_
_
_
_
Eleições Brasil 2018
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

O Atlântico em chamas (Bolsonaro, Trump, Brexit…)

O voto no Brasil é a enésima labareda no incêndio de tudo o que simboliza esse oceano

Andrea Rizzi
Jair Bolsonaro, neste domingo, depois de votar no Rio de Janeiro.
Jair Bolsonaro, neste domingo, depois de votar no Rio de Janeiro.RICARDO MORAES (REUTERS)

A queima do Atlântico avança em alta velocidade. Ondas com faíscas pegam fogo em múltiplas direções em tudo o que esse oceano simboliza em termos históricos e políticos: a relação entre Europa e Estados Unidos; o livre comércio; o respeito às minorias; a influência das famílias políticas democrata-cristã e social-democrata. Tudo arde no triângulo entre Cornualha, Maine e Rio. A chama mais recente é a vitória de Jair Bolsonaro no Brasil. Antes vieram as do Brexit e de Donald Trump. São o sintoma de algo profundo, um mal-estar enorme em relação ao sistema que ditou a sorte do Ocidente nas últimas décadas. O incêndio ainda não é irreversível. Mas é cada vez mais tangível. Vejamos.

A relação Europa/EUA se encontra em seu ponto mais baixo desde a Segunda Guerra Mundial. As discrepâncias entre os dois principais pilares do mundo democrático são múltiplas, da política comercial até a luta contra a mudança climática, das fricções na política militar até a geopolítica (especialmente na atitude com relação ao Irã, mas não só ela). De forma privada, os Ministérios das Relações Exteriores europeus expressam, contundentes, sua insatisfação com a administração Trump. Com frequência, reitera-se que o vínculo entre os dois blocos é forte e pode resistir à passagem de qualquer tempestade temporária. Mas o dano é grave.

Mais informações
STF, dique de contenção para as medidas extremas do militar reformado
Haddad: “Não vamos deixar de exercer a nossa cidadania. Não tenham medo”
Haddad, o professor que não conseguiu conter o antipetismo

O livre comércio também enfrenta um desafio de dimensões desconhecidas nas últimas décadas. É um dos traços que definem o mundo atlântico. O protecionismo de Trump está impondo um golpe que pode mudar sua fisionomia. A União Europeia (UE) permanece aferrada ao conceito, continua negociando acordos de livre comércio, mas a opinião pública de suas sociedades questiona de forma crescente a livre troca de bens e serviços.

Respeito às minorias. A lição aprendida após séculos de intolerância brutal produziu, nas margens do Atlântico, as sociedades com maior grau de respeito às minorias religiosas, étnicas e de orientação sexual. Nada perfeito, mas a humanidade não alcançou patamares melhores. Isso agora sofre uma clara erosão, nas ruas e nos Parlamentos. Os crimes de ódio estão em alta no Reino Unido após o Brexit; inquietantes episódios de violência política marcaram a campanha brasileira; nos EUA, o Governo estuda reduzir direitos dos transexuais; em todas as partes, proliferam surtos de xenofobia, antissemitismo e islamofobia.

Famílias políticas. A social-democracia europeia, que tanta influência teve ao modelar as sociedades atlânticas desde o pós-guerra, encontra-se esgotada e, em alguns países, diretamente em via de extinção. Já a democracia cristã também sofre uma brutal erosão. A lista poderia seguir. A fúria que incendeia o Atlântico tem mil justificativas. A enorme corrupção, a discutível distribuição da riqueza, a precariedade que corrói tudo. As aves fênix que nascem das cinzas da fogueira são Bolsonaro, Trump, Farage e Salvini. Se o incêndio continuar, será preciso buscar um novo nome para o Atlântico, porque será completamente outra coisa.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_