‘Contos dos Orixás’ transforma divindades afro em super-heróis de gibi
Após financiamento coletivo, projeto de quadrinhos que busca quebrar preconceitos é lançado
Um homem negro, forte com superpoderes. Poderia ser o Pantera Negra, mas aqui é o Rei Xangô, protagonista de Contos dos Orixás. O livro (Graphic Novel) de 120 páginas traz histórias de mitos do povo Yorubá no estilo dos heróis em quadrinhos da Marvel. O projeto do quadrinista Hugo Canuto, 32 anos, começou em 2016. Primeiro, com pôsteres e revistas. Dois anos e meio depois, acaba de ficar pronta a história em quadrinhos com narrativas cheias de ação com Yemanjá, Iansã , Oxum e outros. O lançamento será em São Paulo, no CCXP (Comic Con Experience), no São Paulo Expo, na Rodovia dos Imigrantes, km 1,5, que acontece de quinta-feira (6/12) até domingo (9/12).
O Contos dos Orixás só foi possível por um financiamento coletivo bem sucedido pela internet. Embora a campanha ainda esteja no ar até 18 de janeiro de 2019, no Catarse, o crowdfunding que era de 20.000 reais atingiu três vezes essa meta. Dependendo do valor da colaboração, é possível receber revistas impressas e o livro em casa. Como Hugo consegui mais do que esperava, decidiu destinar parte do recurso para programas sociais de Salvador, sua cidade natal. Também serão doados 100 exemplares para espaços culturais.
O apoio veio principalmente do mundo dos quadrinhos e de muitas comunidades religiosas que cultuam os orixás como Candomblé, Umbanda e Santeria Cubana. “Tratamos o tema com respeito e cuidado, de modo a honrar a cultura e herança espiritual africanas, não entrar em polêmicas ou expor fundamentos sagrados”, explica Canuto. “Hoje, nosso trabalho é constantemente utilizado como referência em salas de aula, presente em livros didáticos, citado por teses universitárias e exposições em países como Estados Unidos e Inglaterra”.
Apesar de não ser uma obra estritamente religiosa, Canuto sabia da responsabilidade em falar sobre figuras sagradas para tantas pessoas, ainda mais sendo um autêntico soteropolitano. Fez a lição de casa. Visitou terreiros e estudou muito. “Tivemos sugestões, acompanhamento, com destaque para o professor Mawô Adelson S. de Brito, sacerdote e físico, principalmente nas questões da língua e cultura Yorubá, de quem fui aluno”.
Canuto explica que os Yorubá são uma das mais tradicionais civilizações da África Ocidental, originalmente de territórios onde hoje estão a Nigéria, e partes do Benin e do Togo. “Através da terrível diáspora, parte dos saberes disseminou para Brasil e Cuba”, conta. O artista lamenta a falta de representatividade da cultura afro-brasileira no nosso dia a dia. “Acredito no poder da arte e das histórias para transformar mentalidades, desconstruir pré-conceitos e ampliar os horizontes críticos e da imaginação”. Talvez esse seja o super-poder de Hugo Canuto: com um papel, um lápis e uma ideia distribuir mais que revistinhas. Uma ferramenta para dissolver preconceitos. “É um instrumento de força e empoderamento artístico na luta cotidiana por respeito, reconhecimento e resistência seculares”, conclui.
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