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Real Madrid escolhe o treinador Antonio Conte

O 5 a 1 do clássico obriga Florentino Pérez a negociar com urgência a contratação do técnico italiano e a postergar José Mourinho, sua primeira opção, que continua amarrado ao Manchester United

Antonio Conte, durante uma partido em sua passagem pelo Chelsea.
Antonio Conte, durante uma partido em sua passagem pelo Chelsea.FACUNDO ARRIZABALAGA (EFE)
Diego Torres
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O Real Madrid enviou a primeira oferta formal a Antonio Conte na sexta-feira, propondo que ocupasse a vaga de Julen Lopetegui. O 5 a 1 do clássico contra o Barcelona desencadeou negociações que até este domingo estavam praticamente paralisadas, à espera dos acontecimentos. Segundo fontes da direção do clube, o presidente Florentino Pérez acariciou a ideia de contratar José Mourinho até o último momento. Durante vários dias, os estrategistas do time especularam sobre a possibilidade de ganhar tempo, inclusive mantendo Lopetegui, se o resultado do Barcelona não fosse escandaloso demais. Mas essa alternativa já não existe; foi desaparecendo à medida que a bola entrava no gol de Courtois e conforme o Manchester United vencia o Everton (2 a 1), coincidindo com o desfecho do jogo no Camp Nou.

Agora, os dirigentes do Real esperam fechar o contrato de Conte nesta segunda-feira para apresentá-lo na terça. Enquanto isso, não descartam a hipótese de que Santiago Solari, treinador do Castilla, assuma a equipe principal para comandar o próximo duelo da Copa do Rei, na quarta-feira, em Melilla. Lopetegui, no entanto, ainda não foi oficialmente demitido.

Mourinho e Conte eram os primeiros técnicos na lista de substitutos escolhidos por Florentino Pérez. Durante o verão europeu, foi o diretor-geral do clube, José Ángel Sanchez, que tomou as rédeas e escolheu Lopetegui quando as demais alternativas fracassaram. Agora, quem se encarregou pessoalmente de todo o processo foi o próprio presidente. Fontes próximas dizem que foi um caminho difícil, repleto de incertezas ante uma série de dilemas que nunca levam à solução ideal. Mas o mandatário tinha uma certeza: desta vez, queria um treinador rigoroso, rígido em seus critérios de disciplina. Alguém de reconhecida fama autoritária, capaz de enquadrar um plantel que, vítima da saciedade após conseguir quatro Champions em cinco, perdeu a energia mental necessária para manter um nível competitivo. Florentino Pérez e todos os demais dirigentes estão convencidos de que os grandes culpados da pior série de resultados do clube desde 2007 são os jogadores.

Em junho, o leque de treinadores que rechaçaram a oferta do Real, por ordem de prioridades, foi o seguinte: Joachim Löw, Maurício Pochettino, Jürgen Klopp e Massimiliano Allegri. O quinto da lista foi Conte, que Florentino Pérez descartou para evitar conflitos. É que os jogadores do Chelsea convocados pela seleção espanhola tinham dito a Sergio Ramos que o italiano era um sujeito, em geral, insuportável. Restava então Lopetegui. O presidente do clube não teve outra alternativa. José Ángel Sánchez o chamou e se encarregou da papelada.

A essa altura, o preferido presidencial era Mourinho. Mas o português provocava rechaço entre os veteranos do Real que haviam treinado sob as ordens do português entre 2010 e 2013. Além disso, ele tinha contrato com o Manchester United, e sua tortuosa negociação para abandonar o clube inglês não dá sinais de que avançará muito rápido. A vitória do United sobre o Everton, neste domingo, complicou definitivamente as coisas quando o 5 a 1 do Camp Nou exigia medidas urgentes. Alertada quanto à possibilidade de sofrer uma goleada, a diretoria antecipou o tipo de reação que atinge a massa social no Bernabéu. Mais do que uma crise esportiva, isso desencadeia um terremoto cujas ondas afetam a própria diretoria. A escolha de Conte se acelerou ante a impossibilidade de esperar mais.

Conte reúne as condições que satisfazem Florentino Pérez. Diz o presidente que já estudou sua contratação quando dirigia a Juventus. O homem o atraía. É o que mais se parece com um sargento entre os principais treinadores do mercado. Também é metódico, trabalhador, científico. O tipo de pessoa cujo grau de sofisticação a distancia do molde do técnico tradicional. Na opinião de Pérez, o inconveniente é o seu estilo de jogo. O presidente teme que a torcida merengue não goste de tantos chutões.

Conte é um dos últimos defensores do catenaccio. Com retoques vanguardistas, sua proposta é uma das mais conservadoras que existem. Na Juventus e no Chelsea, imprimiu em seus times uma clara tática defensiva. Trabalhou com base num esquema 5-3-2, restringindo os ataques a manobras simples e diretas. Jogadores como Hazard e Isco, que se agigantam quando estão com a bola, não se sentem à vontade com esse tipo de modelo.

Conte e Mourinho se parecem por sua personalidade e suas ideias futebolísticas. Mourinho, aos olhos do presidente, gozava da vantagem social, fundamental nestes tempos turbulentos. Há uma parte da torcida que ainda sente saudade do português. Esses sentimentos eram uma mina muito aproveitável para ignorar o risco de reclamações dos torcedores. Em seus cálculos, Florentino Pérez contabilizava a má recepção que ele teria entre os jogadores. O presidente enviou seus emissários para sondar o vestiário, e a opinião que lhe chegou dos capitães foi extremamente desfavorável a Mourinho.

Ramos e Marcelo não esperavam nada de bom do técnico português. Eles o consideram vingativo demais para evitar um conflito com um grupo que criticou várias vezes, acusando-o de traí-lo e de provocar sua saída do clube em 2013. A opinião que Ramos tem de Conte não é muito melhor, depois de escutar seus colegas da seleção. Morata, Marcos Alonso, Pedro, Cesc Fàbregas e Azpilicueta o retratam como um chefe arbitrário e imprevisível de um quartel.

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