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A busca por cinco parentes que estavam no limbo das estatísticas de Brumadinho

Mãe busca dois filhos, a nora grávida, o ex-marido e a atual mulher dele que estavam em uma pousada destruída pela lama. Eles não constavam na lista de desaparecidos

Da esquerda para direita: Maria de Lurdes da Costa Bueno e Adriano Ribeiro da Silva (primeira fileira); Camila Taliberti Ribeiro da Silva, Luiz Taliberti Ribeiro da Silva e Fernanda Damian, grávida de cinco meses de Lorenzo.
Da esquerda para direita: Maria de Lurdes da Costa Bueno e Adriano Ribeiro da Silva (primeira fileira); Camila Taliberti Ribeiro da Silva, Luiz Taliberti Ribeiro da Silva e Fernanda Damian, grávida de cinco meses de Lorenzo.Arquivo pessoal
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“Os dias e as horas vão passando, mas não queremos jogar a toalha”, conta Vagner Diniz ao lado da mulher, a economista Helena Taliberti. Os dois estão em busca de cinco parentes que estavam na pousada Nova Estância Inn, atingida pelo tsunami de lama e rejeitos após o rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, na última sexta-feira, que deixou ao menos 84 mortos e 276 desaparecidos.

O casal, que é de São Paulo, chegou com mais um grupo de familiares a Minas Gerais no sábado e começou uma verdadeira peregrinação por diversos lugares e hospitais para conseguir notícias dos dois filhos de Helena, Luiz, 31, e Camila, 33, da nora grávida de 5 meses, Fernanda Damian de Almeida, 30, do ex-marido, Adriano Riveiro da Silva, 60, e da mulher dele, Maria de Lourdes Ribeiro, 59. Todos viajaram à região de Brumadinho para conhecer o museu de arte contemporânea Inhotim. Luiz e a noiva moram na Austrália, mas vieram passar as férias no Brasil para se reunir com a família e fazer um chá revelação do sexo do bebê Lorenzo. O corpo de Luiz foi encontrado nesta quarta-feira. "A Vale matou meu filho", desabafou Diniz no Facebook.

O dono da pousada, o empresário Márcio Mascarenhas, fundador da rede de escolas de idioma Number One e o filho dele, Márcio Mascarenhas Filho, também desapareceram após a lama devastar o local. A esposa de Márcio, Cleo Mascarenhas, que estava na hospedagem foi achada sem vida e sepultada nesta terça-feira em Belo Horizonte. Os bombeiros estimam que cerca de 35 pessoas se encontravam na área da pousada na hora do rompimento da barragem. "Conseguimos fazer o acesso à pousada, fizemos varreduras por meio de coordenada geográfica, só que realmente ela foi movida de tão grande que foi o impacto. A edificação foi destruída", disse o porta-voz da corporação tenente Pedro Aihara.

A Vale matou meu filho. Há quatro horas fomos avisados que encontraram o seu corpo. Ele ia ser pai do meu primeiro...

Gepostet von Vagner Diniz am Dienstag, 29. Januar 2019

Limbo dos desaparecidos

Assim que soube da tragédia, Helena tentou diversas vezes ligar para cada um dos familiares, mas não obteve qualquer resposta. Com o passar das horas, a agonia só aumentou já que ela não conseguia encontrar os nomes dos parentes nas listas dos desaparecidos, divulgadas pela Defesa Civil e a Vale. A família estava numa espécie de limbo: como ninguém era funcionário ou terceirizado da mineradora nem morador da região, as autoridades desconheciam o desaparecimento dos cinco. Os nomes tampouco eram encontrados nas listas dos hospitais.

Quando chegou à capital mineira, Helena foi direto à Academia da Polícia Civil registrar um boletim de ocorrência. No hotel, encontrou um representante da mineradora e pediu que o nome dos entes queridos fossem adicionados às listas de pessoas que não tinham sido encontradas após a tragédia. Logo depois, viajou para Brumadinho. A Vale, no entanto, demorou três dias para finalmente incluí-los como desaparecidos. "É um absurdo este descaso, tivemos que fazer cinco cadastros e só conseguimos no domingo de noite. Precisei acionar um amigo deputado para me ajudar. O que é isso? Eu tenho esse contato, mas e quem não tem? ", diz Helena. "A verdade é que você chega aqui e eles te perguntam: os familiares são da Vale? Aí você já sente algo...porque, se era da Vale, era um tratamento e, se não, era outro. Isso é complicado", desabafa Wagner.

Foto enviada por Camila ao namorado por volta das 11h15 da sexta-feira (25) da pousada Nova Estância, em Brumadinho.
Foto enviada por Camila ao namorado por volta das 11h15 da sexta-feira (25) da pousada Nova Estância, em Brumadinho.Arquivo pessoal

Na tentativa de encontrar o mais rápido possível pistas sobre o paradeiros dos filhos e parentes, o casal entrou, no sábado, com uma liminar para rastrear os celulares dos cinco. O acesso foi dado, no entanto, apenas na segunda-feira. "No sábado, todos os celulares tinham bateria, você acha que três dias depois ainda vai ter? Impossível, não conseguimos encontrar o sinal", diz indignada Helena.

Outra alternativa que o casal ainda tenta é pedir junto às montadoras de automóveis ajuda para acessar os rastreadores do veículo. “O carro tinha rastreador. Não sabemos como fazer isso, mas as montadoras precisam liberar informações”, conta Wagner. "Num momento de tragédia, as pessoas deveriam estar liberando esforços, se oferecendo para ajudar, mas a realidade é que você precisa ir à justiça para pedir várias coisas", completa.

Enquanto vivem essa longa e agoniante espera por alguma novidade, os familiares tentam reunir por conta própria diferentes pistas para saber onde os desaparecidos estavam quando a barragem se rompeu. A última notícia concreta que Helena tem é a mensagem de Camila ao namorado que estava em São Paulo. “Por volta das 11h30, minha filha mandou uma mensagem de celular com a imagem da janela da pousada para o namorado. Toda nossa esperança era que entre 11h50 e 13h30 eles tivessem saído do lugar”, afirma. Mas, ao entrar em contato com uma recepcionista da pousada, que tinha saído para almoçar fora da hospedagem e acabou escapando do tsunami de lama, ela confirmou que os hóspedes continuavam ainda no local.

O casal não pensa em sair de Brumadinho sem uma resposta ou confirmação. Helena não quer nem ver as fotos do lugar devastado para não se desesperar, prefere focar no fio de esperança que ainda lhe resta. O marido que considera os filhos de Helena como seus também luta para que a tragédia seja explicada, segundo ele, como as palavras certas. "Isso aqui é um assassinato com assinatura. Meus filhos e meu neto estão soterrados porque alguém cometeu esse crime, eles foram assassinados", diz. "Acidentes acontecem, você pode cair e escorregar. Mas assassinato é provocado", completa.

O desgaste da família não termina nem quando um de seus parentes é identificado. Diniz conta que eles terão de ir ao cartório registrar de óbito de Luiz. O corpo será levado para o Crematório Renascer, em Contagem, porém precisa de autorização judicial para cremação. "Estamos nessa batalha em BH. Mais uma longa burocracia, tudo em papel, repetindo os mesmos dados que a polícia já tem", afirma.

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