Chefe do Pentágono renuncia em meio a polêmica com Trump sobre a Síria
Nos últimos tempos, o presidente havia se afastado do general Jim Mattis, um ‘cachorro brabo’, crítico da decisão de retirar tropas do país árabe imediatamente
O secretário de Defesa dos EUA, Jim Mattis, conhecido como ‘cachorro brabo’, um general condecorado e sem melindres em mostrar seus desacordos com o presidente dos Estados Unidos, comunicou sua renúncia nesta quinta-feira, 20, um dia depois do anúncio da retirada das tropas terrestres norte-americanas da Síria. O presidente Donald Trump afirmou pelo Twitter que o chefe do Pentágono se aposentaria com distinção no final de fevereiro, após ocupar o cargo nos dois primeiros anos do seu mandato. O distanciamento entre eles era evidente nos últimos meses, e a gota d’água parece ter sido a polêmica pela retirada no conflito sírio, uma decisão do republicano da qual Mattis discorda.
A carta de demissão dirigida a Trump é dura, mas também faz uma reflexão e uma advertência à nação. Ele argumenta que o presidente precisa de um secretário com “pontos de vista” mais alinhados aos seus, e lança vários dardos contra o mandatário. “Na medida em que os EUA permanecem como a nação indispensável no mundo livre, não podemos proteger nossos interesses ou desempenhar esse papel de maneira efetiva sem manter alianças fortes e mostrar respeito a esses aliados”, afirma.
Mattis, de 68 anos, já estava aposentado das Forças Armadas, depois de passar 40 anos no Corpo de Marines, quando o recém-eleito Trump o escolheu para dirigir o Departamento de Defesa. Era um general respeitado, capaz de inspirar dois apelidos aparentemente tão opostos como “cachorro brabo”, por sua agressividade no campo de batalha, e “monge guerreiro”, por sua bagagem intelectual. A carta de despedida reúne ambas as facetas, a do furioso e a do guerreiro. Seu adeus se soma a uma longa lista de baixas importantes no Governo Trump nos últimos meses, entre demissões voluntárias ou não.
Trump despediu-se do general com boas palavras, destacando os progressos obtidos durante seu mandato na aquisição de equipamentos e em convencer “aliados e outros países a pagarem sua parte nas obrigações de Defesa”. Mas não há nada de amigável neste adeus. Os rumores da saída de Mattis circulavam em Washington fazia tempo, fruto do esfriamento nas relações com o presidente. Em outubro, questionado sobre isso, o republicano não pôde ser mais frio: “Acredito que [Mattis] seja uma espécie de democrata, se você quer que eu lhe diga a verdade”, afirmou o mandatário numa entrevista televisiva. “Pode ser que ele saia, quer dizer, em algum momento todo mundo sai. Todos. As pessoas vão embora. Isto é Washington.”
A retirada da Síria deixou suas diferenças mais claras. O ainda chefe do Pentágono havia advertido que uma retirada prematura das tropas do país árabe poderia “deixar um vazio a ser aproveitado pelo regime de [Bashar al] Assad ou seus apoiadores”. Também lamentou o risco em abandonar os aliados curdos, vulneráveis a um ataque da Turquia. No passado, discordara de outras decisões, de forma mais discreta, como o veto aos indivíduos transgênero nas Forças Armadas ou o custoso desfile militar que o presidente quis implantar nos EUA quando chegou atordoado do dia nacional da França.
À noite, fontes do Pentágono relataram a vários meios de comunicação norte-americanos que Trump também planeja reduzir pela metade a presença militar no Afeganistão, de 14.000 para 7.000 soldados, contrariando o critério dos falcões do seu Partido Republicano e do Governo. Não é difícil supor que isso também gerava receios para Mattis. Nos primeiros meses, o presidente cedeu a seus conselhos. Mas agora apertou o botão de ejeção, e sua prometida guinada isolacionista começa a ganhar forma.
Aquele Governo de generais que Trump criou poucos meses depois de chegar à Casa Branca (com Mattis no Pentágono, John Kelly como chefe de gabinete e H. R. McMaster como assessor de Segurança Nacional) já é história.
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