Ex-vice-presidente de Cristina Kirchner volta à prisão
Amado Boudou, condenado por corrupção, perde benefício da liberdade vigiada por risco de fuga
Amado Boudou voltou à prisão na segunda-feira. Um tribunal argentino de segunda instância revogou a liberdade vigiada que possuía o vice-presidente da época de Cristina Kirchner desde 11 de dezembro, quando foi permitido que esperasse em casa, com uma tornozeleira eletrônica, a revisão pedida da condenação a cinco anos e 10 meses recebida por corrupção. Boudou se apresentou nos tribunais federais por volta de meio-dia e de noite a polícia o levou ao presídio de Ezeiza, na periferia de Buenos Aires. Os juízes não trataram a questão principal: ou seja, a apelação da sentença apresentada pelo ex-vice-presidente, que fica para abril.
De acordo com a sentença de segunda-feira, Boudou ainda possui poder suficiente para planejar uma fuga e obstruir o trabalho dos juízes que devem confirmar ou revogar a sentença que em agosto o mandou à prisão. A sentença destacou “a forma prepotente e ameaçadora” que o vice-presidente do kirchnerismo mostrou durante o processo. A defesa do número dois de Cristina Kirchner, por sua vez, afirmou que não havia motivos para revogar a liberdade provisória porque seu cliente se apresentou sempre que os juízes pediram.
Durante sua liberdade, que durou pouco mais de dois meses desde a sentença, Boudou se manteve discreto e evitou falar publicamente de política. Dessa forma ficou à margem das questões internas do peronismo, submerso em uma discussão ainda silenciosa pelo nome que o representará nas eleições gerais de outubro. A grande dúvida é se Cristina Kirchner concorrerá ou não à outra presidência. Sua candidatura depende, em boa parte, do avanço das investigações judiciais que enfrenta por suposta corrupção durante seu mandato. O processo mais avançado, que investiga supostos favores na concessão de obras públicas em troca de propinas, já tem data para o julgamento oral. Tudo estava pronto para colocar Cristina Kirchner diante de um tribunal em 26 de fevereiro, mas na segunda-feira a primeira audiência foi adiada para abril, por um problema de saúde de um dos juízes do tribunal.
Boudou é o cargo de maior escalão do kirchnerismo preso por corrupção. Foi ministro da Economia entre 2009 e 2011 e vice-presidente durante o segundo mandato de Cristina Kirchner. Em 7 de agosto do ano passado, os juízes o declararam culpado no caso Ciccone, um processo que investigou o resgate pouco claro de uma empresa de impressões falida que obteve gordos contratos para a emissão de notas de 100 pesos.
De acordo com a sentença, ficou provado que Boudou intercedeu em 2010 para que o escritório de impostos (AFIP) levantasse um pedido de quebra contra a Ciccone, a empresa de impressões privada mais importante do país, encurralada por uma dívida milionária contra o fisco. Em troca, o ministro ficou com 70% da empresa, segundo a sentença, através do empresário Alejandro Vandenbroele, que operou como seu testa-de-ferro. Nesse esquema, Vandenbroele se limitou a “acatar as ordens” recebidas por Boudou através de intermediários. A Ciccone conseguiu após o resgate o certificado fiscal que permitiu que se transformasse na principal fornecedora de notas do Estado, acima até mesmo da Casa da Moeda.
O caso Ciccone começou em fevereiro de 2012 com o depoimento de Laura Muñoz à imprensa, ex-esposa de Vandenbroele. A mulher disse que seu marido era um testa-de-ferro de Boudou e que a conexão entre eles foi feita através de José María Núñez Carmona, amigo pessoal do ex-vice-presidente. Vandenbroele foi uma peça fundamental da investigação porque estava ligado ao fundo de investimento The Old Fund, que ficou com a propriedade da Ciccone após o fim da quebra, pelo menos na documentação. Para os juízes, o verdadeiro dono da empresa era Boudou, algo que o acusado negou totalmente em suas últimas palavras aos juízes.
Se já chegou a ter pretensões presidenciais, a estrela de Boudou foi se apagando enquanto empilhava problemas nos tribunais. A investigação mais grave sempre foi o caso Ciccone, mas chegou a ter 54 processos, de acúmulo de infrações de trânsito (110 por excesso de velocidade) ao uso indevido de um helicóptero do Estado para viagens proselitistas.
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