militares e do Serviço de Inteligência Bolivariana (Sebin), poderia ter sido decisivo para desencadear uma revolta da população e uma divisão militar. Mas não aconteceu, provavelmente devido à má administração dos tempos e a uma confiança excessiva na resposta das forças armadas. Guaidó, no entanto, não se resignou e tenta redobrar o desafio para Maduro, já que na opinião dele não há como voltar atrás.
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