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Prefeito de Mariana: “Nós somos enrolados pela Vale”

Duarte Júnior (PPS) critica morosidade da mineradora em pagar compensações acordadas para a população

Vídeo: Andre Penner (AP) / Alexandre Araújo

"Quando soube do rompimento da barragem do Feijão, quase não acreditei. Não era possível!", afirma o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS). Três anos atrás ele foi testemunha do maior desastre ambiental do país. Agora, a situação se repete em Brumadinho, envolvendo novamente a mineradora Vale. "Nós somos enrolados [pelas mineradoras]. Eu quero contribuir para que Brumadinho não seja enrolado. As respostas das indenizações das pessoas tinha que vir mais rápidas", afirmou em conversa com o EL PAÍS.

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Pergunta. Qual sua reação quando ficou sabendo do rompimento de mais uma barragem em Minas?

Resposta. Quando soube do rompimento da barragem do Feijão quase não acreditei. Não era possível. A segunda maior mineradora do mundo, que passou pelo aconteceu em Mariana, repetindo o erro. Infelizmente, estamos passando pelo mesmo pesadelo que passou Mariana três anos atrás e pior, porque Mariana foi um dano ambiental gigante, mas aqui estamos percebendo que o dano maior são as vidas. É inadmissível, é inaceitável, é um total sentimento de revolta. Agora a população de Brumadinho vive o que vivemos lá atrás, aquela falta de informação, a tristeza das pessoas em perceber que o ente querido tem uma grande possibilidade de não voltar mais. É uma revolta muito grande que a gente percebe da população e da gente viver isso de novo. O capitalismo tem que ter muito cuidado, porque é preciso respeitar a vida humana.

P. Sua vinda ao local também é para auxiliar a prefeitura de Brumadinho na gestão dessa crise?

R. Primeiro de tudo eu vim por solidariedade, as pessoas precisam desse carinho e respeito. Mariana foi abraçada pelo país como Brumadinho está sendo aqui. Eu me senti na obrigação de retribuir um pouco do apoio que recebemos. E é claro que com o que passamos lá, acabamos tendo uma experiência maior. Eu sei os desafios passo a passo que essa população vai enfrentar . No primeiro momento, essa tristeza e essa dor da perda de pessoas amadas, mas daqui a pouco vai ter o sofrimento de perda de receita, de falta de emprego, obrigação de manter serviços como saúde e educação, pagamento em dia. É um problema enorme que Brumadinho vai enfrentar e eles precisam ir se organizando, porque essa tragédia só se inicia. Mariana são três anos e ainda não terminou.

O prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS)
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS)Alexandre Araujo

P. Como está a situação atual de Mariana. O que a Vale que é uma das acionistas da Samarco já fez para reparar o rompimento de Fundão?

R. O nosso sentimento é de total insatisfação com BHP e Vale, não há nenhuma medida compensatória que foi constituída no Termo de Ajustamento de Conduta. O que é decidido neste termo, mas eles não concordam, simplesmente não é posto em prática. Nós somos enrolados. Eu quero contribuir para que Brumadinho não seja enrolado. As respostas das indenizações das pessoas tinha que vir mais rápidas. Infelizmente não foi o que aconteceu em Mariana, onde o município perdeu mais de 250 milhões de reais. A única coisa que as empresas falaram é que não existe tributo cessante, que esse agora é um problema de Mariana. Vão fazer o mesmo com Brumadinho? E aí? A dependência de Brumadinho é muito grande em relação ao recurso financeiro que vem da mineração.

P. E o que fazer com essa dependência das cidades com a mineração? Gostaria que a Samarco voltasse a operar em Mariana?

R. É preciso diminuir a dependência financeira, buscar novas soluções. Mas não adianta eu pedir isso hoje. Aqui ainda é a principal receita. Isso é um trabalho a médio, longo prazo. O que eu digo, desde que a tragédia de Mariana aconteceu é, se eu fosse prefeito aonde a mineração estivesse chegando, seria contrário. É uma falsa impressão de riqueza. Você acha que está aumentando a receita, mas está trazendo é problemas. Mas hoje em Mariana ela é um mal necessário. É necessária para criar empregos. Mariana, a passos lentos, está tentando desvencilhar dessa dependência, mas há dificuldade de achar essa diversificação. A medida que hoje temos para diminuir a situação dramática que vive Mariana é sim o retorno da Samarco. É claro, hoje as nossas barragens são as mais seguras do mundo após o desastre. Mas e as outras barragens? Será que está acontecendo? Essa semana tiramos a prova que não. Acabamos de ter um segundo rompimento. Dá para admitir isso? Infelizmente a tragédia de Mariana não ficou de exemplo para o Brasil.

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