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Trump usa ‘dreamers’ como moeda de troca para o muro

A proposta do presidente, que busca terminar com a paralisação dos funcionários públicos, foi rejeitada pelos democratas

Yolanda Monge
Donald Trump, neste sábado na Casa Branca.
Donald Trump, neste sábado na Casa Branca.Alex Brandon (AP)

“De uma forma ou de outra”. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou neste sábado que, como candidato à Casa Branca, prometeu que daria um jeito no sistema migratório e chegou a dizer que, se não conseguia, era por causa da oposição democrata. Foi uma clara tentativa de mudar o ciclo, de colocar a bola no campo adversário e fazer com que a paralisação do Governo, que neste domingo completa 30 dias e mantém mais de 800.000 funcionários públicos sem salário, deixe de ser responsabilidade sua, e sim da oposição. A reposta democrata não demorou: a presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, disse que não aceitava a jogada.

O presidente dos EUA vive alheio às notícias. Em nada menos que três ocasiões nos últimos dois anos, os democratas rechaçaram o preço imposto por Trump ao futuro dos jovens conhecidos como dreamers (“sonhadores”, os que entraram sem documento quando eram crianças e cresceram nos EUA) em troca da aprovação dos recursos para a construção do muro na fronteira com o México. Embora os democratas tenham sempre rejeitado a proposta para devolver a legalidade – após o fim do programa que permitia a permanência legal dos dreamers nos EUA –, o mandatário voltou a usar esses 800.000 imigrantes como reféns de sua negociação.

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Desta vez, Trump incluiu em sua oferta um adiamento de três anos para evitar a deportação dos beneficiários do programa DACA (Ação Diferida para os Chegados na Infância, na sigla em inglês). Também ofereceu uma medida similar para os afetados pelo cancelamento de outro amparo migratório, o TPS (Status de Proteção Temporária), que protege mais de 400.000 imigrantes contra a deportação.

Embora não costume fazê-lo, o presidente foi muito sutil na hora de enumerar o que parecia ser um amplo e congruente pacto migratório em troca de um muro que soava a poesia, já que não se tratava de lacrar com tijolo e cimento uma fronteira de 2.000 quilômetros de costa a costa, mas de construir uma barreira de ferro em certas zonas que seria quase inócua.

Mas mesmo antes de o presidente falar à nação, e graças a um vazamento à imprensa, Pelosi qualificou a proposta como “inaceitável”. “Não é uma tentativa de boa-fé para restabelecer a confiança na vida das pessoas” e possivelmente não será aprovada na Câmara de representantes (de maioria democrata) nem no Senado (de maioria republicana).

Sem chefe de Gabinete para determinar uma estratégia e recluso na Casa Branca, assediado por informações de um veículo de comunicação que dizem que seu ex-advogado Michael Cohen lhe ordenou que mentisse no Congresso sobre seus negócios na Rússia, Trump tenta mudar a narrativa a cada minuto para tentar assumir o controle do momento político. Após quase um mês de paralisação do Governo, o presidente fez na sexta-feira dois anúncios relevantes.

O primeiro: no final de fevereiro, haverá uma nova cúpula Washington-Pyongyang. O segundo: às 15h deste sábado (hora local), ele difundiria uma mensagem de suma importância para a segurança nacional, relacionada com a fronteira. Especulou-se que o mandatário se dispunha a declarar a emergência nacional. Finalmente, porém, houve pouca novidade em seu pronunciamento. Quase não houve nem notícia.

A proposta presidencial de fazer um pacto com os democratas para acabar com a paralisação teria sido traçada durante conversas entre o vice-presidente, Mike Pence, o líder republicano no Senado, Mitch McConnel, e o genro e assessor do mandatário, Jared Kushner, que hoje parece um chefe de Gabinete da Casa Branca nas sombras.

Em sua conta do Twitter, o presidente marcou a difusão da mensagem para as 15h. Neste sábado, contudo, em um comunicado que não justificava os motivos do atraso, a Administração informava que seu discurso seria finalmente às 16h. Trump passou parte da manhã em Dover (Delaware), lugar ao qual chegam os soldados mortos em combate. Foi até lá para se reunir com as famílias de quatro soldados norte-americanos falecidos nesta última semana em um atentado jihadista no norte da Síria.

Depois, Trump compareceu à cerimônia de cidadania de cinco futuros norte-americanos. Em seu discurso, deixou claro que essa era a única imigração que aceitava. E juntou de novo a crise humanitária que se vive na fronteira com o narcotráfico, a crueldade dos traficantes de pessoas e o crime que vem de fora.

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