Ano de queda da balança comercial, à espera de boas notícias do exterior

Crise na Argentina interfere na balança brasileira. CNI estima que déficit em transações correntes deve chegar a 3% do PIB

Brasília -
Xi e Bolsonaro em encontro no Itamaraty, em novembro.ADRIANO MACHADO (REUTERS)

A balança comercial brasileira registrou até o fim de novembro uma queda de 4,7% entre os meses de janeiro e novembro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018. Dados do Ministério da Economia mostram que o país exportou e esta,6 bilhões de dólares em produtos no ano de 2019, contra 388,2 bilhões de dólares no ano passado. Quando se separa exportação de importação, nota-se que houve uma queda de 6,8% nas vendas ao exterior e de 2,1% nas compras.

Na avaliação de economistas e da Confederação Nacional da Indústria, a redução é uma tendência mundial, principalmente por causa do conflito comercial entre os Estados Unidos e a China. Além disso, crises políticas ou econômicas de parceiros regionais do Brasil interferiram nessa queda da balança. “A Argentina está em crise econômica. O Chile enfrenta uma instabilidade política forte. E a Venezuela está há quatro anos numa crise profunda. Uma hora essa conta chegaria ao Brasil”, afirmou o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB).

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As vendas para a Argentina entre janeiro e novembro caíram de 14,2 bilhões de dólares em 2018 para 9 bilhões de reais no mesmo período deste ano. As importações, por sua vez, ficaram em 9,6 bilhões, contra 10 bilhões em 2018. Assim, passamos de um saldo comercial com os argentinos no ano passado, para um déficit. A Argentina também caiu de terceiro para quarto parceiro comercial este ano. Em dois anos, houve uma perda de 50% nas vendas para o país vizinho.

Os chineses, por sua vez, seguem sendo os principais parceiros comerciais do Brasil. Eles movimentaram 370,6 bilhões de dólares neste ano. Parte disso, contudo deve se reduzir nos próximos meses, em cerca de 10 bilhões de dólares, pelo menos. A projeção foi feita pela Universidade Insper, e leva em conta os principais produtos agrícolas brasileiros que deixariam de ser vendidos para a China caso seja cumprido o acordo entre chineses e americanos. Uma das medidas anunciadas pelos dois governos foi o de que a China deveria elevar a importação do agronegócio americano. O impacto ao Brasil seria direto.

Analisando a redução dos valores das importações, surgem duas hipóteses, na avaliação de Oreiro. A primeira é que o câmbio desfavorável tem feito com que os compradores substituam produtos importados por nacionais equivalentes. O dólar sofreu uma brusca variação no Brasil. Começou o ano valendo R$ 3,80 e agora terminou novembro custando R$ 4,24. A segunda hipótese, que ele aponta ser menos provável, é que o Brasil pode ter conseguido fazer melhores negócios, comprando a mesma quantidade de produtos com preços mais baixos.

Os dados oficiais demonstram que os negócios caíram com oito dos dez principais parceiros comerciais brasileiros. Só houve um aumento nos negócios com os Estados Unidos, que cresceu 4,3% e com o Japão, elevação de 7,2%. No caso dos japoneses, o resultado se deve principalmente a um aumento de 18% nas exportações. Já com relação aos americanos, seu segundo principal parceiro, Brasil passou a importar 5,9% a mais neste ano. “Quando o governo Jair Bolsonaro se aliou ao de Donald Trump, esperava-se que houvesse uma elevação considerável dos negócios entre os países, mas isso não aconteceu e nem vai acontecer. A preocupação de Trump é a China”, avaliou Oreiro.

Nesse cenário, o informe conjuntural da CNI publicado na semana passada chegou à seguinte conclusão: “O fraco desempenho da balança comercial ao longo do ano comprometeu as contas do balanço de pagamento e acentuou o déficit em conta corrente. O déficit em transações correntes deve alcançar 55 bilhões de dólares, aproximadamente 3% do PIB”. O déficit corrente é a diferença entre o que o país gastou e recebeu em suas transações internacionais (relativos ao comércio exterior, renda e transferências/empréstimos internacionais).

Assim, o ano deve fechar com os piores dados desde dezembro de 2015, quando o déficit era de 3,03% do PIB, conforme dados do Banco Central . Ou seja, há quatro anos, o Brasil não registrava dados tão negativos nas importações e exportações de bens e serviços. Os dados são tabulados pelo BC desde o ano de 2009.

Inércia em 2020, futuro promissor

José Augusto Castro, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exportadoras (AEB) projeta que em 2020 o país vai manter essa inércia, com queda nas importações e exportações. “Temos de buscar outros mercados para este momento, ainda mais com a Argentina em crise”, diz Castro. Apesar do momento de baixa, o presidente da AEB está otimista com o longo prazo. Para ele, o acordo da União Europeia e Mercosul, firmado em maio, traz uma perspectiva decisiva para mudar o padrão do comércio internacional do Brasil. Ele ainda precisa ser ratificado para que entre em vigor e o Brasil tenha acesso aos 200 milhões de consumidores do Velho Continente. Além disso, o Governo está de olho em novos acordos que poderiam dar fôlego às exportações brasileiras, ao mesmo tempo em que a facilitação das importações de outros países vai obrigar as companhias nacionais a se reinventarem para os novos desafios. (Colaborou Carla Jiménez)


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