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Trump prepara a retirada das tropas na Síria

Presidente declara derrota do Estado Islâmico, mas a retirada é vista como prematura no próprio Pentágono e rejeitada pelos ‘falcões’ republicanos

Amanda Mars

Donald Trump decidiu não esperar mais e começará a retirar as tropas norte-americanas da Síria por considerar derrotado o grupo terrorista autodenominado Estado Islâmico. A retirada, que o presidente promete desde antes de chegar à Casa Branca, gera receios dentro do próprio Pentágono, temeroso de um recrudescimento terrorista e de uma maior influência iraniana na região. Após sete anos e meio milhão de mortos, a guerra civil síria continua sendo um barril de pólvora, com múltiplas frentes abertas, e um adeus de Washington deixa várias questões.

Um veículo do Exército dos EUA na Síria
Um veículo do Exército dos EUA na SíriaDELIL SOULEIMAN (AFP)

O caso da Síria será a crônica de uma retirada anunciada – prometida a não mais poder pelo presidente norte-americano até finalmente se dar. O democrata Barack Obama chegou ao Salão Oval em 2009 com a promessa de terminar os combates no Afeganistão e Iraque, e saiu sem ter conseguido se livrar de ambos os conflitos. Trump não quer o mesmo legado. Fontes anônimas do Departamento de Defesa informaram nesta quarta-feira, 19, que o Governo está planejando a retirada imediata e total dos aproximadamente 2.000 soldados mobilizados no território, uma medida polêmica em Washington, mas que o próprio presidente se encarregou de confirmar de forma implícita em sua conta do Twitter: “Derrotamos o Estado Islâmico na Síria, a única razão para estar ali durante minha presidência”, escreveu.

Não há, entretanto, informação clara sobre a data ou o ritmo dessa retirada. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse em nota que alguns militares já começaram a voltar para casa no marco de uma “transição para a próxima fase desta campanha”. Enquanto isso, um porta-voz do Pentágono ressaltou que por enquanto o Exército continua trabalhando com seus parceiros na região. “A coalizão liberou o território das mãos do EI, mas a campanha contra o EI não acabou”, disse. O assunto tinha aparecido pela manhã nas páginas do The Wall Street Journal, que antecipou a retirada dos efetivos no nordeste da Síria, onde, junto com a área centro-norte, sob controle curdo, concentra-se a maior parte do contingente norte-americano desde 2015. Depois, fontes da Defesa informaram em diversos veículos de comunicação que a decisão já estava tomada ou em consideração, mas que os bombardeios contra o Estado Islâmico continuariam.

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A diferença de matizes e a falta de precisão quanto a prazos reflete, sobretudo, uma divisão na Administração. Vários falcões republicanos no Congresso, como Marco Rubio e Lindsey Graham, também criticaram a medida, qualificando-a como “erro colossal”. Altos funcionários do Pentágono temem que uma retirada das tropas sirva para que o Irã e a Rússia ganhem influência na zona e estimule um recrudescimento do EI, porque, embora o califado fundado por Abubaker al Bagdadi tenha sido derrotado, milhares de jihadistas permanecem no deserto fronteiriço entre a Síria e o Iraque. Além disso, a retirada norte-americana deixa em perigo as tropas curdas, aliadas do Exército norte-americano, e as tropas árabes que compõem as chamadas Forças Democráticas Sírias. A Turquia qualifica como terroristas esses grupos curdos, que controlam um terço da Síria.

A disputa interna em Washington já se mostrava evidente no mês de abril. “Quero ir embora. Quero trazer nossas tropas de volta a casa, começar a reconstruir nossa nação”, disse Trump, garantindo que a decisão sereia iminente. No dia seguinte, porém, a Casa Branca matizou que a presença militar norte-americana se manteria enquanto não fosse erradicada a “pequena presença do EI” remanescente na área.

Nesta quarta Trump considerou o EI definitivamente derrotado na Síria, mas o próprio chefe do Pentágono discorda. Em setembro passado, em declarações à imprensa, Jim Mattis alertou que “se livrar do califado não significa dizer às cegas ‘Ok, nos livramos’, ir embora e então se perguntar por que eles voltam”.

Independentemente da data ou do ritmo da retirada, as declarações desta quarta-feira evidenciam que a presença militar norte-americana tem um prazo muito limitado na Síria, apesar dos ataques que Trump desferiu contra o regime de Bashar al Assad em 2017 e 18 como resposta a supostos ataques químicos contra a população. Washington deixou claro que seu objetivo não é derrubar Assad, e sim o EI, e que já deseja fazer as malas.

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